O relatório parcial da Polícia Civil de São Paulo traz as justificativas para o indiciamento do presidente do Corinthians , Augusto Melo, dos ex-diretores Sérgio Moura e Marcelo Mariano, além de Alex Cassundé, inserido como intermediário no contrato do clube com a VaideBet, rescindido ano passado. A reportagem do ge teve acesso ao documento, que indica, principalmente, contradições nos depoimentos de Augusto Melo, Moura, Marcelo Mariano e Cassundé. As diferentes narrativas são um dos pontos colhidos pela Polícia e que resultaram no indiciamento dos dirigentes corintianos. Os quatro depuseram sob condição de investigados e agora aguardam parecer do Ministério Público sobre o caso. O órgão vai encaminhar o relatório da Polícia para um juiz, responsável por analisar os indícios e poderá abrir um processo de denúncia, que tornaria Melo e companhia réus.

O relatório da Polícia Civil é assinado pelo delegado Tiago Fernando Correia, titular do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC) e da terceira delegacia, especializada no crime de lavagem de dinheiro. A versão final do inquérito policial que indiciou Augusto Melo deve ficar pronto até o fim da próxima semana. O presidente do Corinthians , Moura, Mariano e Cassundé acabaram enquadrados nos crimes de furto qualificado pelo abuso de confiança, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Cassundé não fez intermediação Ainda no despacho do indiciamento, a investigação assegura ser nítida a falta de participação de Alex Fernando André, o Alex Cassundé, na intermediação do contrato de patrocínio entre Corinthians e a VaideBet. A empresa dele foi inserida na terceira minuta do contrato, como o ge trouxe no ano passado . – Quem aproximou o clube da empresa de apostas, segundo se verifica dos autos, foram Antônio Pereira dos Santos, Sandro dos Santos Ribeiro e Washington de Araújo Silva. As evidências são abundantes a comprovar em absoluto essa conclusão – diz o relatório. Cassundé, em depoimento, afirmou que Sérgio Moura pediu para o empresário ir atrás de um patrocínio para o time feminino do Corinthians . O ex-superintendente de marketing, porém, assegurou não se recordar dessa conversa.

Contradições nos depoimentos Ainda sobre Alex Cassundé, o relatório destaca como primeira contradição a reunião que iniciaria as conversas para o acordo entre Corinthians e VaideBet. Cassundé diz que compareceu sozinho, já que Moura tiraria “uns dias de folga”. Marcelo Mariano afirma que foi Sérgio Moura o responsável por levar o empresário ao Parque São Jorge no fim de 2023. Moura segue a versão apresentada por Marcelinho. Nenhum dos três citou Augusto Melo na conversa. Porém, em depoimento, o presidente do Corinthians afirmou que Marcelinho apresentou Cassundé “pouco antes do Natal”, no Parque São Jorge. O presidente ponderou "que não deu a mínima” e deixou a conversa nas mãos do ex-diretor administrativo. A investigação assegura que, somente com os depoimentos contraditórios, a presença de Cassundé no Parque São Jorge era colocada em xeque.

A Polícia Civil recorreu a evidências telemáticas, por estações de rádios base (ERB), para atestar, via localização do celular, que o empresário não esteve lá. – Em reforço, as ERB's do telefone celular de Alex Fernando André, para variar, desmentem qualquer presença dele nos dias 20, 21, 22, 23 ou 24 de dezembro de 2023 no Parque São Jorge – escreve o delegado titular, que pediu acesso às localizações de Cassundé desde o dia 09 de dezembro de 2023. André Murilo e José André da Rocha Neto, diretor financeiro e sócio da VaideBet, negaram qualquer contato com Alex Cassundé, em mais um indício recolhido pela Polícia sobre a falta de participação do empresário na intermediação do contrato.

Verdadeiros intermediários? A investigação publica stories de Instagram e registros para crer que a versão apresentada por Toninho Duettos, empresário do ramo musical de Goiânia, e que alega ter realizado a intermediação com um funcionário chamado Sandro dos Santos Ribeiro e um homem conhecido como Washington de Araújo e Silva, apresentado como amigo de Augusto Melo. A reunião ocorreu em 27 de dezembro e culminou no acordo de patrocínio de R$ 370 milhões. Porém, Duettos e os outros dois não viram qualquer resquício de uma possível intermediação. O relatório diz que Augusto Melo e Marcelo Mariano procuraram discredibilizar o relato de Duettos, Sandro e Washigton. O presidente do Corinthians , porém, gravou um vídeo no dia 27 de dezembro ao lado de Sandro, no local da reunião que selou “verbalmente” o acordo. Alex Cassundé, portanto, é colocado como uma espécie de “laranja” na visão da investigação, inserido com o objetivo de desvios dos recursos do patrocínio do Corinthians .

– Sua inserção artificial no correlato instrumento contratual, inferência fundada em prova solida, robusta e consistente passou de ardilosa simulação para inequivocamente, possibilitar recursos financeiros do clube fossem ilegalmente desviados - ou melhor, subtraídos – relata-se no despacho. – A sua indevida inclusão na avença foi viabilizada graças à atuação orquestrada e criminosa de Augusto Pereira de Melo, Marcelo Mariano dos Santos e Sérgio Lara Muzel de Moura, dirigentes corintianos que, unidos em desígnios e com divisão de tarefas para o fim comum, agiram em conluio para afastar do negócio aqueles que realmente contribuíram para a sua existência – conclui o inquérito parcial.