Da estreia, uma vitória discreta por 1 a 0 sobre o XV de Piracicaba, no dia 28 de março de 2012, até este domingo, o goleiro Cássio disputou 125 jogos com a camisa do Corinthians. Em dois anos e oito meses, a história do gigante de 1,95m foi construída com capítulos quase exclusivamente vitoriosos.
Contratado como terceira opção para Júlio César e Danilo Fernandes, Cássio deixou a concorrência para trás, conquistou quatro títulos como titular, foi eleito o melhor jogador no título mundial de 2012 e hoje vive uma nova fase.
A experiência o tirou do posto de garoto para transformá-lo em um dos líderes do elenco. Aos 27 anos, com um filho recém-nascido e muitas lembranças na memória, o goleiro se vê amadurecido.
– Sou muito mais seguro hoje. Tenho personalidade para falar, ter voz de comando. Naquele momento eu era um garoto perto de outros jogadores como Alex, Chicão, Alessandro. Hoje sou um dos líderes da equipe. É importante dar tranquilidade para os meninos da base, dar suporte.
Mudei meu papel de jogador desconhecido para líder. Isso é amadurecimento – afirmou, em entrevista exclusiva ao GloboEsporte.com.
A chegada de Felipe, primeiro filho de Cássio, nascido no dia 17 do mês passado, é apenas mais um dos símbolos da nova fase vivida pelo goleiro. A última temporada, ele próprio admite, não foi das melhores. As lesões atrapalharam, e o camisa 12 não conseguiu a desejada sequência de partidas.
Um dos oito remanescentes do elenco que conquistou o Mundial há dois anos, ele hoje é dono absoluto da meta corintiana e não se vê jogando por outro clube.
Recentemente, Cássio renovou seu contrato até o fim de 2018. Encerrar a carreira no Corinthians é um projeto citado com frequência pelo goleiro.
Após a passagem de pouco mais de cinco anos pelo PSV Eindhoven, da Holanda, ele tem a convicção de que dificilmente encontraria estrutura e ambiente melhores do que tem no clube do Parque São Jorge no momento. Por isso, mira outros objetivos, como ampliar sua história no clube ao conquistar o primeiro título da história da Arena Corinthians.
Em conversa com a reportagem no CT Joaquim Grava, Cássio admitiu: ficou revoltado com a invasão de torcedores ao local em fevereiro deste ano e cogitou deixar o Corinthians.
Integrante da melhor defesa do Campeonato Brasileiro no ano passado e, parcialmente, também nesta temporada, o goleiro contou o que projeta para os próximos anos e admitiu: jogar a Copa do Mundo de 2018 continua entre os seus sonhos.

Cássio, aos 27 anos, diz sonhar com a Copa do Mundo de 2018
Veja abaixo a entrevista na íntegra:
GloboEsporte.com: Da chegada ao Corinthians até hoje, o que mudou para você, dentro e fora de campo?
Cássio: Eu acho que evoluí bastante.
Ano passado não fui muito bem, não digo pela parte técnica, mas fiquei muito abaixo por ter me machucado muito. Acho que evoluir é por conhecer mais o clube, a equipe. Nessa parte, psicologicamente, já que aqui tem uma pressão muito grande para jogar.
Acho que a gente vai aprendendo ao longo do tempo que mesmo você se destacando, ganhando títulos, amanhã é outro dia aqui no Corinthians, e você tem de conquistar tudo de novo. Vamos crescendo e evoluindo, ao estilo do que tem de ser aqui.
Em que sentido se deu essa evolução? Você amadureceu como jogador e se tornou um líder do elenco?
Eu sempre confiei muito em mim. Eu sempre disse que vinha para trabalhar e que respeitaria os outros, mas que meu objetivo era ser titular do Corinthians.
É lógico que sempre vamos evoluindo, técnica e taticamente. Como pessoa mesmo. Sou muito mais seguro hoje. Tenho personalidade para falar, ter voz de comando. Naquele momento eu era um garoto perto de outros jogadores como Alex, Chicão, Alessandro.
Hoje sou um dos líderes da equipe. É importante dar tranquilidade para os meninos da base, dar suporte. Mudei meu papel de jogador desconhecido para líder. Isso é amadurecimento.
Você chegou como terceiro goleiro e rapidamente deixou dois companheiros para trás, se tornando titular. Quem foi seu maior concorrente até hoje?
Por mais que o Walter tenha entrado e ido bem, o Danilo também, o maior concorrente aqui era o maior campeão da história do Corinthians. O Júlio (César), com certeza, sempre foi meu maior concorrente. Respeito muito o Walter e o Danilo, mas o Júlio foi campeão brasileiro, ficou entre os três melhores do país na época e tem o respeito de todo mundo.

Os goleiros Danilo Fernandes, Cássio, Matheus e Walter
Fora de campo, as coisas também mudaram. Hoje você é pai, vive outra fase pessoalmente. Isso influencia na sua carreira?
Quando eu cheguei ao Corinthians, não tinha muita experiência de jogos. Só tinha vivido fora do país mesmo, em outro estilo de futebol. Agora, com muitos jogos, com experiência...
Você vai tirando coisas negativas e amadurecendo. A chegada do Felipe também ajuda a crescer. Perdi uns dias de sono, é claro (risos), mas é por uma boa causa. Sempre tive o sonho de ser pai. Também ajuda a querer ficar aqui, me dedicar mais aos treinos. Preciso estar bem, ser o goleiro titular do Corinthians, para o meu filho me ver jogar.
Essa é uma das motivações a continuar trabalhando e me dedicando cada vez mais.
Você sonha com a seleção brasileira? Acha possível jogar a Copa do Mundo de 2018?
Eu tenho 27 anos. Vou chegar com 31 anos à Copa. Até os 34 o goleiro vive seu auge. Quanto mais experiente, melhor. Se estiver bem para treinar, para jogar e com uma sequência... Cabe a mim trabalhar forte aqui no Corinthians. É o meu foco maior.
Se eu for convocado, vou ficar muito feliz. Mas se não for, vou torcer para os meus companheiros que estiverem lá.
Mas ficar fora das convocações te deixa frustrado?
Eu sou jogador. Lógico que tenho objetivo de ir para a Seleção, disputar uma Copa do Mundo, mas não é algo que me tire o sono.
Se o treinador optar por outro goleiro, não vou ficar bravo com ele ou sair falando mal.
Não é meu pensamento. Se eu fosse, só concretizaria mais um sonho.
O futebol europeu é um objetivo, como o da maioria dos jogadores, ou ficou para trás?
Não penso em sair.
Eu estou feliz aqui, acabei de renovar meu contrato por mais quatro temporadas. Todos me tratam bem, do faxineiro ao treinador. Eu me sinto bem à vontade mesmo. Quando você está adaptado e as coisas vão bem, com um CT que está entre os melhores do mundo, você fica contente.
Agora temos um estádio que podemos chamar de nosso. Eu não me vejo hoje jogando em outro clube do Brasil ou da Europa. Meu pensamento é ficar no Corinthians o maior tempo possível ou até o final da minha carreira.

Cássio hoje dá conselhos para os mais jovens, como Malcom, 17
Dentro de campo, você já foi criticado por conta das reposições de bola. Você acredita que evoluiu nesse aspecto?
Às vezes, pode parecer que eu dou chutão, que seja errado, mas é o estilo de jogo da equipe. Com o professor Tite, o trabalho era mais para jogar no Danilo, dar aquela “casquinha”. É normal que você erre bastante.
Pode ser que eu tenha decaído, errado mais do que o normal. O ano passado foi bem complicado para mim, fiquei abaixo em diversos fatores. Esse ano acho que estou mais concentrado, mais focado nos jogos. E também não me machuquei mais. Tive uma sequência de jogos, consegui me preparar bem.
Venho jogando em um nível alto aqui, jogando com mais frequência. Se o time vai bem, a tendência é que você vá melhor também.
E quais são as principais diferenças entre o Tite e o Mano Menezes?
Falando da parte defensiva, são treinadores com trabalhos parecidos. Conseguimos manter o que vínhamos fazendo nos outros anos, sendo a melhor defesa. Não somente com a linha defensiva, mas com todo o time ajudando. Isso é importante.
Mantivemos alguns jogadores, vieram outros, e são fundamentais para isso. O Fagner se encaixou muito bem, o Anderson (Martins) também está agora... Tivemos uma reformulação, mas os que estavam continuam em um nível muito bom. Cabe a cada treinador seu estilo de jogo para chegar ao gol.
Muitos dizem que o Corinthians tem um estilo de jogo menos técnico. O São Paulo, por exemplo, vem sendo elogiado pelo futebol bonito. Incomoda dizer que o seu time joga feio?
Sempre foi o estilo do Corinthians.
O time tem cento e tantos anos, e sempre foi assim, na raça, na vontade. Pode ser que os outros façam mais gols, mas nós somos o time que menos toma. Temos uma consistência muito boa, estamos ganhando.
Será que o terceiro colocado está tão mal assim, jogando tão feio? O São Paulo tem as qualidades deles, nós temos as nossas. Vamos ver quando nos enfrentarmos ou até quando acabar o campeonato, ver o que vai dar.
Os clássicos, aqui no Brasil, representam mais do que na Europa? Você acha que jogos como esse podem determinar a história de um atleta dentro do clube?
Aqui é bem diferente. A rivalidade é forte demais. Lá não tinha jogador provocando um ao outro, aqui você vê bastante.
Eu sou mais na minha, fico longe dessas provocações, mas aqui a rixa é grande. O ruim é a violência, né? Quando aparecem brigas entre torcidas, mortes, algumas pessoas se machucam... Isso é chato. É claro que é legal ver o estádio lotado pelas duas partes, motiva a jogar os clássicos.
Todo mundo quer ganhar do Corinthians. Tem aquele gostinho a mais. Cada jogo é importante para nós.
Vocês viveram um episódio de violência aqui no Corinthians neste ano, com a invasão dos torcedores ao CT. O Ralf, por exemplo, chegou a dizer que pensou imediatamente em ir embora do clube. E você?
Minha reação foi a mesma. De sair daqui mesmo. Pode acontecer protesto, mas você tem de ter respeito por quem trabalha. Ninguém aqui está de brincadeira.
Isso acontece no Corinthians, no Palmeiras, no São Paulo... Os clubes passam por maus momentos, assim como nós vivemos.
Era uma época de reformulação de jogadores e da comissão técnica. O pessoal exagerou. Outros jogadores pensaram em ir embora do clube naquele momento. Espero que nunca mais aconteça.
Da sua chegada ao Corinthians até hoje, o clube mudou de patamar. Qual é o próximo objetivo?
Conseguimos tudo o que faltava. Ganhamos a Libertadores, agora temos nosso estádio. O CT ficou cada vez melhor para trabalhar. Temos tranquilidade aqui, é um ambiente alegre. Isso é importante para conquistar títulos.
É gratificante participar dessa fase do clube. Cabe a nós, jogadores, fazer de tudo para buscar o primeiro título da Arena.

Cássio foi o melhor em campo na final do Mundial contra o Chelsea, de Fernando Torres, em 2012