Do sonho de apresentar o maior patrocínio do futebol da América Latina para o pesadelo de ver o nome do Corinthians nas páginas policiais. A frase anterior resume o caso VaideBet, que entrou em uma etapa importante das investigações com os indiciamentos do presidente Augusto Melo, do ex-diretor administrativo Marcelo Mariano, do ex-superintendente de marketing Sérgio Moura e de Alex Cassundé , sócio da empresa que intermediou o negócio.
O acordo vantajoso e apresentado com orgulho no início da gestão de Augusto Melo, em janeiro do ano passado, resultou em uma longa investigação. A partir de uma denúncia sobre a presença de uma “laranja” em uma empresa que recebeu repasse de parte da intermediação do contrato, o caso entrou na pauta da Polícia Civil, que colheu mais de 20 depoimentos e investigou possíveis irregularidades durante quase um ano.
Com o indiciamento, Augusto Melo, os ex-dirigentes e o intermediário aguardam parecer do Ministério Público de São Paulo, responsável por ratificar o relatório da Polícia e oferecer denúncia. Somente a partir desse passo, os indiciados podem se tornar réus e iniciarem o processo de defesa.
A investigação teve condução do delegado Tiago Fernando Correia, do Departamento de Polícia de Proteção a Cidadania (DPPC) e da terceira delegacia, e do promotor do MP-SP Juliano Atoji.
A Polícia abriu inquérito e buscou esclarecimentos a partir de denúncia publicada pelo “Blog do Juca Kfouri”. O jornalista relatou que a Rede Social Media Design, empresa de Alex Cassundé e que intermediou o patrocínio, teria repassado parte do valor recebido da comissão para uma empresa “laranja” chamada Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda. Essa empresa possuía como sócia uma mulher chamada Edna Oliveira dos Santos, moradora de uma área periférica da cidade de Peruíbe e que teve os dados usados para a criação da Neoway. A Polícia não encontrou qualquer relação dela com o caso.
Dos R$ 25 milhões acordados no contrato como comissão, a Rede Social Media Design recebeu duas parcelas de R$ 700 mil, que totalizaram R$ 1,4 milhão. O repasse foi alvo de disputa interna do clube, sem o aval na época do diretor financeiro Rozallah Santoro. A investigação da Polícia fez a VaideBet acionar uma cláusula anticorrupção presente no contrato para rescindir a parceria, ainda em junho do ano passado. A empresa se viu prejudicada midiaticamente pelas notícias envolvendo a parceria com o clube.
A partir do sigilo bancário derrubado, a Polícia emitiu um relatório para desenhar o caminho do dinheiro no caso VaiDeBet. Mais de R$ 1 milhão dos R$1,4 recebidos pela empresa de Alex Cassundé parou nas mãos de uma empresa ligada ao PCC (Primeiro Comando da Capital). O rastro do dinheiro do crime organizado chegou à empresa UJ Football, agência de gestão de carreiras esportivas que embolsou no total R$ 1.074.150,00.
O Corinthians viu ex-diretores e pessoas envolvidas com o clube prestarem depoimentos para a Polícia Civil de São Paulo. A empolgação do patrocínio não demorou a se tornar frustração com a constante presença do clube e da VaideBet nas páginas policiais. Ao todo, o delegado Tiago Fernando Correia e o promotor do MP-SP Juliano Atoji, que conduziram os depoimentos, ouviram mais de 20 pessoas sobre o caso. Deste grupo, quatro sob condição de investigado: Augusto Melo, Sérgio Moura, Marcelo Mariano e Alex Cassundé.
Cassundé, em depoimento, disse que não cobrou pela intermediação e que conheceu a VaideBet pelo Chat GPT. Augusto Melo, Sérgio Moura e Marcelo Mariano, últimos nomes a depor, alegaram inocência, segundo declarações dos respectivos advogados após as oitivas. Foram mais de 2.500 páginas recolhidas e quase um ano de investigação até a conclusão que acabou enquadrando Melo, Moura, Mariano e Cassundé nos crimes de furto qualificado pelo abuso de confiança, associação criminosa e lavagem de dinheiro.