1/4/2014 16:37
Para Ministério do Trabalho, cabo de aço que segurava operário morto na Arena Corinthians era curto
Superintendente critica teses que apontam negligência da vítima: ‘A responsabilidade pela segurança não é individual, é coletiva’. E diz que o ‘padrão Fifa’ parece ignorar leis brasileiras
No último dia 15 de março, jogadores treinaram na arena (Foto: Fernando Roberto)
A Superintendência do Ministério do Trabalho, que investiga a causa do acidente que matou o operário Fabio Hamilton da Cruz na Arena Corinthians, no último sábado, constatou que o cabo de aço de segurança que o funcionário usava era “muito curto”. As informações são do site “UOL”.
De acordo com o órgão, o comprimento insuficiente do cabo fez com que o operário tivesse que tirá-lo para alcançar a parte mais alta da obra. Assim, ele ficou desprotegido no momento em que sofreu uma queda de cerca de 15 metros (segundo o Corpo de Bombeiros), que o vitimou fatalmente na sequência – a Fast Engenharia, contratada da Ambev para montar as arquibancadas provisórias, diz que a altura foi de oito metros. Cruz era funcionário da WDS Construções, terceirizada pela Fast.
Depois de ouvir alguns operários no sábado, o delegado Rafael Pavarina, do 24º DP, no bairro da Ponte Rasa, responsável por acompanhar o caso no início, chegou a afirmar que houve “negligência” e “excesso de confiança” do operário. O Ministério do Trabalho refuta a teoria e diz que a proteção na obra deve ser coletiva.
– Tinha de ter uma rede de proteção. Aquela coisa (cabo) não segura ninguém. A responsabilidade não é individual, é coletiva. O cara não pode morrer e ser o culpado também – afirmou ao “UOL” o superintendente regional do trabalho e emprego do Estado de São Paulo, Luiz Antonio de Medeiros.
A Arena Corinthians, com mais de 98% das obras concluídas, é o estádio que mais preocupa a Fifa no momento. O local será palco de abertura da Copa do Mundo no dia 12 de julho, com o duelo entre Brasil e Croácia. As cerca de 20 mil arquibancadas provisórias que estão sendo instaladas, que aumentarão a capacidade do estádio para cerca de 68 mil lugares, foram justamente onde o operário sofreu o acidente.
A expectativa é entregar o estádio pronto para a entidade máxima do futebol no dia 15 deste mês. Então, serão iniciados alguns jogos-testes para medir a segurança para os jogos da Copa. A pressão para a entrega urgente do estádio não pode alterar as medidas de segurança e carga de trabalho, segundo o ministério.
– A Copa não muda nada. O que está em risco é a integridade dos trabalhadores. As leis têm de ser cumpridas. Os fiscais tomaram medidas independentemente da Copa do Mundo. Não podemos terminar a qualquer custo. Isso é o padrão Fifa, não o nosso – disse Medeiros.
No último dia 15 de março, jogadores treinaram na arena (Foto: Fernando Roberto)
O Ministério do Trabalho ainda alegou que a Odebrecht tem exagerado nas horas extras de seus funcionários, justamente pelo prazo curto para a entrega do estádio. Em nota, a construtora, que poderia ser multado, contesta e versão e garante que cumpre todos os requisitos estabelecidos com o próprio ministério em dezembro do ano passado.
“O Odebrecht Infraestrutura informa que a jornada de trabalho nas obras da Arena Corinthians atende à legislação, tendo sido definida em comum acordo com o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção Civil Pesada. A jornada segue ainda o termo de compromisso assinado com o Ministério do Trabalho e Emprego, em 19 de dezembro de 2013, por meio do qual a empresa também se comprometeu a contratar 80 novos trabalhadores, tendo inclusive superado esse número de contratações, o que reforça o compromisso institucional da Odebrecht em colaborar com o MTE”, afirma a nota da construtora.
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