Além das tradicionais camisas número 1 e 2, há alguns anos, as marcas fornecedoras de material esportivo para os clubes de futebol passaram a trabalhar também com um modelo alternativo a cada temporada. Isso ocorre tanto no mercado brasileiro quanto no europeu e de outros centros de futebol. Algumas vezes, estas versões têm uma história por trás, mas também podem ser apenas adaptadas a modelos semelhantes em outros clubes.
Em entrevista a Mauro Cezar Pereira no programa Dividida, do Canal UOL, o designer Glauco Diógenes explica como surgem estes modelos e revela que em muitos casos, a camisa não foi feita exatamente com inspiração na história que depois é contada no momento da venda. Foi o que ocorreu, por exemplo, com a camisa laranja do Corinthians em 2015, que teria como referência o terrão, símbolo da formação de atletas do clube.
"Você pinça alguma coisa que está ali, explodindo naquele período, e faz associação, seja nas Laranjeiras, ou seja no terrão do Corinthians, que na verdade não tem terrão coisíssima nenhuma. Aquilo ali era um template, que são modelos pré-formatados para você conseguir cumprir essa escala de produção insana durante o ano. Aí, você pega e se apropria de algum elemento muito importante que faz parte da ancestralidade do clube", afirma Glauco.
"No caso do Corinthians, é pública e notória essa história do terrão, como fundamento da base, e você faz essa associação para poder empacotar esse produto e vender uma história bonita, o chamado storytelling, mas no final do dia é isso. Eu acho que tem muito mesmo e acaba meio que banalizando", completa.
O designer acredita que há um excesso de coleções a cada temporada, o que dificulta para que o torcedor possa acompanhar a produção, além da questão identitária em relação aos clubes.
"Nos anos 1970 e 1980, mesmo nos anos 1990, você tinha um período de estiagem maior entre criar uma camisa ou uma coleção e ter a coleção finalizada para uma outra temporada. Hoje você não consegue nem sequer acompanhar, passou duas temporadas, você já precisa buscar aqui, vou procurar na internet", afirma o designer.
"São mudanças tão pequenas e tão sutis, e fica essa coisa massificada que acaba perdendo e indo contra um pouco da identidade. Portanto, na minha opinião, caso fizesse para algum clube, eu desenvolveria só duas, a tradicionalíssima e agora, por efeito de regra, a doida, e aí tudo bem", conclui.
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