Time de amputados do Corinthians posa com troféu do Paulista (Foto: Divulgação/Rogerio Almeida)
Se tornar jogador de futebol profissional. Torcer para um time, mas vestir a camisa de um grande rival. E tudo isso após sofrer um acidente e ter uma das pernas amputadas. Esse enredo de novela é corriqueiro na equipe de futebol de amputados do Corinthians, que treina e manda seus jogos na cidade de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Se não bastasse conviver entre a paixão e o profissionalismo no dia a dia, os jogadores tricolores do Timão vivem a agitação do clima que antecede o duelo entre São Paulo e Corinthians pelo Brasileirão, sábado, às 16h, no Morumbi. Na contabilidade da torcida, tudo igual: seis corintianos e seis são-paulinos.
A parceria entre o Timão e os dois grupos de amputados que treinam juntos, - Instituto Só Vida e Smel/Mogi - foi firmada em abril deste ano. A partir de então, só alegria. Em menos de quatro meses, a equipe foi campeã invicta da Copa do Brasil e do Campeonato Paulista da modalidade.
Vira casaca?
Mas, fora das quatro linhas, a competição é acirrada e os jogadores precisam conviver com as zoações entre eles por conta dos times do coração. São seis jogadores que torcem pelo São Paulo e seis que torcem pelo Corinthians. A rivalidade é tão acirrada que o desempate só acontece se o treinador for incluído na contagem.
- Todos fazem por merecer estar aqui, à altura do peso da camisa, mas a gente prega que, em primeiro lugar, vem o profissionalismo. Alguns tiraram sarro no começo da nossa parceria, uma brincadeira sadia pelo fato de ser no futebol, mas conseguimos mostrar nossa capacidade - falou o técnico Renê Quintas, que é corintiano.
Um dos destaques do time e da seleção, o atacante Rogerinho, apelidado carinhosamente de R9, nasceu sem a perna esquerda e tem o Tricolor no coração desde pequeno, mas não nega que o maior rival já ocupa um lugar especial em sua vida depois que firmou a parceria, que ele garante ter sido seu sonho e dos outros jogadores por muito tempo.
Rogerinho "R9" (à esq) com o técnico Renê Quintas: tricolor e alvinegro (Foto: Bruno Rocha)
- Poder honrar a camisa do Corinthians é uma satisfação tremenda. Nessas horas, deixamos a paixão um pouco de lado. Entre nós tem aquela rixa porque o São Paulo vinha perdendo alguns jogos, mas essa brincadeira é só para descontração mesmo. O importante é defender a camisa com a maior alegria possível - falou Rogerinho.
No "lado certo"
Se vestir a camisa de um rival já seria uma grande história, poder jogar com o escudo do time do coração é ainda melhor. É o atacante Marcelino Ferraz. Docão, como é chamado pelos colegas, perdeu a perna esquerda depois de um acidente, em 2011.
Corintiano fanático, ele deixou de ir ao Paraná junto com o time para uma competição para assistir à final da Libertadores contra o Boca Juniors, no Pacaembu.
Docão garante que realizou um sonho ao defender o Timão (Foto: Divulgação/Corinthians Mogi)
- Foi emocionante quando fiquei sabendo que iria vestir a camisa do meu time. Joguei futebol na várzea e sempre quis ser profissional. Depois do acidente, conheci o futebol de amputados e me apaixonei. A parceria com o Corinthians me fez realizar esse sonho. Jamais imaginei que ia passar por tudo isso - disse Docão.
E, como toda boa rivalidade, os palpites precisavam aparecer. Pelo menos nisso os Rogerinho e Docão concordaram. Cada um puxando a sardinha para seu lado, obviamente.
- Domingo espero que a gente mantenha a freguesia. Aposto em 3 a 1 para o Corinthians - apostou o Docão.
- Eu vou de 3 a 1 para o São-Paulo - completou Rogerinho.
Independentemente do time que sairá vitorioso do Morumbi nesta tarde, no futebol de amputados, o Corinthians aplicou uma goleada de superação. E deu lição de rivalidade sadia.