Testemunhas do caso Vaidebet x Corinthians dão entrevista pela primeira vez O atacante Lucero , do Fortaleza, e o influenciador Buzeira , que conta com mais de 13 milhões de seguidores do Instagram, são citados pela Polícia Civil de São Paulo no relatório final do inquérito do "caso VaideBet", que investiga supostos crimes em contrato de patrocínio do Corinthians . Desde já é importante frisar: Lucero e Bruno Alexssander, como se chama Buzeira, não têm relação direta com esta investigação, tampouco estão entre os indiciados pela Polícia. Os nomes deles aparecem no relatório de 272 páginas por terem realizado transferências financeiras com empresas suspeitas de lavagem de dinheiro: a Victory Trading e a Wave Intermediações Tecnológicas. Que empresas são essas? A Wave é investigada por receber R$ 1 milhão da Neoway Soluções Integradas, companhia de fachada utilizada para movimentar R$ 1,4 milhão da comissão pela intermediação do contrato entre Corinthians e VaideBet. Segundo relatório técnico, essa transferência era o início da tentativa de limpar o rastro do dinheiro que parou na empresa UJ Football, que faz agenciamento esportivo e é suspeita de ter ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC). A Wave, a partir do recebimento do dinheiro da Neoway, fez três transferências para a UJ Football no valor de R$ 874.150. Segundo a Polícia Civil, a Wave é suspeita de ter “posição central” na lavagem de dinheiro do crime organizado. O próprio Buzeira, segundo o relatório, está sob investigação da Polícia Civil por suspeita de ligação com um traficante associado ao PCC. A relação com Buzeira Na quebra de sigilo bancário da Wave, a Polícia identificou movimentações por parte de Buzeira e de sua empresa, a Buzeira Digital. O influenciador é destacado no relatório como “alguém próximo da direção do clube”. No caso, da gestão Augusto Melo. Uma denúncia anônima à Polícia apontou o influenciador como financiador da campanha eleitoral de Augusto, o que não foi comprovado. No relatório foram anexadas fotos de Buzeira em reuniões com o então presidente no CT Joaquim Grava para atestar a proximidade. Ele também esteve no gramado e, com acesso livre, tirou fotos com jogadores depois da conquista do título do Paulistão 2025. A Polícia identificou algumas movimentações da empresa do influenciador com a Wave como beneficiário: Entre julho de 2023 e junho de 2024, a Buzeira Digital recebeu R$ 230 mil de um “agropecuarista de Goiás”, que acolheu em conta R$ 30 milhões no mesmo período e repassou R$ 405 mil à Wave; A Buzeira Digital recebeu um lançamento de R$ 97.768 de um “promotor de vendas” de Vila Velha-ES, que repassou R$ 16 mil para a Wave; Buzeira foi beneficiária de uma empresa que repassou R$ 3.325.489,36 para a Wave em 15 lançamentos no período de janeiro a julho de 2024. Victory Trading Intermediação Além da Wave, a Victory Trading Intermediação também é identificada pela Polícia Civil como responsável por transferir R$ 200 mil do valor repassado pela intermediadora do contrato entre Corinthians e VaideBet para a UJ Football. Essa empresa também é relacionada a Buzeira. Em 1º de abril, quatro dias depois do repasse da quantia da empresa para a UJ Football, foram identificadas duas transferências da Victory para a Buzeira Digital nos valores de R$ 490 mil e R$ 510 mil; Em 22 de abril, a Buzeira Digital recebeu R$ 300 mil da Victory. – A Polícia, diante dessas movimentações, diz ser “suspeito constatar que os valores desviados do clube do Parque São Jorge percorreram as contas da Wave e da Victory e que Buzeira, com ótimo trânsito junto à direção corintiana, foi citado no Relatório de Informação Financeira da Wave e, mais grave que isso, recebeu vultuosas quantias da Victory – relata o delegado Tiago Fernando André, responsável pelo caso, em relatório. – Vislumbra-se um entrelaçamento atípico de pessoas ligadas, direta ou indiretamente, à direção da agremiação lesada, com o agravante que há fortes indícios a indicar que as sociedades empresariais em tela, bem como o influenciador citado, mantêm aparente relação com o crime organizado – acrescenta. A reportagem procurou Buzeira, que negou qualquer relação com o caso. – Não tem nada a ver com VaideBet, nunca nem divulguei. Manda a Polícia abrir uma investigação. Não devo satisfação para ninguém – disse. A relação com Lucero O trecho de citação a Lucero é curto e se limita a duas transferências realizadas pelo atacante para as duas empresas. Em dezembro de 2023, uma conta ligada ao atacante enviou à Wave a quantia de R$ 357.305, segundo identificação da quebra de sigilo. No mesmo mês, a Victory recebeu R$ 130 mil. A Polícia suspeita, a partir das transferências identificadas como de Lucero, que a Wave e a Victory podem “operar com capital proveniente do mundo futebolístico, seja para distanciá-lo da origem, seja para destiná-lo ao verdadeiro beneficiário.” A reportagem entrou em contato com Martín Prest, empresário do atacante. O agente assegurou que ele e o jogador desconhecem as duas empresas.