Basílio conversou algumas vezes com Emerson no CT Joaquim Grava, de onde o atacante irá se despedir em breve. A intenção era transmitir a experiência de quem acabou com o jejum de títulos estaduais do Corinthians, em 1977, a quem encerrou o tabu de uma conquista de Copa Libertadores da América, em 2012.
“A nossa identidade é a mesma”, justificou Basílio, em entrevista por telefone,

com a modéstia que contrasta com a irreverência de Emerson. Com o seu pé de anjo, contudo, o antigo ídolo corintiano chutou qualquer sinal de falta de humildade do jogador em atividade.

Na lembrança de Basílio, Emerson nem sequer alimentou a ambição de se tornar inesquecível para a torcida do Corinthians. “Não quero ser ídolo”, sorria o Sheik para ele, nas conversas no CT. Ao que o herói de 1977 ensinava: “Você será ídolo. Está falando isso porque ainda joga e é cobrado como atleta neste momento. Daqui a dez anos, quando começar a ser chamado para eventos sobre a sua conquista, vai sentir o que estou falando. Tudo acontecerá de uma maneira natural. Aqueles que nos colocam como ídolo são os torcedores”.

Emerson deu um passo grande, portanto, no caminho do reconhecimento ao encerrar o seu ciclo no Corinthians. Aos 36 anos, o atacante que já havia sido emprestado ao Botafogo em 2014 – e sentiu falta do Parque São Jorge – não terá o contrato com validade até 31 de julho renovado novamente pela diretoria.

“Ele ainda está meio assim com essa coisa da idolatria, mas agora é uma questão de tempo. Já houve aquela primeira saída dele do Corinthians. Só que, desta vez, o torcedor sabe que é algo definitivo. Ele vai passar a sentir o orgulho de ser reconhecido por essa imensa nação corintiana”, discursou Basílio.

Quando o jogador aposentado se manifesta dessa forma, Emerson costuma rir e olhar para o vazio. E repete um gesto de idolatria que Basílio também só notou quando não defendia mais o Corinthians. “Ele fala assim: ‘Sabe quem é esse cara aqui?’. E diz algumas coisas sobre mim. Futuramente, será com ele. Assim como foi com o Marcelinho Carioca, com o Zé Maria, com o Wladimir...”, comparou.

Basílio fez a previsão porque, no passado, também pensava como Emerson. “Foi depois de dez, 13 anos, quando comecei a fazer eventos sobre 1977, que percebi o carinho e o respeito que as pessoas têm por mim. Vi que deixei algo de positivo. É um orgulho que os meus filhos e os meus netos presenciem isso, do mesmo jeito que será com o Emerson. Muitas vezes, crianças que nem me viram jogar me agradecem”, contou.



Em 2012, Emerson seguiu o exemplo de Basílio e libertou o Corinthians de um trauma no continente

Na condição de mais um torcedor do Corinthians, e não de ídolo, Basílio ainda não queria o adeus do Sheik. Ele está preocupado com os rumos do endividado Corinthians, em vias de se desfazer também do centroavante peruano Paolo Guerrero, autor dos gols corintianos no Mundial de Clubes de 2012.

“Vejo um lado triste nisso tudo. Independentemente das dificuldades do clube, Emerson e Guerrero são jogadores que dispensam comentários”, idolatrou Basílio, sem encontrar sucessores à altura das histórias construídas em 1977 e em 2012. “Não vejo jogadores em potencial no mercado. Digo isso porque já pesquisei”, lamentou.