Último jogo que o Corinthians mandou no estádio, 2 a 0 no Flamengo, teve adeus emotivo (foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

O Corinthians será bem acolhido pela vizinhança do Pacaembu na noite de 8 de agosto, uma segunda-feira, dia em que voltará a atuar no estádio que adotou como casa nas últimas décadas. A hospitalidade foi garantida por Rodrigo Mauro, presidente da Viva Pacaembu, associação de moradores com a qual o clube já teve relação conturbada.

“Será maravilhoso”, definiu Rodrigo, em uma conversa por telefone com a Gazeta Esportiva. Nem mesmo o fato de o reencontro ser em uma segunda-feira, e não no final de semana, mudou a avaliação do engenheiro – a Viva Pacaembu já defendeu os seus associados por causa do barulho noturno provocado por shows e jogos de futebol realizados no estádio municipal. “Não sendo às 22 horas, não vejo problema. O que atrapalha mesmo é o horário do término dos eventos, já tarde, à meia-noite. Não é o caso nessas partidas de segunda-feira.” Corinthians e Cruzeiro entrarão em campo às 21 horas.

Apesar do bom ambiente esperado para o retorno do time ao Pacaembu – a arena de Itaquera foi cedida ao torneio de futebol dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro –, alguns dirigentes do Corinthians não guardam boas recordações da vizinhança dali. O clube chegou a tentar arrendar o estádio antes de se engajar na construção de sua casa na Zona Leste, porém esbarrou também na discordância da Viva Pacaembu.

Ao desistir de oficializar o Pacaembu como o estádio do Corinthians, o então presidente Andrés Sanchez condenou o local. Disse aos “riquinhos que vão tomar banho de sol nas arquibancadas que paguem a manutenção” após a finalização da arena da abertura da Copa do Mundo do Brasil e previu que o estádio municipal se tornaria obsoleto.

O apreço pelo Pacaembu fez o Corinthians tentar oficializar o estádio como sua casa (foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

“Queriam fazer um negócio irregular. Um bem público não pode ser vendido sem uma audiência pública, sem todo um trâmite legal por trás. Estavam querendo pular essa parte. Defendíamos, então, que o Pacaembu deveria continuar sendo do município”, recordou Rodrigo Mauro.

O presidente da Viva Pacaembu ainda rebateu a tese de que o Pacaembu caiu no esquecimento com a mudança do Corinthians para a Zona Leste, em 2014. “Sempre haverá jogos lá. Em 2016, o estádio recebeu mais partidas do que todos os outros do Estado – esse levantamento está no nosso site. E continuará sendo dessa forma, porque o Pacaembu é municipal e tem que sediar jogos esportivos, função para a qual foi feito há 76 anos”, discursou.

O próprio Rodrigo Mauro diz gostar de frequentar as arquibancadas do Pacaembu – não para tomar banho de sol, como sugeriu Andrés Sanchez em 2012, mas para torcer. Pelo Palmeiras, grande rival corintiano. “Embora exista o Allianz Parque, o Pacaembu também é a casa do palmeirense. Existe uma relação muito próxima com o clube. Devo ter ido mais de 30 vezes para ver o meu time lá”, orgulhou-se. “Também acompanhei o jogo da Seleção Brasileira de rúgbi no Pacaembu, neste ano”, acrescentou.

A Fiel matará as saudades do estádio municipal contra o Cruzeiro, na segunda-feira (foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

Para Rodrigo, o fato de a Confederação Brasileira de Rugby ter recorrido ao estádio é outra prova de que o Pacaembu permanecerá ativo. A associação presidida por ele imagina ainda que haja utilidade no aspecto social, colaborando com a prática esportiva de crianças carentes. “Isso tanto está indo para frente que já tivemos as Manhãs Esportivas ali. Queremos que o projeto seja acatado por inteiro, trazendo vários esportes, não só olímpicos, para o Pacaembu, que não vive apenas de futebol. O complexo tem ginásio, sala de academia, balé…”, comentou.

O plano da Viva Pacaembu não inviabiliza que o gramado receba novas partidas de futebol, como a da próxima segunda-feira, entre Corinthians e Cruzeiro. Rodrigo Mauro, contudo, não gostaria que os moradores precisassem acolher um clube de forma definitiva – especulou-se recentemente o repasse da gestão do Pacaembu para o Santos.

“Não tivemos um retorno formal da administração do estádio, do Santos, da Prefeitura nem de nada. Foi algo mais especulativo”, minimizou Rodrigo Mauro, adiantando que a postura da sua associação seria a mesma de quando Andrés Sanchez tentou arrendar o Pacaembu. “O estádio precisa continuar sendo municipal, de vários times. É importante que até uma equipe de Ermelino Matarazzo possa jogar ali. Trata-se de um bem público, que todos devem usar.”

O Corinthians usará mais uma vez o bem público. Será às 16 horas de 20 de agosto, contra o Vitória, porque a arena de Itaquera ainda não terá sido devolvida pelo Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos.

No Pacaembu, o Corinthians estará longe do bairro de Itaquera, mas perto da Rua Itaquera (foto: reprodução/Google Mapas)

Itaquera no coração do Pacaembu
O Corinthians não estará tão longe de Itaquera na próxima segunda-feira – mas da rua, e não do bairro onde foi erguido o seu estádio.

Há uma Rua Itaquera nos arredores do Pacaembu. O logradouro é residencial, composto majoritariamente por casas de alto padrão, e pouco se assemelha à região onde o Time do Povo tem atuado desde 2014.