O Corinthians anunciou nesta sexta-feira ter feito um acordo para quitar a dívida com o JMalucelli, do Paraná, que envolve o volante Jucilei. Há um mês, a Justiça ordenou o bloqueio de R$ 23 milhões do Timão, após pedido dos advogados do hoje inativo time paranaense.
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Neste novo acordo, serão 12 parcelas mensais a partir de agosto, com um valor de R$ 17 milhões ainda a pagar. A tendência é cada um das parcelas seja de R$ 1,4 milhão.
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Houve, sim, esse pedido de penhora. Mas fizemos um acordo em duas frentes. Uma foi de reduzir o valor da pedida e a outra de aumentar o prazo. Vou dar uma informação que não lembro exatamente, mas parcelamos em 12 pagamentos a partir do final de agosto. Foi o acordo que fizemos e renegociamos o que eles estavam pleiteando. Foi de R$ 20 milhões o valor total do acordo. E já tínhamos pago uma parte. Então, deses R$ 20 milhões, R$ 3 milhões já pagamos. Ficam R$ 17 milhões para pagar nas parcelas – explicou o gerente financeiro do Corinthians, Roberto Gavioli.
A penhora aconteceu depois de um acordo inicial, firmado em dezembro de 2019, não ter sido cumprido pelo Corinthians. Seriam 13 parcelas de pagamento (relembre o caso abaixo). De acordo com Gavioli, a paralisação pelo coronavírus impossibilitou o cumprimento do compromisso.
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O processo do Malucelli, depois da pandemia, infelizmente, ficou impraticável. Mas agora temos esse acordo. A outra parte acabou tomando medidas judiciais. Mas sentamos com eles e fizemos esse acordo de reparcelamento. Deve ser homologado pela Justiça nos próximos dias – completou Gavioli.
O gerente minimizou o fato de o processo ter gerado a penhora de um valor alto como os R$ 23 milhões.
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Bloqueio judicial faz parte. Processos caminham celeremente na Justiça. E tem procedimento de execução provisória. Ainda que não tenhamos terminado a discussão do processo, eventualmente o juiz decide pelo bloqueio. É comum para qualquer um que tenha ação trabalhista. A gente administra isso com pagamentos e acordos – encerrou.
Problemas com Conselho Fiscal
A dívida com o Malucelli gerou problemas internos para a diretoria do Corinthians. O Conselho Fiscal reprovou o balanço de 2019 por não ter nele especificado o acordo que havia sido firmado em dezembro, o que aumentaria o déficit total do exercício.
O presidente Andrés Sanchez admitiu o erro e disse que o balanço será refeito após ser detectada a inconsistência. Uma nova votação deve ser feita pelo Conselho Fiscal, CORI (Conselho de Orientação) e Conselho Deliberativo. Este último, sim, com poder efetivo de aprovação ou reprovação de contas.
O CORI chegou a votar as contas depois do Conselho Fiscal, e emitir parecer desfavorável, sugerindo a reprovação. Andrés pediu a anulação da reunião e quer uma nova votação depois de refeito o balanço, já que esta mais recente, segundo ele, seria apenas para analisar o relatório do Conselho Fiscal.
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Quero deixar bem claro e assumir nosso erro. Houve falha. Estamos corrigindo. O CORI não tinha nem balanço para votar na última reunião. Era só para averiguar a decisão do Conselho Fiscal. Tinham aprovado tudo e, de repente, foi votado e reprovado. É um ato político de algumas pessoas. Sei da minha história e do meu tamanho no Corinthians. Todos sabem minha história, ninguém vai me apequenar. Corinthians não pode passar por isso – disse Andrés.
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Vamos esperar refazer (o balanço) para colocar em votação. Conselho Fiscal reprovou pelo erro do Malucelli e ia para o CORI para fazer adequação. Decidiram votar, mas todos que estão no CORI vivem a política do clube. Os órgãos são independentes, mas o lado político vai pesar. Já briguei para aprovar conta de outros presidentes e comigo não vai ser diferente – completou.
O gerente financeiro Gavioli voltou a minimizar o problema durante a coletiva de imprensa desta sexta.
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Fizemos um acordo para o pagamento do processo. Foi no início de dezembro, foi redigido e incluído nos sistemas processuais. E infelizmente e não foi incluído em 2019. O processo de homologação e publicação desse acordo que leva, normalmente, 30 dias, foi produzido pelo tribunal em cerca de uma semana. Infelizmente, ocorreu o erro. Não é desejado, mas é previsto nas normas contábeis.
Entenda o caso
Em 2009, o Corinthians comprou 50% dos direitos de Jucilei por R$ 2 milhões. A outra metade permaneceu com o JMalucelli, clube que já não existe mais. Dois anos depois, Jucilei foi vendido ao Anzhi, da Rússia, por 10 milhões de euros, quase R$ 23 milhões na cotação da época.
O JMalucelli alega que não deu anuência ao Corinthians para a transação e pede uma indenização. Com base na multa contratual que tinha o jogador, o clube paranaense também cobrou um valor maior do que os R$ 11,5 milhões que teria direito pela operação.
No total, o Timão pagou R$ 9,9 milhões ao JMalucelli, de forma parcelada. Os paranaenses, porém, alegavam ter direito a mais R$ 5,5 milhões e, em 2015, foram à Justiça. Um ano e meio depois, a ação foi julgada improcedente. Em 2018, o JMalucelli entrou com apelação e conseguiu reverter a decisão.
Finalmente, no ano passado, o processo foi transitado em julgado (quando não cabe mais recursos).
Por conta de correção monetária e multas, o valor da condenação quase triplicou. Em dezembro do ano passado, as partes assinaram um acordo no qual o Corinthians se comprometeu a pagar R$ 17,9 milhões: R$ 14,4 milhões ao JMalucelli (em 13 parcelas) e R$ 3,5 milhões ao escritório de advogacia Mafuz Abrão, Ribeiro & Caron Advogados Associados (em cinco prestações).
Porém, o Corinthians não efetuou o pagamento, o que acarretou em novas multas e juros, chegando ao valor de R$ 23 milhões, que foi penhorado pelas cotas de televisão a receber do Corinthians. Com o acordo, o valor volta para a casa dos R$ 17 milhões, depois de mais R$ 3 milhões terem sido pagos.
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