O Corinthians pode enfrentar um novo problema na Justiça em breve. A Associação de Franqueados da Poderoso Timão (AFPT), que possui onze lojas envolvidas das pouco mais de 80 espalhadas pelo Brasil, alega bancarrota de diversos estabelecimentos, quebras contratuais e fraudes por parte do clube e da SPR, empresa que cuida das franquias, e já enviou notificações extrajudiciais às partes. O próximo passo, caso não tenha suas solicitações atendidas, será os tribunais.
"As notificações foram mandadas e o Corinthians ignorou completamente, não deu a mínima, e a SPR, que foi quem nos vendeu a franquia, junto com o Banco Brasil Plural, fizeram duas ou três reuniões com a gente em um prédio e não resolveram nada, só diziam que iam ver, e nada foi feito", disse Alexandre Henrique Lisboa Lima, presidente da AFPT, em conversa com o ESPN.com.br.
As conversas entre as partes vêm desde o fim do ano passado. A associação chegou a se reunir com os ex-presidentes Andrés Sanchez e Mario Gobbi e tentou transmitir os problemas. Contudo, alega que, na sequência, os dirigentes "sumiram". Procurado pela reportagem, Andrés confirmou o encontro e deu a sua versão do ocorrido.
"Um grupo de franqueados procurou o então presidente Mario Gobbi e não foram atendidos. Esse grupo de cerca de 20 franqueados então me procurou, agendei uma reunião com o advogado do clube, dr. Luiz Santoro. Ele colheu todas as reclamações para tomar as providências jurídicas sobre o caso e no interesse de uma solução do problema. O Santoro está viajando e retorna na segunda, aí posso obter mais informações do andamento do caso", avisou Andrés ao ESPN.com.br.
Já o advogado Luiz Santoro confirmou a viagem e pediu para entrar em contato com o departamento jurídico do Corinthians até que ele retorne das férias. A reportagem ligou ao clube, que no entanto alegou não ter recebido a notificação extrajudicial. Em réplica, a AFPT informou ter a AR (Aviso de Recebimento) em mãos confirmando que o documento chegou ao Parque São Jorge.
A briga se tornou pública nesta quarta-feira, após uma das franqueadas, Alessandra Abreu, expor reclamações por meio das redes sociais. Até então, os advogados da Associação e da SPR tentavam resolver as coisas de forma pacífica. Em contato com a reportagem, Alessandra - que tem uma loja no Shopping Frei Caneca - apontou "falta de produtos, falta de homologar novos fornecedores, ingressos sem poder ser vendidos nas lojas e falta de incentivo do clube" como algumas das cláusulas quebradas.
As franquias são todas administradas pela SPR, que detém também redes de lojas de outros times, como São Paulo e seleção brasileira de futebol. O Corinthians, no caso, recebe royalties, já que cede sua marca. O advogado da AFPT, Alexandre Vieira Monteiro, explicou à ESPN como aparecerá o clube em uma eventual ação judicial a ser movida pela asssociação. Vale citar que a agremiação alvinegra tem direito a 7% dos lucros de todas as lojas.
"O Corinthians é anuente, cede a marca à franqueadora. Existe uma franquia, que é a Todo Poderoso Timão, administrada pela SPR, em que os franqueados compram a marca e trabalham com exclusividade em qualquer contrato de franquia, e o Corinthians licencia a marca para que ela possa trabalhar", disse o advogado, que confirmou conversas com o departamento jurídico da SPR.
A empresa, por sua vez, avisou que se reuniu várias vezes com o Corinthians e que ambos, preocupados com o momento financeiro do Brasil, querem dar um retorno aos franqueados, apesar do momento econômico difícil vivido no país, mas vão anunciar em breve um pacote de ações para beneficiar os donos de franquias. A resposta da empresa, na íntegra, está reproduzida logo abaixo da reportagem.
Mas a AFPT, extremamente ressabiada com a situação financeira atual de seus associados, expressa que diversas franquias estão "indo à bancarrota", conforme escrito nas notificações extrajudiciais enviadas às partes. Segundo a associação, das 130 que existiam anteriormente, hoje sobrevivem apenas 80 lojas da Poderoso Timão, muitas dessas com prejuízos.
"Vamos propor uma ação contra todos eles. Temos mais de 500 laudas, sobre royalties, sobre promoção, sobre vendas de produtos, sobre produtos com defeitos. Na realidade a gente quer o nosso dinheiro de volta, estamos sendo fruto de má-fé da SPR que lesou não só franqueados como toda a torcida, pois todos que compram produtos conosco estão sendo lesados", continuou o presidente da Associação dos Franqueados da Poderoso Timão.
"Tem gente que colocou o dinheiro todo lá, vendeu apartamento, carro, não tem onde morar, tem franqueado que cogitou o suicidio pois não tem o que dar para comer aos próprios filhos. Todos entraram com situação financeira estável. Queremos o dinheiro investido e queremos ressarcimento", continuou Alexandre Lima.
O presidente da AFPT ainda explicou como as lojas chegam à falência.
"Uma loja de shopping investe na casa de R$ 450 mil, em um ano vc esta devendo 400 mil de dívida, o negócio é inviável, o operacional não existe. Todas as lojas que não são da rede vendem produtos mais baratos. Tem um fundo de propaganda, que é um boleto que a gente paga mensalmente e eles teriam que usar para o marketing das lojas, mas na realidade não fizeram nada, muito pelo contrário. Usam para pagar funcionários da SPR, para pagar viagens de funcionários e fazer propagandas de outros times. Tem várias franquias e usam dinheiro nosso para fazer propaganda para os caras, nunca nos mandaram nenhum demonstrativo", avisou Alexandre Lima.
Entre as dificuldades relatas pelos comerciantes, estão os produtos caros enviados às lojas da rede Poderoso Timão, que chegam a custar 50% mais baratos na concorrência, tudo por conta de força contratual com as partes. Assim, os lucros são cada vez menores, já que o torcedor corintiano sai em busca de preços mais baixos.
Além disso, as formas de pagamento em comércios que não são franqueados do Corinthians e da SPR também são mais acessíveis do que as exigidas na Poderoso Timão, o que faz com que os clientes procurem cada vez menos as lojas. Tudo isso segundo relatos dos franqueados da associação.
Curiosamente, o Corinthians já enfrenta outro problema judicial por conta de uma loja da Poderoso Timão, essa que não faz parte da AFPT. Localizado dentro do Parque São Jorge, o estabelecimento processa o clube alegando alterações contratuais que a prejudicaram na renovação do vínculo. A ação ainda corre na 2ª Vara Civil do Tatuapé.
A ESPN teve acesso às exigências dos franqueados ao Corinthians e à SPR. Seguem abaixo, listadas:
a) Garantia de 100% (cem por cento) das coleções completas EXCLUSIVAS para as lojas associadas, referente a TODAS as estações (Primavera, Verão, Outono, Inverno);
b) Obrigatoriedade da NOTIFICADA, comercializar e disponibilizar para as lojas dos Associados;
c) Autorização para venda de ingressos em todas as lojas dos Associados.
d) Direito de cada loja levar seus 20 (vinte) melhores clientes para visitas na Arena Corinthians, Centro de Treinamento e Memorial (Amplamente divulgado pelo Corinthians), uma vez por mês;
e) Que as lojas dos Associados tenham representatividade junto a NIKE, para melhores condições nos prazos de pagamento e que a Rede Poderoso Timão seja a primeira a receber os lançamentos e tenham preços diferenciados;
f) Homologação de novos fornecedores para todas as linhas de produto, criando concorrência de preços, prazos e qualidade;
g) A não entrega do produto no prazo estipulado no calendário de compras da NOTIFICADA deverá acarretar multa de 10% (dez por cento) sobre o valor da compra mais juros de mora de 1% a.d. até a efetiva entrega do produto;
h) Alteração na forma de cobrança dos Royalties para 5% (cinco por cento) do valor de custo da mercadoria, pagos no mesmo prazo das compras.
i) Participação da Associações nas ações de Marketing e prestação de contas, no percentual de 1% sobre o preço de compra, pagos junto com royalties/compras;
j) "Price Protectiion" - Devolução (desconto, abatimento, vale compras) da diferença dos descontos concedidos pela NOTIFICADA abaixo do preço de custo da compra realizada pelos Associados da NOTIFICANTE;
k) Renovação pelo Associado deverá ser comunicada por escrito com antecedência mínima de 60 (sessenta) dias. Caso haja recusa da NOTIFICADA em realizar a renovação (exceto em casos de inadimplências dos Associados), a NOTIFICANTE deverá ressarcir ao associado todo valor investido na montagem da loja, compra de ponto, taxa de franquia, estoque e lucros cessantes de 24 meses, com base no levantamento dos últimos 05 (cinco) anos (ou do contrato, caso prazo for inferior a 05 anos), bem como liberar a cláusula de barreira;
l) Exclusividade Territorial - Grande São Paulo e Capital com raio de 5 (cinco) quilômetros, independentemente de ser loja de Shopping ou de rua) e limitado a 01 loja para cada 200 duzentos) mil habitantes. Preferência para abertura da nova loja deverá ser sempre do Associado mais próximo, sendo obrigatório oferecer para os 03 (três) franqueados mais próximos, respeitando-se a ordem de preferência pela distância;
m) Vendas pela internet - Preço do site não pode ser inferior ao preço da loja física; e o lucro (descontando-se as despesas - inclusive site), deve ser repassado para a unidade Associada mais próxima, não havendo loja no município, o valor poderá ser repassado integralmente para a loja virtual. Os produtos vendidos na loja virtual deverão ser iguais aos da loja física, não podendo haver produtos exclusivos no site;
n) Criação de uma central de repasse, que forneça todo o suporte e consultoria para os Associados interessados em sair da operação, para que tal processo ocorra da melhor forma possível, e sem prejuízo para o Associado ou para o NOTIFICADO e com máxima transparência.
Confira, a seguir, a resposta da SPR sobre a polêmica com as franquias Poderoso Timão:
Em resposta aos questionamentos levantados pela reportagem da ESPN BRASIL, a SPR SPORTS faz questão de vir a público explicar alguns pontos importantes sobre a reivindicação de alguns franqueados da rede Poderoso Timão.
Devido a Copa de 2014 o Campeonato Brasileiro foi previamente interrompido para a entrega dos estádios, esse fator aliado ao desvio da atenção da torcida para os jogos das seleções, fizeram com que as vendas das lojas chegassem a cair até 48% durante o período de abril a julho, em comparação com mesmos meses do ano de 2013.
Em 2014 a economia braseira se deteriorou sendo o varejo uns dos setores mais afetados pela grave crise que o país passa. A queda em vendas no setor vem aumentando mês após mês afetando diretamente algumas lojas da rede.
Preocupada com a situação, a SPR continua o processo de apoio financeiro aos franqueados, parcelando suas dívidas e negociando caso a caso. Mesmo não tendo recebido de alguns franqueados, a empresa honrou com todos seus compromissos.
A SPR jamais promoveu uma execução judicial contra nenhum franqueado, mesmo aqueles com maior débito e há mais tempo, pois tentou encontrar uma forma de fazer com que cada loja continuasse aberta e que resolvesse de forma conjunta cada situação.
A empresa está atenta ao momento que o Brasil vem passando. Juntamente com o Corinthians foi criado um pacote de medidas que serão apresentadas em breve aos comitês de franqueados, para que as lojas com dificuldades resolvam seus problemas e voltem a crescer num curto prazo de tempo.
A Poderoso Timão continua sendo o grande case de sucesso mundial de times de futebol, com o maior número de lojas, sendo uma fonte importante de geração de royalties para o clube e atendendo milhares de torcedores com um amplo leque de produtos, para todas as idades e todos os gostos.
Por fim, a SPR e o Corinthians compreendem a situação de cada franqueado e trabalham conjuntamente para a busca de soluções, mas a empresa deixa claro que repudia falsas acusações feitas por uma minoria e promete responder judicialmente contra essas inverdades.