Mais de 20 depoimentos, quatro indiciados e uma crise administrativa que dura um ano. O caso VaideBet implodiu qualquer grau de normalidade na gestão Augusto Melo, que convive com a sombra de um possível impeachment no Corinthians após ser indiciado pela Polícia Civil por possível furto qualificado pelo abuso de confiança, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Abaixo, o ge lista quais são os principais personagens responsáveis por todo o acordo de patrocínio de R$ 370 milhões, que saiu das páginas esportivas para as policiais devido a suspeitas de irregularidades no repasse do dinheiro recebido pela empresa Rede Social Media Design, intermediária do acordo.
O Conselho Deliberativo do Corinthians vota nesta segunda-feira, a partir das 18h, o impeachment do presidente Augusto Melo, na sede do Parque São Jorge. Do presidente Augusto Melo para Alex Cassundé, passando pelo delegado Tiago Fernando Correia, a reportagem apresenta quem é quem no organograma do caso.
Augusto Melo, empresário de 60 anos, foi eleito presidente do Corinthians em 25 de novembro de 2023 em eleição realizada no Parque São Jorge. Ele derrotou André Negão, candidato da situação, com 66,2% dos votos (2.771) contra 33,8% (1.413). De grupo político de oposição, Augusto Melo concorreu pela segunda vez à presidência. Na eleição realizada em 2020, ele havia ficado em segundo lugar, sendo derrotado por Duilio Monteiro Alves. Augusto Melo celebrou o acordo com a VaideBet antes mesmo de assumir o cargo. Atuou como garoto-propaganda nos jogos na Neo Química Arena, ostentando bonés e adereços alusivos à casa de apostas. Ele foi indiciado pela Polícia Civil.
Alex Cassundé, proprietário da Rede Social Media Design, foi apresentado a Augusto Melo por Sérgio Moura, ex-superintendente de marketing do Corinthians. Ambos trabalharam juntos na campanha do então candidato à presidência do Timão, além de terem feito o mesmo serviço para Carlos Miguel Aidar, que foi presidente do São Paulo entre 2014 e 2015 e renunciou ao cargo após uma série de denúncias de corrupção. A empresa de Alex Cassundé, a Rede Social Media Design, recebeu R$ 1,4 milhão de pagamentos do Corinthians pela intermediação do contrato com a VaideBet. O valor total, caso o acordo fosse cumprido até o fim, seria de R$ 25,2 milhões. A partir de repasses da Rede Social Media Design, a Polícia Civil identificou uma movimentação possivelmente irregular do dinheiro de repasse do patrocínio do Corinthians. Cassundé também foi indiciado pela Polícia Civil.
Sérgio Moura, o publicitário de 53 anos, foi escolhido por Augusto Melo para comandar o departamento de marketing do Corinthians a partir de 2024. Ele vinha participando havia anos da campanha de Augusto à presidência do clube. Com mais de 30 anos de atuação no mercado, Sérgio Moura chegou com discurso inovador para atrair mais anunciantes e potencializar os lucros do Corinthians com patrocinadores. Foi Moura quem trouxe Alex Cassundé para a campanha de Augusto Melo, antes mesmo da vitória na eleição. O publicitário ocupou cargo remunerado até 23 de maio, quando pediu afastamento do cargo. Também foi indiciado pela Polícia Civil.
Marcelo Mariano dos Santos, conhecido como Marcelinho, foi diretor administrativo do Corinthians e até hoje é um dos mais fiéis aliados de Augusto Melo. O atual presidente do clube o tratava como um profissional de extrema importância no dia a dia. Marcelinho é figura importante nos bastidores do Corinthians, tendo trabalhado na gestão de Alberto Dualib como diretor de futsal e mantendo amizade de anos com Osmar Stabile, atual vice-presidente. O diretor administrativo teria sido o responsável por autorizar o pagamento de duas parcelas de R$ 700 mil cada para a empresa que intermediou o acordo com VaideBet, no momento de ausência do ex-diretor financeiro Rozallah Santoro. Essa atitude, aliás, teria gerado grande desconforto e colaborado para o pedido de desligamento de Rozallah, que agora é alvo de Augusto Melo - o presidente quer a expulsão do ex-diretor financeiro do clube. Marcelinho também entrou no grupo dos indiciados pela Polícia Civil no caso.
Tiago Fernando Correia e Juliano Atoji são os dois responsáveis pela condução do caso desde a abertura do inquérito, em maio do ano passado. Tiago Fernando Correia é o delegado titular do Departamento de Polícia de Proteção a Cidadania (DPPC) e da terceira delegacia, responsável por casos de lavagem de dinheiro. Foi ele quem conduziu os mais de 20 depoimentos e investigou a fundo o caso VaideBet. O delegado contou com o apoio de Juliano Atoji, promotor do Ministério Público de São Paulo e que participou de oitivas na delegacia.
Rubens Gomes, o Rubão, conselheiro vitalício do Corinthians, foi escolhido por Augusto Melo para comandar o departamento de futebol. O diretor ficou conhecido pela célebre frase que marcou a posse do novo presidente: "acabou a farra", em alusão aos rivais e a nova gestão que se iniciara. Rubens Gomes deixou o cargo de diretor de futebol em 2 de maio de 2024 por atritos com o presidente Augusto Melo. Dias depois de deixar o cargo, Rubão deu entrevista afirmando que o real motivo da sua saída da diretoria do Corinthians foi por ter questionado Augusto Melo sobre o pagamento de comissão no contrato com a VaideBet.
Armando Mendonça, segundo vice-presidente da gestão Augusto Melo, surgiu como um dos primeiros membros desconfiados sobre o acordo de intermediação do contrato entre Corinthians e VaideBet. Para a Polícia, o vice-presidente disse que solicitou levantamento de dados públicos da empresa Neoway depois de receber informações do possível repasse da comissão para um "laranja". Armando justificava ao afirmar que o objetivo é saber o caminho do dinheiro e quem mandou executar as possíveis irregularidades. Ele disse ter alertado Augusto Melo.
Edna Oliveira dos Santos, a mulher inserida como proprietária da Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda., empresa que recebeu da Rede Social Media Design, de Alex Cassundé, parte do valor de R$ 1,4 milhão recebidos do Corinthians pela intermediação do contrato da VaideBet. Edna é moradora de Peruíbe, cidade do litoral Sul de São Paulo, e sequer saberia da existência da mesma. Segundo investigação da Polícia, a Neoway recebeu dois repasses da empresa de Cassundé, nos valores de R$ 580 mil e R$ 462 mil.
Wave Intermediações Tecnológicas, a partir do repasse recebido, transferiu R$ 1 milhão para a Wave Intermediações Tecnológicas. Segundo relatório técnico da Polícia Civil, essa transferência era o início da tentativa de limpar o rastro do dinheiro. A Wave, a partir do recebimento, fez três transferências para a UJ Football no valor de R$ 874.150. Posteriormente, a empresa enviou R$ 200 mil, oriundos de outra empresa (Victory Intermediação de Negócios), totalizando o valor acima de R$ 1 milhão para o destino final do dinheiro. A empresa tem como sócio Inauê Santiago, que, inclusive, afirmou ao Fantástico ter fechado a empresa.
De acordo com o relatório técnico, a UJ Football foi o destino do dinheiro desviado do patrocínio do Corinthians. Pelas transferências da Wave, a agência de gestão de carreiras esportivas embolsou no total R$ 1.074.150,00. A UJ Football teve o envolvimento destacado com o crime organizado por Antônio Vinícius Lopes Grizbach, empresário assassinado em 11 de novembro, no aeroporto de Guarulhos. Gritzbach fechou em março de 2024 um acordo de delação premiada com Ministério Público de São Paulo para delatar crimes da facção e de policiais. Ele chegou a pedir mais proteção aos promotores, em virtude de ter sido jurado de morte. A partir das declarações de Grisbach, a empresa passou a ser investigada como um dos elos do Primeiro Comando da Capital no mundo do futebol. A agência pertence a Ulisses Jorge, que tem no rol de clientes atletas como Éder Militão, do Real Madrid.