O Corinthians passou o primeiro semestre de 2021 vivendo à risca a política de contenção de gastos e reestruturação financeira: 15 jogadores deixaram o clube e nenhuma contratação foi feita. Em julho, decidiu se reforçar e trouxe dois nomes fortes, veteranos, com passagens pela seleção brasileira – Renato Augusto e Giuliano.



A dupla viveu ciclos diferentes na preparação de Tite para a Copa do Mundo de 2018, iniciada em junho de 2016. Ambos estiveram logo na primeira convocação do treinador para duelos das Eliminatórias, mas apenas Renato se manteve na lista até o torneio.


Adenor Bacchi contou desde o início do trabalho com o auxiliar Sylvinho, braço direito que havia sido até escolhido para treinar a seleção brasileira olímpica antes de assumir seu primeiro projeto como treinador no Lyon, em 2019.


As convocações para a Seleção, inclusive, permitem analisar um possível funcionamento do Corinthians de Sylvinho com a dupla de meias como titular. Afinal, como jogar com os dois no 4-3-3 (4-1-4-1) do treinador? O duelo Brasil x Bolívia, em outubro de 2016, pode ajudar a explicar.


Trio do meio

Jogando à frente de Fernandinho, volante do Manchester City, Renato Augusto pela esquerda e Giuliano pela direita formaram o trio central no sistema. Foi a única partida deles como titulares ao mesmo tempo, além de outros 20 minutos finais contra a Venezuela, e 10 contra a Colômbia.


Marcador, porém ótimo com a bola nos pés, Fernandinho dava condição para que Renato e Giuliano se alternassem nas subidas e também na descida da marcação. Se a bola tendia para um lado, era obrigação do mais próximo fechar o espaço e encurtar o campo do portador, enquanto o outro se dava a "liberdade" de estar um passo adiantado na linha, de olho no contra-ataque.


"A gente não teve uma conversa individual ainda, mas vendo os treinos e sabendo o que posso fazer, o Sylvinho tem mantido o sistema com três homens no meio, então tenho jogado como um dos homens aberto pelo lado direito, ou até esquerdo, mas na maioria das vezes é mesmo pelo lado direito. Acho que essa é a função que ele me vê fazendo", Giuliano, em coletiva de apresentação.


Ou seja, se a pressão ocupando o espaço não fosse o suficiente, os meias que não têm como primeira função a marcação tinham que recorrer ao bote. Ainda que não funcionasse, na sobra estaria o primeiro volante da vez – naquela equipe, Fernandinho. A compactação era o segredo.


Com a dupla saudável, imagina-se a concorrência dificultada nas posições avançadas da linha dos meias, o que faria com que Gabriel, Xavier e Cantillo disputassem a vaga que resta – atrás dos dois.


Até o momento, Sylvinho priorizou ter Roni e Gabriel como esses homens da segunda linha que protegeriam Cantillo, armador. Pressionado, o técnico viu a estratégia limitar o poderio ofensivo da equipe, anular a transição meio-ataque e dificultar a criação de oportunidades reais de gol. É a quinta equipe que menos finaliza no campeonato, apenas o 11º melhor ataque.

Procura-se gols

A dificuldade mais escancarada do Corinthians é simples: chegar ao gol. De acordo com o Espião Estatístico, no Brasileiro é apenas o 13° em médias de assistência para gol por jogo (0,5) e o 17° quando o assunto é passes para finalização, com média de 6,93 por jogo.


Entre todos os meias do elenco, apenas Gabriel e Cantillo participaram diretamente de um gol com passe – ambos apenas uma vez. A inserção de qualidade e naturalidade na posição com os reforços é crucial para fazer a engrenagem de Sylvinho rodar.

Com Giuliano pela direita, Renato abusou de uma jogada cada vez mais característica em sua carreira, que consiste em ocupar o espaço do lateral-esquerdo na saída de bola, permitindo a subida do jogador em questão e dando a ele mais campo e visão para fazer seus lançamentos.


Como arco e flecha, se viu por vezes contra a Bolívia, Giuliano infiltrando o ataque para receber essa bola de Renato entre o volante e o zagueiro, ou até nas costas do último defensor.

Também criador, Giuliano não só flutuava e invertia o lado, como baixava a jogada para receber e iniciar com qualidade. Performou como verdadeiro "box-to-box", figura do meio que busca a bola na base e pisa na área para finalizar.


Foi assim que fez no gol de Philippe Coutinho, aos 24 do primeiro tempo, quando usou as laterais para tabelar com Dani Alves, driblou dois e serviu o companheiro na cara do gol.


O único atleta utilizado por Sylvinho na função com características parecidas foi Vitinho, que embora tenha marcado seu primeiro gol como profissional, é jovem e dá sinais da necessidade de maturação natural do atleta.


Dá para jogar contra todos assim?

Por mais que o nível do Campeonato Brasileiro demonstre que a equipe do Corinthians não é páreo – ainda – para adversários que brigam pelo título, a utilização da dupla de meio-campo não é condicionada apenas pela característica dos jogadores, mas sim de quem estará ao seu redor.


Em 16 duelos contra os considerados "grandes," o Corinthians venceu apenas em duas oportunidades – Fluminense e Santos.


É natural que Sylvinho use Renato e Giuliano nesse tridente quando o adversário, de mesmo nível ou inferior, se postar com linha baixa e esperar o Corinthians criar. Com eles, a missão de furar ferrolhos é facilitada, ainda mais com uma postura ofensiva. Essa situação de jogo, inclusive, permite ainda que o colombiano Cantillo seja o escolhido como primeiro volante.


Agora, em disputas contra adversários superiores, a filosofia de Sylvinho indica que o uso de um meia mais conservador, que possa fazer o "trabalho sujo" da cobertura de área como Xavier e Gabriel seja mais provável.

Alternativas

Na mesma sequência de jogos da Seleção, Renato e Giuliano estiveram juntos em campo nos últimos 10 minutos do duelo contra a Venezuela e 20 contra a Colômbia. Na primeira ocasião, Giuliano entrou na parte final do jogo e flutuou entre a ponta esquerda e direita, dando sinais que se necessário, em situações específicas, pode atuar também na linha de três da frente.



A qualidade do jogo dos dois pode ser complementada pela possível chegada de Roger Guedes, que ainda busca rescisão na China. O estilo do atleta soma pela ponta esquerda como mais uma fonte de produção direta de gols, seja finalizando a jogada ou dando o último passe.

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