A contratação de Dorival Júnior pelo Corinthians, anunciada no fim de abril, pode representar um novo capítulo para o clube paulista, que viveu uma primeira metade de temporada marcada por instabilidade técnica, polêmicas nos bastidores e um elenco aquém do seu potencial. Com um currículo vitorioso e postura moderada, Dorival chega com respaldo da diretoria e respaldo da arquibancada, mas o desafio é grande: reorganizar um time fragmentado e devolver ao torcedor o que ele mais deseja — confiança.
A repercussão foi imediata. Nas rodas de conversa esportivas e nas análises de especialistas, os
prognósticos futebol passaram a projetar uma retomada sólida do Corinthians sob o novo comando. Não sem motivo: Dorival coleciona títulos recentes por clubes como Flamengo (Libertadores e Copa do Brasil, 2022) e São Paulo (Copa do Brasil, 2023), além de ter comandado a Seleção Brasileira por mais de um ano. O histórico pesa a favor de uma reconstrução com base em equilíbrio, paciência e competitividade.
Contrato longo e projeto em curso
Dorival assinou vínculo com o clube até dezembro de 2026. O acerto foi celebrado como parte de um projeto de médio prazo, algo raro no futebol brasileiro atual. Segundo fontes ligadas ao departamento de futebol, o técnico teve autonomia para formar sua comissão técnica — com Lucas Silvestre (auxiliar), Pedro Sotero (analista) e Celso Rezende (preparador físico) — e iniciou conversas diretas com atletas e lideranças internas ainda antes de sua estreia oficial.
No gramado, a primeira impressão foi positiva. Mesmo com um time misto, Dorival estreou com vitória por 1 a 0 sobre o Novorizontino, fora de casa, pela Copa do Brasil. A decisão de preservar titulares, aliada à confiança nos reservas, indicou uma abordagem técnica que valoriza a gestão do elenco e o controle de desgaste — ponto criticado na passagem anterior de Ramón Díaz, que foi demitido após sequência de resultados ruins no Brasileirão.
Diagnóstico claro: o elenco tem potencial
Em sua apresentação, Dorival não poupou elogios ao grupo corintiano. “É um dos cinco melhores elencos do país”, afirmou. E completou: “A única coisa que falta é confiança e sequência de trabalho”. A avaliação animou o torcedor, especialmente após uma temporada de altos e baixos. O título paulista conquistado em cima do Palmeiras foi ofuscado pelas eliminações precoces na Libertadores e pela campanha oscilante na Sul-Americana.
Internamente, a diretoria também admite que o elenco precisa de ajustes. Dorival já teria pedido três reforços: um zagueiro, um meia criativo e um atacante de beirada. As negociações, até o momento, correm com cautela. A prioridade é evitar contratações pontuais que não se encaixem no modelo de jogo idealizado pelo treinador, que preza por linhas compactas, posse com objetividade e intensidade nas transições.
Ambiente sob controle
Fora de campo, Dorival também encontra um clube em processo de reconstrução institucional. O afastamento do presidente Augusto Melo, investigado por supostas irregularidades na rescisão do contrato de patrocínio com a VaideBet, abriu uma crise política que ameaçou respingar no vestiário. Até agora, no entanto, a bola seguiu rolando.
Segundo pessoas próximas ao treinador, ele tem atuado como um estabilizador natural do ambiente. Seu estilo discreto, sem polêmicas públicas ou atritos com atletas, já começa a surtir efeito. Atletas como Yuri Alberto, Fausto Vera e até o polêmico Memphis Depay, que chegou a ser afastado por descumprimento de regras internas, demonstraram mais engajamento nos treinos recentes.
Competição e planejamento
O Corinthians ainda disputa a Copa do Brasil e a Copa Sul-Americana — esta última com chances remotas de avanço. No Campeonato Brasileiro, o time se mantém no bloco intermediário da tabela e precisa de sequência para sonhar com uma vaga na Libertadores de 2026. Para Dorival, o calendário apertado exige rotação inteligente, foco jogo a jogo e, sobretudo, uma melhora defensiva.
“Vamos buscar equilíbrio. Um time que sofre menos gols tem mais confiança para construir resultados. Isso é base para qualquer recuperação”, disse o treinador em entrevista ao canal oficial do clube.
O calendário dos próximos dois meses será decisivo para o futuro da temporada. Confrontos diretos na Série A e as fases eliminatórias da Copa do Brasil podem colocar o Corinthians novamente nos trilhos ou afundar de vez o planejamento. A boa notícia é que Dorival já demonstrou em outras oportunidades saber trabalhar sob pressão.
Histórico favorável
Dorival Júnior tem se especializado, nos últimos anos, em assumir clubes em crise e transformá-los em candidatos ao título. Em 2022, o Flamengo era criticado por sua desorganização tática. Com ele, o time encaixou, venceu a Libertadores e levantou a Copa do Brasil. Em 2023, o São Paulo carregava o estigma de “quase” e conquistou a taça inédita sob seu comando.
Com o Corinthians, o desafio é similar — mas talvez maior. Há um clube dividido politicamente, uma torcida exigente, e um elenco que precisa de reestruturação física e emocional. Ainda