20/7/2016 08:53

Cristovão completa um mês no Corinthians: 'Me sinto em casa'

Técnico revisita frases de entrevistas de 30 anos atrás e mostra que mantém convicções. Dentro de campo, ele detalha trabalho para buscar primeiro título

Cristovão completa um mês no Corinthians: 'Me sinto em casa'
Cristóvão Borges em página da revista Placar, quando jogava pelo Timão (Foto: Reprodução)

Não espere frases de efeito, palavrões ou grandes “bombas” vindas de Cristóvão Borges. Mesmo assim, ter um papo com o técnico é se encher de tranquilidade mesmo diante de situações adversas. Aos 57 anos, o baiano de Salvador conserva esse sossego desde sua primeira passagem pelo Corinthians, como jogador, entre 1986 e 1987.

Nesta quarta-feira, o técnico completa um mês de sua nova história no Timão com um retrospecto de respeito: quatro vitórias, um empate e uma derrota em seis jogos pelo Campeonato Brasileiro. O segredo? O ambiente que o faz se sentir em casa.

– É uma intensidade absurda. Completo agora um mês, e a sensação que tenho é de que estou há mais de seis meses aqui. Tem a clube ver com a sensação de me sentir bem, em casa, e também a maneira como fui recebido. A intensidade que se vive aqui é muito grande, muito forte, e isso sentimos a todo momento – comemorou o comandante.

Cristóvão trata o Timão como o grande aprendizado de sua vida – há 30 anos e agora. De lá para cá, pouco mudou em sua personalidade, mas aprendeu a usar a calma para lidar com os problemas. Como técnico, ele confirma teses que já defendia quando estava em campo pelo Timão.

Antes de uma conversa de 35 minutos com o GloboEsporte.com, Cristóvão foi convidado a revisitar duas reportagens de edições da Revista Placar – uma de 86, quando começava a brilhar no Timão, outra de 87, quando acabava de se transferir para o Grêmio por falta de acordo financeiro para renovar contrato com o Corinthians. Nelas, frases ditas sobre ele e o clube do Parque São Jorge chamam a atenção. Ele mantém todas as opiniões.

“Não falo abobrinhas e sou objetivo”
– O futebol tem aquelas pessoas que gostam de fazer coisas engraçadas... Não me acho engraçado, não sirvo para isso. Não sou de muita brincadeira, gosto de falar as coisas mais objetivas. Eu já era assim (na época), e isso me ajuda muito como treinador. É importante no nosso meio, tem de ser direto para ter uma relação boa com os jogadores.

“Nenhum jogador sai do Corinthians igual ao que era”
– Confirmo. É isso mesmo. Nessa época, sempre teve a coisa da ligação com a torcida, de ela ser um combustível presente e marcante. Reverberava em nós dentro de campo. Continua assim. Hoje tem uma coisa muito interessante e diferente, para o lado positivo. Percebi que durante o jogo eles jogam junto o tempo todo. Se não gostarem de alguma coisa, reclamam depois. Não era assim, e isso é muito positivo.

“Acho que o Corinthians deveria acontecer na carreira de todo jogador”
– É a intensidade. Estou morando num lugar aqui em São Paulo, e gosto muito de andar, fazer as coisas mais naturais possíveis. Tive de fazer uma foto para um documento, procurei o endereço e saí andando. Fui procurar lugar para almoçar, fui andando... E aí a gente percebe. Na esquina do meu prédio tem um bar, de um corintiano, agora não posso passar lá porque já me cobrou para ir almoçar. Sempre que eu passo, tem alguém que ele indica para fazer uma selfie. Tem palpite, escalação, orientação... Isso é normal.

“Joga-se um ano e se aprende cinco”
– Depois de ter passado aqui, não me assustei mais com as coisas. A intensidade que vivi o Corinthians aos 26, 27 anos, para mim era algo muito grande. O que encontrei dali para frente, encarei com maior tranquilidade. Não tenho a menor dúvida de que quando eu sair daqui de novo, sairei muito melhor. Por causa de todas as lições, de tudo que o clube tem. O que me chamou a atenção foi a importância e interesse pelas relações vividas aqui. É o diferencial

“Não me trataram como acho que merecia, mas acho a maior felicidade ter estado no Corinthians”
– Tive reuniões umas sete vezes com o Vicente Matheus (presidente do Corinthians na época), não teve acordo. Por isso fui para o Grêmio. Tinha a possibilidade de renovar, mas faltou acordo financeiro. Eu queria continuar, mas acabei indo para o Grêmio e tive uma boa passagem por lá também.


No Grêmio, Cristóvão usou as lições que aprendeu no agito do dia a dia do Timão (Foto: Reprodução)

Revisitadas as frases, hora de falar do presente. Durante a entrevista, Cristóvão detalhou o que pensa sobre o momento do Corinthians, a remontagem do time, a responsabilidade de substituir o vencedor Tite e a necessidade de reforços. O objetivo, claro, é buscar o bicampeonato brasileiro da equipe – e seu primeiro título como técnico.

Confira abaixo a íntegra da conversa:

Continuar um trabalho que vinha dando certo te deixa mais tranquilo neste início no Corinthians?
– Isso de tranquilidade é impossível, aqui não existe isso. Você fica aliviado com as coisas acontecendo, mas o trabalho é bem avaliado. Isso diferencia o Corinthians de outros clubes, a preocupação é em avaliar o trabalho, o que está sendo feito, e não outras coisas, redes sociais, coisas assim. Por isso o Corinthians tem essa solidez. Sossegado, tranquilo, isso não existe.

O primeiro mês de Corinthians foi acima da sua expectativa?
– Com certeza. Quando cheguei, era um momento muito difícil. Seria assim em qualquer época que eu chegasse, é uma substituição muito difícil de se fazer. Dar continuidade a um trabalho vitorioso tem um peso, não é fácil. E cheguei numa sequência de jogos com viagens, quarta e domingo. Mesmo assim, conseguimos bons resultados. Isso tem ajudado bastante, e vamos seguir assim porque queremos chegar à ponte.

Os resultados são bons. E o desempenho?
– Normal. Por causa do processo todo, do estágio em que estamos, de descobrir qual a melhor equipe. Naturalmente, existem as oscilações, muitos jogos... Jogamos tempos distintos. No dia que juntarmos dois bons tempos, será o ideal. Temos de jogar bem por mais tempo, temos jogado partes. É natural num processo de amadurecimento e crescimento. Por isso, as vitórias foram bem importantes.

Neste mês, pudemos perceber alguns comportamentos seus que se repetiram. O jogador lesionado que tem volta garantida ao time, a tendência a mexer pouco durante os jogos. São regras suas?
– A primeira parte é regra, deve ser assim. Se o jogador sai por contusão, ele volta e tem de jogar. Mas o futebol também tem circunstâncias. No Cássio e Walter, era um momento delicado, consegui contar com os dois jogadores no mesmo nível. Tive de pensar além da regra normal. Já sobre o time, tem uma estrutura que estou procurando manter porque ainda não temos estabilidade. Quando estivermos jogando uma parte maior equilibrado, fica mais fácil mudar. Por enquanto, não é aconselhável mudar tudo. Você pode criar uma instabilidade, e estamos buscando justamente o contrário.


Cristóvão diz que a experiência no Timão é intensa (Foto: Marcelo Braga)

No caso do Cássio e do Walter, o que pesou mais na escolha do goleiro?
– Chamei os dois e falei o que estou falando para vocês. Disse que reconhecia a regra, é assim que eu faço, mas aquele momento era diferente. Eu tinha de fazer uma escolha pessoal, por isso iniciei com o Cássio. Fui muito claro com eles, entenderam tudo o que eu estava pensando.

Alexandre Pato será titular contra o Figueirense?
– Isso é mais difícil. Ele, André, Cristian... Todos que estão voltando sentem dificuldades. Estão há algum tempo sem jogar. Elias sentiu dificuldades quando voltou no domingo, contra o São Paulo. Todos estão treinando bem. Pato teve uma semana a mais de trabalho para o tempo sem jogar não interferir na performance dele. Com mais essa semana, melhor.

Até agora, Pato não deu certo no Corinthians. Seria uma satisfação pessoal fazer o atacante brilhar no clube? Isso te motiva?
– Não tenho nenhuma motivação especial por isso, minha função é fazer todos eles renderem. Preparo para que eles façam o melhor, ele é assim, o André também, o Rildo... Preparamos todos para que possam fazer o melhor. É assim que o Pato vai nos ajudar. A busca é pelo fortalecimento da equipe. A força é o conjunto.

Como está o ambiente para o Pato? Ele parece animado para jogar...
– Quando ele chegou, definimos a situação dele. Ele falou que queria jogar, ia se preparar e ajudar da melhor maneira possível. O ambiente se faz necessário. Esse é o diferencial do Corinthians. Cheguei aqui e me senti em casa no primeiro dia, estava à vontade na primeira semana. Todo mundo aqui é bem recebido. Ele está à vontade, contente.

A vice-liderança no Brasileiro surpreende muita gente, já que o clube perdeu muitos jogadores. O Corinthians ainda precisa de reforços? Se sim, reforços para compor elenco ou jogar?
– Isso depende do momento que você vive. Tínhamos muitos jogadores machucados, o Pato não estava aqui... Precisávamos mais de reforços. O Corinthians tem de dar respostas imediatas sempre. Continuamos trabalhando, pesquisando e fazendo contatos. Mas, como agora conseguimos recuperar quase todo mundo, não temos aquela urgência. Continuamos ligados, mas para fazer um investimento certeiro. Estamos aguardando a oportunidade.

Como tem sido a conversa com a diretoria? O Corinthians não trouxe ninguém na janela internacional...
– Quando cheguei, já existia um estudo das necessidades. Coloquei minha visão também. Naquele momento, havia mais urgências. Hoje, o grupo ficou mais composto. Temos algumas necessidades, mas agora não temos urgência. Precisamos aumentar o grupo, sempre com qualidade, porque já vamos começar a jogar competições simultâneas e duras, decisivas. Aí vamos ver como montar a equipe nos dois campeonatos.

Este 4-2-3-1, herança do Tite, é o sistema que você pretende manter a médio e longo prazo?
– O Tite tentou reproduzir aquele time campeão brasileiro, com jogadores em funções e posições parecidas. Mas antes de eu chegar, ele mudou o sistema de jogo porque foi vendo que daquela maneira não iria se encaixar. Pelos jogadores que temos, esse atual sistema está funcionando melhor. Vou tentar desenvolver com ele. Se não conseguir, vou ver como fazer. Se precisar mudar o esquema, mudamos...


Cristóvão diz que já se sente bem à vontade no Timão: seis meses em 30 dias (Foto: Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians)

Como você procura se relacionar com as categorias de base? Tem nomes que já te chamam a atenção?
– No grupo, já tem muita gente que veio da base. Como temos dificuldades em observar os jogos e treinamentos das equipes de base, trazemos alguns jogadores para os treinos ou fazemos jogos contra o sub-20. Fica mais fácil saber como está o desenvolvimento dos garotos. Tem alguns se destacando, mas neste momento não há espaço para isso. Se tiver alguém com destaque acima da média, vamos trazer.

Até mesmo o Maycon, que está no elenco algum tempo, não teve espaço. Você o vê com capacidade para jogar no Corinthians em 2017?
– Ele, com toda a certeza, é um desses jogadores. O Pedro Henrique estaria jogando se não tivesse se machucado. Maycon é promissor, será o futuro do Corinthians. Mas, agora, como temos muitos na mesma posição, optamos pela negociação. Aqui ele iria jogar, mas teria menos oportunidades. Lá ele terá seu desenvolvimento facilitado. Quando voltar, vai estar muito mais pronto.

Daqui a 30 anos, como você quer que o Cristóvão de hoje seja visto?
– Quero que eu tenha podido passar por esse momento, muito difícil, com sucesso. É um trabalho muito difícil em todos os sentidos, por substituir o Tite, por ser o Corinthians campeão. Se eu tiver sucesso nisso, será uma grande coisa para minha carreira. Com o primeiro título, claro.


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estou sentindo que o time do povo , está cheio de torcedores cheio de preconceito, estão criticando o técnico pela cor da pele, e não pela sua capacidade como de treinador do Corinthians ,isto é lamentável, e irônico, um país com grande parte de sua população negra e de mestiços ainda aconteça estes fatos lamentáveis, e triste

seu merda

burro do caralho

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