Quem acompanha diariamente os noticiários sobre o mundo sabe que a situação na Faixa de Gaza está preocupante. Os conflitos entre Israel e Hamas já mataram mais de 1600 civis e ainda estão em busca de uma solução, depois de quase um mês de guerra. Mas, em meio a esse cenário de bárbarie, há espaço para futebol. E tem até brasileiro se destacando em Tel Aviv.

Criado nas categorias de base do Corinthians, time em que foi até campeão da Copa São Paulo de juniores em 2009, e com passagens por Grêmio Barueri, CSKA Sofia, entre outros, o volante Lucas Sasha atua hoje no Hapoel Tel Aviv, um dos principais clubes de Israel. E contou, em entrevista ao ESPN.com.br, como é a vida em meio aos conflitos que assolam a região.

"O que mais me assusta mesmo é quando começa a sirene, que indica que estão mandando mísseis para cá. Essa situação é a unica coisa que tem mudado no meu dia a dia", explicou o jogador, que mesmo assim deixou claro que na cidade onde mora é mais tranquilo por ser distante da Faixa de Gaza, lugar mais afetado. "Aqui em Tel Aviv não acontece sempre", contou.


Ex-corintiano é ídolo em time de Israel

"Todas as casas aqui tem um abrigo, que ou é no subsolo ou dentro da casa mesmo. É um quarto seguro, e mesmo que o míssil atinja a casa esse quarto permanece intacto. Então, quando toca essa sirene, temos um minuto e meio para irmos para esse quarto, e temos que esperar acabar a sirene, e eles ainda pedem para ficar mais uns 10 minutos lá dentro, caso algum destroço do míssil caia", acrescentou.

Camisa 10 da equipe, Lucas Sasha tem se destacado em Israel e conquistou a torcida do Hapoel. O jogador avisou, por outro lado, que por causa dos conflitos os times locais não estão podendo mandar jogos no país pelos torneios europeus e são obrigadas a atuar no Chipre. O clube de Tel Aviv está, atualmente, na fase eliminatória da Liga Europa e busca classificação para as chaves principais.

"Por enquanto, o que esta atrapalhando é que nenhum time de Israel está podendo jogar aqui pelas competições europeias, então os jogos como mandante estão sendo no Chipre. Também era para ter começado esse final de semana uma espécie de torneio de pré-temporada, mas acabou sendo cancelada a primeira rodada", disse Sasha. Veja, a seguir, o restante da entrevista ao ESPN.com.br.


Lucas Sasha veio ao Brasil para acompanhar jogos da Copa do Mundo

Confira, abaixo, entrevista do ESPN.com.br com o volante brasileiro Lucas Sasha

ESPN - Como está a vida em Israel?
Lucas Sasha - A vida em Israel está tranquila. Aqui em Tel Aviv todas as pessoas têm vivido normalmente, nem parece que o país esta em guerra. Israel é um país muito bom para viver, além de ser muito bonito.

ESPN - Os conflitos locais estão atrapalhando o andamento do futebol por aí?
Lucas Sasha - Por enquanto, o que esta atrapalhando é que nenhum time de Israel está podendo jogar aqui pelas competições europeias, então os jogos como mandante estão sendo no Chipre. Também era para ter começado esse final de semana uma espécie de torneio de pré-temporada, mas acabou sendo cancelada a primeira rodada. O campeonato mesmo começa dia 23 de agosto, e até la eu espero que essa situação já tenha se resolvido.

ESPN - O que mais te assusta nos confrontos?
Lucas Sasha - O que mais me assusta mesmo é quando começa a sirene, que indica que estão mandando mísseis para cá. Essa situação é a unica coisa que tem mudado no meu dia a dia. E aqui em Tel Aviv não acontece sempre.

ESPN - E o toque de recolher, como funciona?
Lucas Sasha - Todas as casas aqui tem um abrigo, que ou é no subsolo ou dentro da casa mesmo. É um quarto seguro, e mesmo que o míssil atinja a casa esse quarto permanece intacto. Então, quando toca essa sirene, temos um minuto e meio para irmos para esse quarto, e temos que esperar acabar a sirene, e eles ainda pedem para ficar mais uns 10 minutos lá dentro, caso algum destroço do míssil caia. Passando isso, todos saem dos abrigos e a vida continua normalmente (risos).

ESPN - Como você se sente quando essa sirene toca?
Lucas Sasha - Como eu disse, eu não gosto quando essa sirene toca. Muitas pessoas aqui nem vão para o abrigo, elas confiam muito nos antimísseis de Israel, então muitos tentam filmar os mísseis ou continuam fazendo as coisas como se nada estivesse acontecendo. Eu confio também, mas mesmo assim sempre vou pro abrigo, e fico aliviado só quando a sirene para de tocar. Uma situação complicada.

ESPN - Já teve alguma situação embaraçosa por conta disso?
Lucas Sasha - A pior situação que tive foi quando eu estava no carro e começou a sirene, e eles pedem para deixar o carro no meio da rua e ir para perto de um muro e se abaixar ou correr para tentar achar um abrigo. Eu fiz a segunda opção, então deixei o carro atravessado na rua e comecei a correr até achar um prédio. Na hora foi assustador para mim, mas depois que passou acabou sendo engraçado.

ESPN - Apesar de ter antimíssil protegendo o país, você teme que alguma tragédia possa ocorrer a qualquer momento?
Lucas Sasha - O meu maior temor é que outros paises se envolvam nisso, e comece uma guerra maior do que já está. Hoje na situação que está eu confio bastante no exército de Israel, e sei que eles estão fazendo de tudo para proteger a população aqui.

ESPN - Como é dormir com essa ameaça constante?
Lucas Sasha - No começo dessa guerra era horrível dormir, porque parecia que a qualquer momento ia tocar a sirene. Mas agora, além da situação estar um pouco melhor, a gente acaba acostumando. É um absurdo acostumar com isso, mas hoje já durmo sem problema nenhum.

ESPN - E a sua família, como está reagindo a isso tudo? Sua esposa, seus pais?
Lucas Sasha - Todos eles estão muito preocupados, afinal de contas as coisas que passam na imprensa aí são bem assustadoras. Eles estão sempre pedindo para eu voltar. Só minha mulher que vive aqui comigo, mas que agora está no Brasil e fica mais calma por saber como que funcionam as coisas aqui. Mas eu tento acalmar eles dizendo que aqui as coisas não estão desse jeito, que o maior problema mesmo está sendo em Gaza. E que se a situação piorar eu vou ser o primeiro a ir embora. Mas que por enquanto está tudo bem.

ESPN - O posicionamento do Brasil dizendo que a ação de Israel é "desproporcional" nos conflitos te prejudicou por aí de alguma forma?
Lucas Sasha - Não me prejudicou não. Muita gente só veio me perguntar o motivo de o Brasil ter se posicionado contra Israel, tentaram entender. Minha família já achou que eu ia ser perseguido na rua (risos), mas nada disso aconteceu.

ESPN - Como brasileiro, o que achou da declaração do porta-voz de Israel no Brasil, que rebateu dizendo que "desproporcional é perder de 7 a 1"?
Lucas Sasha - Acho que não teve muito sentido essa comparação, mas acho também que o Brasil tem muitos problemas internos, muitas vezes até maior do que essa guerra. Então podíamos primeiro tentar arrumar a nossa casa para depois começarmos a falar dos outros.

ESPN - O povo que vive fora dos conflitos de um modo geral, como é?
Lucas Sasha - É o que te falei, parece muitas vezes que o país não está em guerra. Árabes e judeus se encontram todos os dias nas ruas, e até mesmo no meu time tem palestinos que jogam, mas eles se respeitam e nada acontece.

ESPN - Você sente muitas diferenças no estilo de vida?
Lucas Sasha - Eu não sinto muita diferença. Eles de algum modo são bem parecidos com os brasileiros. Gostam de fazer festa, de sempre estar reunidos. São pessoas que te recebem muito bem. Claro que eles seguem a religião deles e os costumes deles, que são diferentes que os nossos. Mas a maior diferença é no domingo, que no Brasil é um dia de descanso e aqui já é um dia normal, então muitas vezes ligo na minha casa e estão todos lá e aqui estou treinando 2 periodos e o povo todo trabalhando.

ESPN - Pretende ficar em Israel até quando?
Lucas Sasha - Eu tenho mais um ano de contrato, e espero cumprir. Minha vontade é de voltar para a Europa e poder jogar num grande centro. Mas deixo tudo nas mãos de Deus na certeza que Ele tem o melhor para minha vida.