8/2/2017 10:33

Centralizador, pão duro e frasista: 20 anos da morte do mais folclórico presidente do Corinthians

Centralizador, pão duro e frasista: 20 anos da morte do mais folclórico presidente do Corinthians
Neto e Vicente Matheus, em 1990


A frase acima está presente na lápide daquele que é considerado o mais folclórico presidente da história do Corinthians. E resume bem quem foi Vicente Matheus.


Filho de pai português e mãe espanhola, ele foi o comandante nos anos difíceis sem título, mas também nos anos de duas das principais conquistas alvinegras: o Campeonato Paulista de 1977, que encerrou um jejum de 23 anos sem taças, e o Campeonato Brasileiro de 1990, o primeiro nacional de relevância do clube.

Nesta quarta-feira, completam-se exatos 20 anos da morte de Matheus, que ocorreu às 19h30 de um sábado, 8 de fevereiro de 1997, após 14 dias de internação no Instituto do Coração, em São Paulo. O presidente corintiano foi enterrado no cemitério da Quarta Parada, na zona leste (seu território preferido) de São Paulo.

Vinte anos é também o período que ele ficou no poder no Corinthians, somando-se todas às vezes em que foi presidente. Mas, nas contas de quem o conheceu, foi muito mais.

Isso porque ajudou a eleger Miguel Martinez, eleito em 1971 e deposto em 1972; Waldermar Pires, de quem foi vice até romper politicamente; Roberto Pasqua, a quem elegeu em 1987; e Marlene Matheus, sua mulher, em 1991.

"Ele era um homem que acima de tudo amava o Corinthians. Fazia tudo pelo Corinthians e, apesar do que muitos pensam, administrava com a razão e não com a emoção", disse José Texeira, 81, que foi técnico, auxiliar-técnico e coordenador do clube alvinegro.

Matheus foi um dos 11 filhos do português Luiz Matheus com a espanhola Manglória. Nasceu em 28 de maio de 1908 na Espanha, em um vilarejo chamado Toro, na região de Zamora, no norte, próximo da fronteira com Portugal.

Em busca de um futuro melhor, o pai dele veio primeiro para a Argentina e depois para o Brasil, em 1912, onde se fixou e começou a batalhar em uma pequena venda. Vicente Matheus só chegaria dois anos depois, vindo de navio direto do porto de Cádis. Com o pais, passou a viver em São Paulo, na região de Guaianases.

Matheus era de origem pobre, humilde. Inicialmente ajudava os pais no armazém, mas as coisas começaram a melhorar com o arrendamento de uma pedreira, segundo consta no livro "Quem sai na chuva e para se queimar", que relata a vida do dirigente.

Aos poucos passou ajudar o pai na pedreira, primeiro carregando pedras, depois as quebrando e por fim gerenciando os pagamentos. Quando o pai morreu, acabou herdando naturalmente a administração do negócio - abandonando de vez a chance de estudar.

A pedreira prosperou a medida que Vicente Matheus conseguiu vencer licitações para pavimentar as ruas da cidade, entre elas a rua São Jorge, que liga a avenida Celso Garcia até o portão de entrada da sede do clube alvinegro, na zona leste.


Vicente Matheus com presente de Natal para Palhinha


Matheus e o Corinthians
A pavimentação da rua São Jorge ocorreu na década de 30, pouco anos após o clube ter se mudado da Ponte Grande para o local. Foi quando Vicente Matheus, que já tinha identificação com o clube, ficou mais próximo do Corinthians.

Mudou-se para o Tatuapé, bairro que moraria até morrer, em 1933, após casar-se com a primeira esposa: Ruth Pereira. No ano seguinte tornou-se sócio do clube, passou a conhecer os homens que mandavam e chegou ao conselho.

Ficou cada vez mais próximo do então presidente Alfredo Trindade, até ser nomeado membro da diretoria de futebol em 1954, ano da histórica conquista do Paulista do IV Centenário de São Paulo - que marcava a celebração dos 400 anos da cidade. Também conheceu os ídolos corintianos, como Luizinho, Cláudio, Baltazar e Gilmar.

Foi o início da vida política no clube.



Vicente Matheus na casa de Rivellino, o astro do Corinthians nos anos 1970

Matheus conheceu o advogado Wadih Helu nesta época. Ficaram amigos e passaram a compartilhar as mesmas ideias. Uma delas é que Trindade, ao final dos anos 50, já não era mais o mesmo presidente. Consideravam ele ultrapassado e responsável por deixar o Corinthians decair após um período de muitas glórias.

Viraram aliados e decidiram juntos batalhar nas urnas contra Trindade, então padrinho político de ambos. Era uma nova juventude alvinegra e deu certo.


Donald Trump, Vicente Matheus e Marlene Matheus no Corinthians, nos anos 1970


Matheus como presidente e Helu como vice venceram o pleito, derrubando Trindade após dez anos no poder. Para retribuir a confiança dos sócios, Matheus gastou uma fortuna (5 milhões de cruzeiros) para tirar Almir, o Pernambuquinho, do Vasco, e trazer para o Corinthians. Era o Pelé Branco, como era conhecido o jogador, uma esperança de fazer o time novamente campeão. No entanto, ele fracassou. Foi boicotado por alguns atletas, inciumados com o alto salário do craque, e saiu antes do fim do contrato.

A presidência de Matheus também foi turbulenta. Não havia dinheiro para outras contratações. Veteranos acabaram forçados a sair do clube, como o goleiro Gilmar e o craque Luizinho, emprestado ao Juventus. Antes do fim do mandato, ele acabou brigando com Wadih Helu, que decidiu sair como candidato em 1961 e derrotou Matheus.

Sentindo-se traído, o dirigente de sangue espanhol passou uma década inteira atacando o antigo aliado de todas as formas possíveis até voltar ao poder. O que de fato conseguiu exatos dez anos depois, em 1971, quando apoiou Miguel Martinez à presidência.

Martinez foi eleito, com Matheus como vice. Era estranho, mas todos sabiam que era o vice quem comandava. O mandatário não conseguiu sucesso com o time e ainda enfrentou problemas financeiros. Acabou deposto no ano seguinte e Matheus iniciou uma nova era no Parque São Jorge, de agosto de 1972 até abril de 1981.

Já nesta época ele estava com a segunda mulher: Marlene Matheus, que conhecerá em 1955, numa festa de comemoração do título do IV Centenário, e com quem se casou em 14 de agosto de 1968 - ela passaria a ajudá-lo no clube.

Sustentado no sucesso de suas empresas, Matheus comandou o clube com rigor financeiro, centralizou o poder em si e ficou presente no futebol.

"Ele era homem de palavra. Se ele falasse algo, não voltava atrás. Isso era bom e ao mesmo tempo ruim. Uma vez decidido não tinha mais discussão. Ele também tinha fama de ser pão duro, mas não era bem assim. Ele nos dizia que o dinheiro era do Corinthians, não era dele para gastar como quisesse", relembrou José Teixeira à ESPN.

No poder, Matheus fez de tudo para tirar o Corinthians da fila de títulos. Contratou craques, buscou técnicos experientes, caçou sapos enterrados no Parque São Jorge (acreditando que o jejum era motivado por algum "trabalho") e chegou até ser radical mandando para o Fluminense o maior jogador do time (e do clube): Roberto Rivellino, após o time perder a decisão do Campeonato Paulista de 1974 para o Palmeiras.

"Sai do Corinthians porque o Vicente Matheus embarcou numa campanha armada pelo J. Hawilla [que colocou Rivellino como culpado pela derrota]. Mais do que ninguém eu queria ser campeão", disse Rivellino para a reportagem no ano passado.

Em 1977, após 23 anos de espera, o Corinthians finalmente conseguiu sair da fila de títulos. Ao derrotar a Ponte Preta em uma final melhor de três, a equipe voltou a erguer a taça. Na noite de comemoração, Matheus teve um sapato levado por um fã e voltou para a casa somente no dia seguinte, segundo relatos de Marlene Matheus.

Matheus ainda veria o time ganhar mais um Paulista, em 1979, quando graças a uma artimanha conseguiu adiar a decisão do Estadual por dois meses prejudicando o Palmeiras, que era a principal força da competição. Na decisão a taça veio contra a Ponte.

Ficou na presidência até abril de 1981, quando, impossibilitado de se reeleger pelo estatuto do Corinthians, ajudou Waldemar Pires a ganhar a eleição. Mas, a exemplo do que ocorrerá com Wadih Helu anos antes, eles romperam e viraram rivais.

Matheus passou a batalhar para retomar o poder. Ajudou a eleger Roberto Pasqua em 1987, mas só retomou completamente a felicidade em 1987, quando retomou o cargo. Foram dois títulos neste período: o Paulista de 1988, que revelou o goleiro Ronaldo, e o Brasileiro de 1990, o primeiro título nacional de relevância do Corinthians.

Em 1991, sem poder se eleger novamente, indicou a mulher Marlene Matheus, que concorreu e venceu o pleito, em um mandato que durou até fevereiro de 1993.

"Mas na prática quem governou foi o Vicente Matheus. Ele era assim, sabe? Não vou dizer autoritário, mas era centralizador, turrão, um homem rico e que não precisava dar satisfação para ninguém. Ele queria ver o Corinthians bem. Lembro de reuniões na casa dele que a Marlene ajudava a convencê-lo dizendo: 'Se é bom para o Corinthians, é bom para você também'. Mesmo quando exigia algum sacrífico pessoal dele, sabendo que a decisão era boa para o Corinthians, ele seguia e aceitava", disse Teixeira.


Vicente Matheus ao lado do lateral GIba e do meia Barbieri, em 1989


Últimas batalhas
Vicente Matheus pretendia retomar a presidência em 1993, mas foi derrotado pelo antigo aliado Alberto Dualib. Confessou publicamente que sentiu-se traído e, a exemplo do que havia feito nos anos 60, iniciou uma campanha para derrotar o rival.

No entanto, a saúde não ajudou o ex-presidente dessa vez. Em 1997, ainda durante o primeiro mandato de Dualib (que foi ampliado graças à Lei Zico), Matheus foi internado para retirar um tumor no estômago. Não saiu mais do hospital.

Foram 14 dias de sofrimento. Até morrer em 8 de fevereiro de 1997.

No dia do velório dele, em 9 de fevereiro, o Corinthians estreou pelo Campeonato Paulista e derrotou a Inter de Limeira por 2 a 0. A despedida de Matheus foi com uma vitória do grande amor que o mais folclórico presidente da história do clube teve.

Frases
Vicente Matheus ficou conhecido pela frases diferentes ou com erros que costumava falar em ambientes públicos. "Ele era assim também nos ambientes reservados. Aquilo não era um personagem para a imprensa ver. Era a essência dele. Ele não falava 'técnico', falava 'tenico', sabe? Mas era um homem muito inteligente, capaz de surpreender muitos diplomados e estudiosos. Ele teve muita vivência", relembrou Teixeira.

"Comigo ou sem migo o Corinthians será campeão"

"Quero agradecer à Antarctica, pelas Brahmas que mandou de graça pelo nosso aniversário"

"Depois da tempestade, vem a ambulância"

"Peço aos corintianos que compareçam às urnas para naufragar nossa chapa"

"Com o meu dinheiro, faço o que quiser. Mas com o do Corinthians não. Nem deixo fazer"

"O difícil não é fácil"

"Tive uma infantilidade muito difícil"

"Minha gestação foi a melhor que o Corinthians já teve"

"Esse é um resultado que agradou gregos e napolitanos"

"Nós não temos medo de desafios. É como eu sempre digo: quem sai na chuva é para se queimar"

"O Sócrates é invendável e imprestável"

Não estou nem um pouco preocupado. Pode ser que ele nem apareça"
[Sobre a passagem do cometa Halley, em 1985]

"Não contratei o Falcão, mas contratei o Lero-Lero"
[Sobre a vinda de Biro-Biro]

"Haja o que hajar, o Corinthians vai ser campeão"

"O jogo só acaba quando termina"

"O maior general da França é o General Eletric"

"Jogador tem que ser completo como o pato, que é um bicho aquático e gramático"

"Dirigir um clube de futebol é como uma faca de dois legumes"

"De gole em gole, a galinha enche o papo"

"O Corinthians é uma ditadura mole"

"Vamos mesblar jovens e experientes no time"

"Não queremos 'pé-de-bagré' no time"


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11250 visitas - Fonte: ESPN

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saudoso vicente mateus. obrigado por todo amor que tem pelo Corinthians. falta isso nos dirigentes de hoje. um abraço a familia do vicente mateus. VAI Corinthians

Na minha opinião foi o maior presidente do Corinthians de todos os tempos! !!! Deveria a arena ter seu nome...

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