Fechar todos os botões da camiseta. Usar meia de cano alto. Passar por todos os canais da televisão antes de dormir. Comer ao menos uma fatia de abacaxi antes de cada refeição. Usar somente tênis preto. Vestir alguma peça de roupa ou portar ao menos um objeto na cor azul. Ouvir sempre três músicas específicas em uma mesma sequência.
Essas são apenas alguns dos inúmeros rituais levados a sério no quarto 7 do CT Joaquim Grava, dividido pelo lateral-esquerdo Fábio Santos e pelo meio-campista Renato Augusto. Se depender de superstições, o Corinthians está bem protegido enquanto a dupla vestir a camisa alvinegra.
– O meu caso é de superstição. O dele é TOC (transtorno obsessivo-compulsivo) – brinca Renato.
Tudo começa pelo quarto dividido pelos jogadores. Quando torcedores invadiram o centro de treinamento do Corinthians, em fevereiro deste ano, Fábio Santos – então recém-operado de uma hérnia – correu em direção ao local para se proteger.
Do lado de dentro, ouviu revoltados alvinegros chutarem a porta, em busca de algum atleta, mas permaneceu seguro. Desde então, o espaço é considerado “de sorte”.
Nas concentrações, antes dos jogos, em pequenos fatos do dia a dia... O lateral-esquerdo mantém uma série de práticas consideradas essenciais por ele mesmo.
E assegura estar influenciando Renato Augusto, que também gosta de superstições. Antes de dormir, por exemplo, Fábio Santos passa por todos os canais disponíveis na televisão. E impõe a si mesmo um limite para quebrar a sequência.
– Por exemplo: comecei na Globo. Aí vou passando, mas também cansando. Se passo rápido por alguma coisa que me interessa e volto, já conto uma. Se eu voltar quatro vezes, tenho de começar de novo. Todas as vezes antes de dormir tenho de fazer isso, senão não durmo direito – contou o jogador, aos risos.
Campeão do Brasileirão de 2011, da Libertadores e do Mundial em 2012, e da Recopa e do Paulistão em 2013, Fábio Santos faz relações diretas entre as conquistas do clube e suas manias.
Durante todo esse período, antes dos jogos, o lateral sempre ouvia três músicas da banda Charlie Brown Jr – na mesma sequência. Quando o Timão interrompeu a série de títulos, no segundo semestre do ano passado, a prática foi extinta.
– Eu achava que era meio maluco. Mas depois que vi o Fábio... Que é isso, cara – brinca Renato Augusto

Fábio Santos e Renato Augusto se divertem com manias que "dão sorte" ao Corinthians
As práticas do meio-campista são mais voltadas para os dias de jogos. Ele utiliza o mesmo par de tênis, completamente pretos, para ir aos estádios. Toma as bebidas disponíveis no vestiário em uma ordem exata. Sob o uniforme, coloca um calção térmico. Tudo para “ajudar o Corinthians” e “evitar lesões”, segundo ele próprio.
– Eu chego no vestiário, pego um café. Vou trocando de roupa. Aí passo na fisioterapia e tomo um copo de água. Quando volto para o aquecimento, tomo isotônico. Depois, carboidrato. Tenho esse meu ritual da bebida também.
Já Fábio Santos, no âmbito da alimentação, costuma dar trabalho aos profissionais do Corinthians. Antes de comer, seja no café da manhã, no almoço ou no jantar, o lateral pede uma fatia de abacaxi. Se tem vontade de comer qualquer outra coisa, mistura à fruta, para não deixar o ritual de lado.
– Quando almoço ou janto, tenho de comer um abacaxi antes de cada refeição. Às vezes a gente viaja e não tem, eu falo para acharem abacaxi. Pode não ser até para ganhar o jogo, mas tem a questão de machucar também... Dá sorte.
Mesmo quando as combinações são para lá de estranhas...
– O cara, às vezes, vai comer doce de leite e passa no abacaxi. O que tem a ver, cara? – interrompe Renato Augusto, gargalhando.
Quando não está com os companheiros de elenco, Fábio Santos também tem diversos costumes. Atualmente utiliza camisetas totalmente abotoadas e meias de cano alto. Antes da derrota por 5 a 2 para o Fluminense, pela penúltima rodada do Campeonato Brasileiro, o lateral quebrou uma tradição: em vez de meias brancas, calçou pretas. O resultado não foi nada agradável.
– Você acha que eu acho bonito isso aqui? Só que contra o Fluminense eu fui de meia preta. Batata, tomamos cinco e eu errei um pênalti. Já queimei aquela meia – afirmou, apontando o par que utilizava durante a entrevista.
Fábio Santos sempre inicia o treino tocando a bola com a perna direita e nunca veste colete. Renato Augusto, certa vez, comprou 16 sungas azuis por achar que a cor dava sorte.
Fábio Santos nunca deixa um tênis com a sola virada para cima. Renato Augusto sempre utiliza um meião cortado durante os jogos. As histórias parecem não ter fim.
Em um fato, ambos concordam: Paolo Guerrero, artilheiro do Corinthians em 2014, com 16 gols, não foi responsável pela vaga na Taça Libertadores da América, mas sim as superstições.
– O Paolo não resolve nada. O que resolve são essas coisas aqui. Ele faz os golzinhos dele, mas mal sabe o que sofremos na concentração para dar certo – finalizou o lateral.