Repare: o São Paulo tinha levado 3 a 0 do Santos quatro dias atrás e foi a Porto Alegre para ser o primeiro time a bater o Grêmio na Arena no Brasileirão. Assim, manteve-se na cola do Flamengo, que lutava contra o rebaixamento até um punhado de rodadas atrás e agora fecha o G-4, no qual o Santos, aquele que tinha feito 3 a 0 no São Paulo, só não está grudado porque levou 3 a 1 da Ponte Preta, que não vencia há seis jogos, incluindo aí uma derrota para o Vasco, que é lanterna e também é um dos três que conseguiram vencer as duas últimas partidas – a mais recente, sobre o Atlético-PR, outro que flerta com o G-4.
Confusão, né? É que o próprio Brasileirão de 2015 é uma grande miscelânea de resultados – um campeonato em que algumas de nossas certezas duram a eternidade de uma rodada. E ele seria tão divertido se não fosse assim?
Um ano depois de a Alemanha abrir sete feridas na autoestima do futebol brasileiro e jogar sal em cima, temos o melhor Brasileirão (o leitor concorda?) desde 2009. Há emoção, com briga forte pelo título, pela Libertadores e contra o Z-4; há grandes jogos, tão bem ilustrados no clássico mineiro; há solidez tática, como escancarou o Corinthians ao fazer 3 a 0 sobre o Joinville e aumentar para cinco pontos a vantagem na liderança; e há repetidos casos de mudanças radicais de expectativa – em que arrancadas como as de Flamengo e Santos permitem que o Vasco ainda não aceite a tumba em que se enfiou como moradia definitiva.
O jogo em 140 caracteres
O jogo foi amarrado até idos do segundo tempo, com os sistemas defensivos prevalecendo. O gol do Inter, com Vitinho, saiu em falha do Coxa.
O Coritiba pressionou no fim e terminou a partida com três vezes mais finalizações (21 a 7). Também teve mais posse (57% a 43%).
A torcida do Coritiba se mostrou irritada. Vaiou a entrada de Ivan e pegou no pé de Lúcio Flávio no segundo tempo.

O futebol muitas vezes não premia a justiça – não no sentido de recompensar o time que cria mais chances. O CORITIBA passou por isso neste sábado. No segundo tempo, martelou, pressionou, finalizou, reclamou de pênalti de Rafael Moura em Kleber Gladiador, mas não fez os gols que lhe dariam a vitória. Não jogou tão mal, mas somou apenas um ponto nos dois últimos jogos, ambos em casa. É um freio no que parecia ser uma reação rumo a uma zona mais tranquila da tabela.

O INTER não havia vencido fora de casa sob o comando do técnico Argel Fucks no Brasileirão. E o fez sem empolgar muito. Esteve bem na marcação, dificultando a saída de bola do adversário, e criou pouco na frente. No fim, permitiu pressão do Coxa – e aí teve Alisson, que retornou da Seleção, como destaque mais uma vez. Argel tem um grande mérito: deixou a equipe mais competitiva e até mais interessada, mesmo sem ser envolvente – isso basta para estar em posição melhor na dura briga por vaga no G-4.
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Jackson e Zé Roberto, de pênalti, fizeram os gols do Palmeiras, que ficou sem ser vazado depois de 12 partidas.
O domínio palmeirense se refletiu no número de finalizações: 15 contra quatro. A partida teve 63 minutos de bola rolando.
Quarto jogo sem vencer, quarto jogo levando gol para o Figueira, que tem a terceira pior defesa do Brasileirão: 37 gols sofridos.

Depois de três jogos sem vencer, derrotar o Figueirense em casa foi fundamental para que o PALMEIRAS voltasse a respirar melhor. A exibição, no entanto, não foi das melhores. O time até finalizou bastante, mas teve muitas dificuldades para furar o bloqueio defensivo do Figueirense. Os gols, mais uma vez, vieram em jogadas de bola parada, e a falta de alternativas com ela rolando é preocupante – especialmente pela qualidade do treinador alviverde. O tamanho da briga pelo G-4 exige mais do Verdão.

O FIGUEIRENSE somou apenas um ponto nos últimos quatro jogos e perdeu a tranquilidade que tinha na luta contra o rebaixamento. Diante do Palmeiras, o time praticamente não atacou. Sentiu a falta de Clayton, sua principal arma ofensiva, e perdeu um pouco da intensidade que tinha há algumas rodadas. Só não entrou na zona de rebaixamento porque o Coritiba também perdeu. Os resultados permitem que se pondere o tamanho do impacto da saída de Argel na harmonia alvinegra.
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Vagner Love fez o terceiro gol do Corinthians na partida, mas antes perdera uma chance dupla, claríssima. Malcom e Uendel abriram o placar.
Rildo durou três minutos em campo. Lesionou o ombro esquerdo e teve que ser substituído por Malcom, que abriu o marcador.
O Joinville foi dominado, mas não se acovardou diante de um adversário tão superior. Teve seis finalizações e três chances reais de gol.

O grande risco do CORINTHIANS era algum relaxamento contra o Joinville. Mas Tite sabe lidar com perigos psicológicos. O Timão foi concentrado, eficiente e dominador como um time que briga pelo título precisa ser ao enfrentar um concorrente mais fraco. Não foi brilhante, porque raramente é brilhante – mas foi competente, porque quase sempre é competente. Em um time tão equilibrado, manter a rotina é manter a qualidade. O Timão tem a segurança que se exige de potenciais campeões.

O JOINVILLE, antes de ser mau time, é um time dócil – e ser dócil não é nada bom no futebol. Nos últimos quatro jogos, a equipe catarinense não fez um gol sequer. Foram três empates por 0 a 0 e agora a derrota para o Corinthians. Na sequência, houve resultados bem aceitáveis (contra São Paulo em casa e Atlético-PR fora), mas é muito pouco para quem luta contra a queda. É provável que o JEC seja rebaixado – e será, em grande parte, culpa da falta de agressividade.
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Futebol é aquele esporte em que o time há seis jogos sem vencer bate a equipe há 13 partidas invicta. Foi o caso da Ponte contra o Santos.
O resultado foi construído em um primeiro tempo avassalador da Macaca: três gols em 43 minutos, com Ferron, Bady e Borges.
O Santos finalizou 19 vezes, e Marcelo Lomba foi fundamental na Ponte, com cinco defesas difíceis e quatro normais.

A PONTE PRETA parecia desabar rumo ao Z-4, e isso serve para valorizar ainda mais a vitória sobre o Santos. Bater uma equipe em ascensão e demonstrar capacidade é fundamental em uma campanha bipolar – que começou tão bem e depois despencou. O time de Campinas, com um pouco de autoestima, pode se convencer de que está mais próximo daquele que começou o Brasileirão do que deste que caminha para o fim da disputa. Foi um resultado tão importante psicologicamente quanto na matemática.

O SANTOS conquistou o direito de tratar a derrota para a Ponte como um ponto fora da curva. O primeiro tempo desastroso, quando comparado às partidas recentes do Peixe, ganha ares de excepcionalidade. O time voltou a cometer pecados que pareciam eliminados: apatia e desorganização. Mas são problemas que a equipe já mostrou saber remediar – especialmente após a chegada de Dorival. Com a dose certa, segue como candidato na briga por vaga na Libertadores.
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O Atlético-PR teve 63% de posse e 18 finalizações, contra 13 do Vasco. Mas parou em Martín Silva e na falta de precisão.
O desespero pela vitória fez Martín Silva levar amarelo por retardar o jogo já aos 20 do 1º tempo, quando o Vasco vencia por 1 a 0.
A quinta vitória do Vasco no Campeonato Brasileiro foi também a primeira com mais de um gol de diferença.

Que goleada do VASCO! Sim, para o Cruz-Maltino, fazer dois gols e não ser vazado é algo inédito, grandioso e mais um sopro de esperança no campeonato. A vitória passada trouxe confiança ao time, e isso fez total diferença. E deve continuar fazendo – a equipe parece mais organizada, troca passes sem nervosismo, possui alternativas para tentar o gol e marca bem. Mostrou que tem boa estratégia para tentar reagir na tabela: sair na frente do placar e se fechar para segurar o resultado.

Após três vitórias seguidas, três jogos sem vencer. O ATLÉTICO-PR surfa na sua gangorra, mas quem o acompanha não alivia na briga pela quarta vaga da Libertadores. O Furacão fez péssimo primeiro tempo contra o Vasco. Milton Mendes errou em deixar Daniel Hernández no banco e o colocou em campo antes do intervalo. O time até finalizou, mas sem qualidade, e errou muitos passes. Em um típico indício de que algo estava errado, Walter era o principal armador da equipe e, mais uma vez, o destaque.
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Alexandre Pato, gremista de infância, mas formado no Inter, abriu o placar com belo gol. Rogério ampliou, e Everton descontou.
Foi a primeira derrota do Grêmio na Arena no Brasileirão. O time gaúcho era o único invicto em casa na competição.
O São Paulo nem parecia estar na hostil casa gremista: teve mais posse (51% a 49%) e mais finalizações (15 a 12).

Desde que o GRÊMIO deixou de ser candidato ao rebaixamento e, salvo por Roger, se tornou até candidato ao título, este é o momento que mais pede cuidado. A primeira derrota na Arena no Brasileirão antecede dois jogos complicados fora, contra Atlético-PR e Palmeiras, e o Tricolor precisará somar pontos. A caminhada da equipe no campeonato dá segurança – de ocasional, não tem nada. A maior força do Grêmio é sua estabilidade, e ela, mais do que nunca, será necessária agora.

Levando-se em conta a força do adversário, o local do jogo, a situação na tabela e a pancada que levara na rodada anterior, a vitória sobre o Grêmio na Arena foi o resultado mais expressivo do SÃO PAULO em todo o Brasileirão. O time de Osorio teve volume de jogo, bom posicionamento defensivo e eficiência no contra-ataque. Foi uma atuação de time que vai brigar forte por vaga na Libertadores – o extremo oposto daquilo apresentado nos 3 a 0 que levou do Santos.
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Willian e Victor foram as personagens do jogo. O cruzeirense abriu o placar em falha do goleiro, que defendeu um pênalti do atacante no fim.
O clássico quase foi decidido em erro de Leandro Vuaden, que deu pênalti em falta fora da área – de Jemerson em Willian, que errou a batida.
Mano Menezes passou boa parte de seu primeiro clássico mineiro pulando na beira do campo, muito mais agitado do que o normal.

Mano Menezes melhorou o CRUZEIRO. Deu consistência defensiva à equipe, e dela derivou a força apresentada nos contragolpes. Mesmo com dez em campo desde os seis minutos do segundo tempo, quando teve Mena expulso, a Raposa teve chances de derrotar o Atlético. O empate soou como castigo no fim, e a posição na tabela, neste momento, preocupa mais do que o futebol mostrado em campo.

O ATLÉTICO-MG não teve contra o Cruzeiro a intensidade de outros tempos. Mesmo com um a mais no segundo tempo, não conseguiu pressionar com racionalidade. Abusou das bolas levantadas na área – conseguiu o empate na base do abafa. Giovanni Augusto, que vinha fazendo boas partidas, errou muitos passes, e as dificuldades em encontrar espaços foram muitas. Outros jogos recentes, caso da derrota para o Atlético-PR e mesma da vitória sobre o Vasco, aumentam o alerta.
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Uma pintura de Paulinho abriu a vitória do Flamengo. Ele pegou de primeira, na veia, e mandou no ângulo após cruzamento de César Martins.
O Flamengo chegou a seis vitórias seguidas no Brasileirão, empatado com o Atlético-MG como maior sequência positiva do campeonato.
Faltou volume à Chapecoense, que só esteve com a bola em 20min47s e teve apenas uma chance real de gol na partida.

A CHAPECOENSE vive seu pior momento no Brasileiro. São seis rodadas sem vencer, em uma sequência que não é preocupante apenas pelos resultados. As atuações também incomodam, e o primeiro tempo do jogo contra o Flamengo exemplifica bem a queda de rendimento. A Chape, que tinha campanha e desempenho sólidos, dá sinais de que pode engordar a briga contra a queda. Vem patinando contra times do mesmo bloco (Coritiba e Joinville, por exemplo) e perdeu força em casa.

Do Nordeste ao Sul, jogando bem ou não, no Maracanã ou no interior, em clássico ou contra adversários menos tradicionais, o FLAMENGO desembestou a vencer. Ninguém ganha seis partidas seguidas, em terrenos tão variados, contra adversários tão opostos, em situações tão diferentes, sem ter alcançado solidez para isso. Não há razões para duvidar do Rubro-Negro. Sua sequência até o fim é complicada (por exemplo, visitará os três primeiros colocados), mas o momento referenda a confiança.
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O Avaí virou no último ataque: bicicleta de Marquinhos, bola entre as pernas de Renan e André Lima completando, mas com falta no goleiro.
Não foi um bom jogo para os goleiros. Vagner, do Avaí, falhou no gol do Goiás, marcado por Bruno Henrique.
Embora o Avaí tenha ficado muito mais com a bola (57% a 43%), as equipes tiveram o mesmo número de finalizações: dez cada.

Gilson Kleina dava pulos de alegria (literalmente) ao rumar para o vestiário da Ressacada, em uma imagem que resumia o alívio do AVAÍ pela vitória no último minuto sobre o Goiás. O time não pode ser acusado de falta de insistência. Lutou até o fim e foi recompensado com a quebra de uma sequência de três derrotas – com dois gols nos dez minutos finais. Mas não existe heroísmo todos os dias. O rendimento ainda é pobre. Se não melhorar, o sofrimento vai perdurar até os últimos segundos do campeonato.

Ganha uma, perda a outra; ganha a seguinte, volta a perder. Nas últimas seis rodadas, o GOIÁS é a personificação da oscilação. Poderia ter quebrado isso contra o Avaí, e tem todo o direito de reclamar de falta em Renan no lance da virada, mas também poderia jogar melhor. De qualquer forma, não há motivos para desespero. O Esmeraldino não está entre as quatro equipes de pior futebol no campeonato. Tende a encontrar alívio nas próximas quatro rodadas – três delas em casa contra concorrentes diretos.
O jogo em 140 caracteres
O Sport finalizou quatro vezes, e o Fluminense, 12. Mas sem eficiência não adianta concluir três vezes mais. Nem mesmo Marcos Junior salvou.
Palco de Copa do Mundo, duelo de Brasileiro e público de jogo-treino. Os 6.939 torcedores na Arena Pernambuco refletem a fase ruim do Sport.
Gangorra: os times vivem um momento tão delicado que o confronto acabou sendo direto. E o Sport pegou o 10º lugar do Tricolor, agora no 11º.

Houve uma época em que o SPORT frequentava o G-4 – e a torcida apoiava. Nem faz tanto tempo que chegou a sonhar com Libertadores. Mas a realidade mudou, e o Leão, que não vencia há dez partidas, precisava ganhar porque via o Z-4 se aproximar. Enfim, venceu. Mas não convenceu. Fez o gol quando o rival era melhor, depois pouco ameaçou e, em casa, aceitou a pressão no fim. Se o objetivo agora é ficar na elite, valeu um resultado pragmático. Se for novamente o G-4, é preciso mais – a distância é alcançável.

Fred voltou após 21 dias, mas não viu a cor da bola. Ronaldinho segue fora. Algumas coisas voltam ao normal, outras continuam uma incógnita. O que não muda no FLUMINENSE do segundo turno é a campanha: seis jogos, só um ponto ganho. É lanterna do returno e faz campanha de rebaixado nas últimas 13 rodadas. O G-4 está cada vez mais distante – sete pontos, mesma distância do Z-4. Para quem sonhava alto, a briga está no meio da tabela. Ainda assim, não com o futebol apresentado neste domingo.
* Com Daniel Dutra, Daniel Mundim e Pedro Venâncio.