16/10/2015 07:57

Wladimir rebate presidente do Timão: 'Desconhece o que é uma democracia'

Ídolo do Corinthians e lateral do clube nas décadas de 70 e 80 vê como lamentável fala de Roberto de Andrade sobre o movimento político surgido nos anos 80

Wladimir rebate presidente do Timão: 'Desconhece o que é uma democracia'
Um dos principais articuladores da Democracia Corinthiana, o ex-lateral Wladimir não gostou nem um pouco da declaração de Roberto de Andrade sobre o movimento político surgido no início da década de 80 no Parque São Jorge. O atual presidente do Corinthians, na última quarta-feira, afirmou que ela "não trouxe benefício algum" e "dois, três jogadores mandavam no elenco". O ex-jogador do Alvinegro, em entrevista ao LANCE!, disse que o mandatário alvinegro desconhece o conceito de democracia.

– Eu diria que foi uma declaração lamentável. É uma postura de quem realmente não tem conhecimento do que seja uma democracia. Porque, na minha avaliação, democracia é a soma da maioria dos votos que prevalece sempre. Isso a gente fez valer em cada assunto que a gente discutia. Então é lamentável que um presidente atual do Corinthians se manifeste dessa forma.

Mostra total desconhecimento ou do conceito de democracia ou do nosso movimento, de como era nossa postura em relação aos compromissos – analisou Wladimir, personagem que por mais vezes entrou em campo com a camisa do Timão (805 jogos).

– Em vez de falar isso, o presidente deveria procurar conhecer a essência do movimento que nos levou a compartilhar decisões. Vejo pessoas hoje no Corinthians que parece que chegaram ontem ao clube. Isso é típico do povo brasileiro, que não tem memória, que esquece as coisas com facilidade – completou.




Ao ser questionado se Roberto de Andrade deveria pedir desculpa sobre a declaração, Wladimir "dispensou" o possível pedido de perdão.

– Não deveria (pedir desculpa), porque não tem consciência do que seja uma democracia. E aí, quem não tem essa consciência não deve nem se pronunciar sobre o assunto.

A Democracia Corinthiana surgiu no início da década de 80, quando o Brasil vivia os últimos anos da ditadura militar. Encabeçado por Sócrates, Wladimir, Casagrande e Zenon, o movimento pregava divisão de poder igualitária entre funcionários e jogadores do clube. Decisões sobre concentração pré-jogos e contratação e demissão de atletas e técnicos, por exemplo, passavam por votação.

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O futebol brasileiro atual tem de tirar lições da Democracia Corinthiana?
Isso (declaração de Roberto de Andrade) é fruto do que se reflete no futebol brasileiro hoje. As pessoas tomam decisões arbitrárias e isoladas e isso proporciona os resultados que a gente colhe hoje, tomar de sete da Alemanha, várias outras questões que acontecem no nosso futebol são fruto de despreparo de 90% dos nossos dirigentes. Tem muito oportunismo nessa postura deles todos. O futebol tem de estar nas mão de quem conhece, quem viveu. No futebol é impressionante o número de oportunistas que se apoderaram hoje em dia.

Quais suas principais lembranças da Democracia Corinthiana?
Eu recordo a humildade, a postura e o comportamento do Adilson Monteiro Alves, que era quem mandava no futebol do Corinthians durante a Democracia. Ele, reconhecendo sua ignorância no futebol, passou a compartilhar as decisões com os atletas e profissionais da comissão técnica. Ele foi humilde o suficiente, coisa que não acontece com nenhum dirigente atual, que só advogam em benefício próprio. Futebol é esporte coletivo, não dá nem pro goleiro resolver sozinho, nem só jogadores de linha só fazendo gol. Todos têm de compartilhar decisões, parceria.

O atual presidente do clube disse que a Democracia não rendeu benefícios. Na sua opinião, qual foi o grande benefício do movimento?
O Corinthians pode ser campeão do mundo, de tudo, mas nada vai se comparar à experiência que o Corinthians, o clube Corinthians, as pessoas que comandavam o Corinthians viveram naquela época. A oportunidade que se teve de ampliar para o Brasil inteiro a importância que seriam as decisões compartilhadas... Quanto mais gente envolvida no processo de decisão, mais significativo seria o resultado do pleito.

Isso tudo em um contexto de Ditadura Militar...
Era importante naquele momento político que vivíamos no Brasil e é importante hoje que você tenha decisões compartilhadas, porque ninguém é dono da verdade, ninguém consegue administrar nada sozinho. Se não tiver compartilhamento das partes que trabalham, você está morto. Isso tem muito a ver com a situação atual da CBF, da Federação Paulista e dos clubes hoje em dia, todos endividados. O Palmeiras, talvez não esteja, tem a possibilidade de um presidente que banca tudo... Mas o Palmeiras vai dever para ele em algum momento.



Falando em Palmeiras, o arquirrival do Corinthians, na época da Democracia gostaria de estimular um movimento similar no clube palestrino, não?
Eu me lembro disso, até fui cotado, quando estava saindo do Corinthians. O técnico era o Vicente Arenari, que me ligou conversando sobre essa possibilidade de ir para o Palmeiras, não só pelo o que eu poderia contribuir dentro de campo, mas também fora dele. Eu e o Raí fomos para a Ponte Preta exatamente com essa perspectiva de chegar e estar com os garotos e mostrar a importância que era dividir responsabilidades num grupo de trabalho.

Outra fala do atual presidente do Corinthians diz respeito ao monopólio das decisões por "dois ou três jogadores". O que você tem a dizer sobre isso?
Pode perguntar para qualquer jogador que participou do movimento. Todas as decisões eram compartilhadas. O Sócrates, por exemplo, era a favor de dividir o prêmio por todos do elenco e eu era a favor de não, que quem jogasse e tivesse concentrado receberia por inteiro e quem não jogasse receberia pela metade. A postura dele ganhou e recebíamos todos iguais. Foi uma decisão que o grupo assumiu e a diretoria considerou.

Passadas três décadas de Democracia, você analisa que a contribuição do movimento foi além dos muros do Parque São Jorge?
A gente queria passar para as pessoas a importância que era participar de seu núcleo de atuação, seja num bairro, numa escola, numa empresa. Todos precisam dar sua contribuição, suas ações têm de visar os interesses da coletividade. Esse era nosso intuito. Buscar uma decisão que atendesse a maioria e não uma ou duas pessoas.


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