A Polícia Civil de São Paulo vai ouvir Rozallah Santoro, ex-diretor financeiro do Corinthians, e Roberto Gavioli, ex-gerente financeiro do clube, sobre o repasse de mais de R$ 1 milhão da intermediária do antigo contrato com a VaideBet (Rede Social Media Design) para uma empresa laranja (Neoway Soluções Integradas. Ambos serão intimados a depor no início da próxima semana, sob condição de testemunha, para prestar esclarecimentos sobre o caso na 3ª Delegacia do Departamento de Polícia de Proteção a Cidadania (DPPC).
Rozallah Santoro e Roberto Gavioli trabalharam com Augusto Melo, porém deixaram a direção em meio à crise administrativa. Gavioli era funcionário antigo e exerceu funções no financeiro em outras gestões. A saída de Rozallah tem como um episódio importante justamente a questão do pagamento ao intermediário da VaideBet. O diretor reclamou da ingerência no departamento e desembarcou da gestão, mesmo após uma tentativa de “fico” por parte de Augusto Melo.
A ingerência no caso deve-se à liberação do pagamento de R$ 1,4 milhão para a Rede Social Media Design, o equivalente às duas primeiras parcelas da intermediação prevista em contrato. No total, a empresa que tem Alex Cassundé como sócio receberia até R$ 25 milhões. O pagamento ocorreu somente quando Rozallah Santoro se encontrava em uma viagem; o diretor não havia permitido o repasse até então. A liberação veio por parte de Roberto Gavioli, pressionado por outros membros da diretoria. A cobrança, segundo fontes, veio de Marcelo Mariano, diretor administrativo. Antes de Rozallah e Gavioli, o segundo vice-presidente Armando Mendonça foi a outra pessoa do clube ouvida nas investigações até o momento.
VaideBet e Corinthians romperam o contrato no dia 7 de junho, cinco meses depois de celebrarem o maior acordo de patrocínio do futebol brasileiro. A crise se instaurou no dia 27, quando a patrocinadora máster notificou o clube extrajudicialmente pedindo esclarecimento em torno das notícias envolvendo o possível repasse de parte comissão do intermediário para um "laranja". O contrato firmado previa R$ 370 milhões ao clube e era válido até o fim de 2026. Além da notificação da VaideBet, Augusto Melo recebeu um pedido da Polícia Civil, que também cobra respostas e pediu acesso ao contrato com a empresa. A Polícia abriu inquérito e busca esclarecimentos da denúncia feita pelo "Blog do Juca Kfouri" de que a Rede Social Media Design, empresa que intermediou o contrato de patrocínio, supostamente repassou parte do valor recebido em comissão a uma empresa "laranja", chamada Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda.
Essa empresa está no nome Edna Oliveira dos Santos, que nem sequer saberia da existência da mesma. Até o encerramento do acordo, duas parcelas de R$ 700 mil foram repassadas pelo clube para o intermediário que está registrado no contrato de patrocínio. A notícia não agradou à VaideBet, que entendeu ter a imagem prejudicada com as inúmeras especulações em torno do contrato com o Corinthians. Em notificação enviada em 27 de maio, a empresa informa que os fatos narrados representam efetiva violação da cláusula anticorrupção do contrato de patrocínio e deu dez dias para que o Corinthians apresente explicações sobre o caso. O clube respondeu aos questionamentos, alegando estar contribuindo com as investigações. O Corinthians notificou extrajudicialmente a empresa intermediária, que tem como sócio Alex Cassundé, prestador de serviços durante a campanha de Augusto Melo à presidência. O clube ainda aguarda explicações sobre o suposto “laranja”. Na sexta-feira (7 de junho), a VaideBet optou por rescindir o contrato usando como argumento a cláusula anticorrupção. Assinado no começo do ano, o vínculo entre Corinthians e VaideBet tinha validade até o fim de 2026 e previa o pagamento de R$ 370 milhões – o clube recebeu cerca de R$ 66 milhões desde janeiro.
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A Polícia tinha indícios da possibilidade de uma investigação paralela no caso, com a contratação até de um detetive particular. O alvo era a Neoway sob a suspeita interna de ser uma empresa "laranja". Em depoimento, com a liberação do contratante, Felipe de Lacerda, o detetive particular, afirmou que Armando Mendonça, segundo vice-presidente do Corinthians, foi quem o contratou pelo serviço. O dirigente negou a "investigação paralela" e afirmou que buscava apenas informações públicas sobre a Neoway, após receber denúncia por parte do jornalista Juca Kfouri.
Na investigação particular sobre a Neoway, Adriana Ramuno, identificada primeiramente como "Ana" por Edna Oliveira dos Santos, citada como "laranja" na investigação, acabou ouvida pelas autoridades na capital paulista. Em oitiva que durou cerca de uma hora, Adriana Ramuno afirmou que era funcionária de um detetive particular e se dirigiu a Peruíbe para realizar duas perguntas a Edna: se ela morava no local e se tinha conhecimento sobre a Neoway Soluções Integradas, empresa que supostamente recebeu os repasses da intermediadora do acordo. Ainda em depoimento, Adriana relatou desconhecer qualquer informação sobre o cliente responsável pela contratação do escritório de detetive particular. A funcionária assegurou ser padrão não ter detalhes sobre os contratantes, como no caso da investigação que a levou até Edna.
A funcionária do detetive particular foi a segunda testemunha ouvida nesse caso. Ela foi reconhecida por foto por Edna e acabou convocada a depor na última terça-feira. O chefe de Adriana Ramuno, identificado por enquanto apenas como Felipe, também será intimado a prestar esclarecimentos nas próximas semanas. A empresa de Cassundé, que só teve tempo de receber R$ 1,4 milhão dos R$ 25 milhões acordados pela intermediação, é alvo de investigação por supostamente ter feito dois repasses (R$ 900 mil no total) para a Neoway Soluções Integradas, tratada pela Polícia como empresa "fantasma".
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