É impossível tirar qualquer conclusão com base em apenas um jogo, ainda mais um clássico disputado em campo encharcado e decidido com gol no primeiro minuto. Porém, a frustrante estreia de Vítor Pereira à frente do Corinthians, com derrota por 1 a 0 para o São Paulo, oferece alguns indícios do que esperar do Timão sob o comando do treinador português.



Tendo comandado apenas cinco treinamentos em sua primeira semana no Brasil, Vítor Pereira não inventou: manteve o time-base do Corinthians.


Se na escalação o técnico foi conservador, o mesmo não se pode dizer das substituições. Ao mexer no segundo tempo, ele fez três trocas logo de uma vez. Tirou Lucas Piton, Du Queiroz e Giuliano e pôs Bruno Melo, Cantillo e Jô. Com isso, Fagner ganhou mais liberdade para atacar (uma vez que Bruno Melo apoiava menos) e Róger Guedes foi deslocado para a ponta esquerda.


Depois, o português foi ainda mais ousado: trocou Fagner por Gustavo Mosquito, mudando o esquema da equipe. A ideia pode até ter sido boa, mas a execução não foi. Abriu-se um buraco no lado direito da defesa do Corinthians, e o São Paulo esteve perto de ampliar o placar por ali.


É natural que nesse primeiro momento, em que está conhecendo o grupo, Vítor Pereira faça trocas que não surtam efeito ou que algumas variações táticas aplicadas não estejam bem ensaiadas. Porém, se Sylvinho era criticado por uma suposta falta de repertório, o novo comandante alvinegro já mostra de cara que não é nada ortodoxo em suas alterações.


Também foi possível notar alguns conceitos que Vítor Pereira já tinha destacado em sua entrevista coletiva de apresentação, na última sexta-feira, como a pressão para retomar a bola e a valorização da posse – o Corinthians teve 69%, contra 31% do São Paulo.


Desde o início, se viu um Corinthians no campo de ataque, com linhas de marcação altas, a ponto de Vítor Pereira se preocupar em avançar até mesmo o goleiro Cássio, a fim de se prevenir contra eventuais bolas longas e contra-ataques. No entanto, não é possível saber o quanto disso se deu por conta das circunstâncias da partida, afinal, os donos da casa estiveram em vantagem no placar desde os 50 segundos e, naturalmente, entregaram mais a bola ao Timão e se retraíram.


Mesmo num gramado pesado por conta da forte chuva que caiu minutos antes do apito inicial, o Corinthians conseguiu colocar a bola no chão e trocar passes. Havia muita mobilidade dos homens da frente, com Róger Guedes recuando (até mais do que deveria), os meias trocando de posição e Paulinho infiltrando na área. Em um desses avanços, o volante acertou a trave são-paulina.


Do ponto de vista ofensivo, o Timão fez bom primeiro tempo. O mesmo não pode se dizer da defesa, que cedeu espaços e teve Lucas Piton e Du Queiroz como destaques negativos.


Na segunda etapa, Rogério Ceni deixou o São Paulo mais forte fisicamente, e o Corinthians caiu de rendimento, a ponto de finalizar pela primeira vez somente com 24 minutos. Havia circulação de bola de um lado para o outro, a equipe tentava alargar o campo para gerar espaços na defesa tricolor, mas faltava agressividade.



O tropeço mantém o tabu de quase cinco anos sem vitória do Timão no Morumbi e dá um gosto amargo ao início de trabalho de Vítor Pereira, mas também oferece algumas lições, que o treinador pareceu ter assimilado em entrevista após a partida. Sim, essa equipe pode render muito mais. Para isso, entretanto, é preciso paciência, tempo e trabalho.

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