Pelé e Marcos Senna em apresentação pelo New York Cosmos
Aos 39 anos, Marcos Senna vive os últimos dias como jogador profissional. O volante já anunciou a aposentadoria e espera o término da temporada pelo New York Cosmos para se retirar do futebol. A despedida pode ser neste sábado. O time enfrenta Fort Lauderdale Strikers, às 17h (de Brasília), na semifinal da NASL (North American Soccer League).
Se o time nova-iorquino vencer, Marcos Senna terá mais um jogo para disputar antes de se aposentar. Fará a final da Liga contra Ottawa Fury ou Minnesota United.
Depois, o volante, que tem passagens por Corinthians, São Caetano, Juventude e Villarreal, já decidiu o que pretende fazer. Ao ESPN.com.br, disse que vai morar na Espanha e estudar, embora não tenha decidido como ocupará o tempo.
"Assim que terminar aqui [nos EUA] eu vou voltar para o Brasil para passar as férias de final de ano com minha família. Ela mora em Caieiras e é uma tradição passarmos o fim de ano juntos. Depois vou para a Espanha. Tenho uma casa em Valencia, meus filhos estudam lá. Vou continuar morando lá. Planos do que fazer eu ainda não tenho 100% de certeza. Pretendo ficar pelo menos um ano afastado do futebol. Estou pensando em estudar para ser técnico e mannager e depois definir o que pretendo seguir. Já pesquisei sobre a licença de treinador da Uefa e vou estudar. O que vou ser é que ainda não está claro na minha cabeça. Não rejeito nem mesmo a possibilidade de virar agente Fifa", disse o jogador, por telefone, para a reportagem.
Naturalizado espanhol em 2005, o país é uma das paixões de Marcos Senna. Engana-se quem pensa que é pelo título da Eurocopa de 2008, quando contribuiu como titular para a campanha que sagrou a equipe do técnico Luis Aragonés no pódio.
O volante ficou 11 anos no Villarreal, onde é um ídolo local, dá nome a um dos portões do estádio e é o recordista no número de partidas disputadas (363). No período em que estava lá, os maiores feitos do clube foram o vice do Campeonato Espanhol 2007/08, a semifinal da Uefa Champions League 2005/06 e duas Copas Intertoto, em 2003 e em 2004.
"Na Europa, é diferente do Brasil. Os torcedores reconhecem e valorizam os feitos do time, mesmo se a equipe não é campeã. Tive essa noção quando deixei o Villarreal. Foram 11 anos. Recebi e recebo muitas homenagens. Nos Estados Unidos sinto que também há essa cultura. O Cosmos aposentou a camisa 10 que foi do Pelé, que é embaixador até hoje do clube. No Brasil, não é bem assim. O Corinthians foi campeão mundial em 2000 e jogadores como Rincón, Vampeta, Ricardinho e Marcelinho mereciam um tratamento muito mais do que especial. Eles foram fundamentais para o Corinthians ser campeão naquele ano. Levantaram tantos títulos. Fizeram história", disse Marcos Senna.
O brasileiro naturalizado espanhol tem uma casa em Valencia, na Espanha. Os filhos estudam lá. Ele tem três: Vitor, 19, Pedro, 8, e Lucas, 5.
LEMBRANÇAS DA EURO
Um dos fatos mais marcantes na carreira de Marcos Senna foi o título da Eurocopa com a Espanha, em 2008. A seleção espanhola não vencia o torneio desde 1964 e carregava o peso de sempre entrar como favorita nas competições, mas não corresponder.
Marcos Senna em ação pela Espanha na final da Euro-2008
"Se for separar algo que tenha sido mais marcante na minha carreira eu diria que foi aquela Eurocopa. A Espanha não vencia há muitos anos. Aquele título deu início a hegemonia do futebol espanhol. Depois eles venceram a Copa do Mundo e mais uma Eurocopa. Apesar da campanha ruim no último Mundial, não acho que a Espanha tenha perdido a força. O título da Eurocopa me colocou também em evidência. Passei a ser reconhecido por todas as torcidas. Antes tinha a idolatria dos torcedores do Villarreal. Hoje, onde vou na Espanha eu recebo carinho dos torcedores, sou respeitado. Foi uma mudança para mim".
Segundo Marcos Senna, quem fez a diferença naquele time foi o técnico Luis Aragonés. No comando da equipe desde 2004, foi o treinador quem convocou o volante pela primeira vez e também que o chamou para disputar a Copa do Mundo de 2006, na Alemanha.
Entre os feitos, Aragonés conseguiu encerrar na seleção a rivalidade que os jogadores de Barcelona e Real Madrid cultivavam e também as diferenças que existiam na equipe em relação a origem de cada jogador.
"Apesar de o país ter esse contexto [separatismo] na seleção eu não peguei isso porque o Luis Aragonés não permitiu. Ele tirou todas as diferenças possíveis. Fossem de regiões, de clubes. A gente sabe que há uma rivalidade forte entre jogadores do Barcelona e do Real Madrid. Mas com Aragonés não tinha nada disso. Havia muita união e por isso o futebol da Espanha prevaleceu", disse Marcos Senna.
O técnico ajudou até mesmo o jogador a se entrosar com os companheiros de seleção, sem qualquer rejeição por ele ter nascido no Brasil. "Ele me deu confiança e eu já conhecia os jogadores do Campeonato Espanhol. A recepção foi muito amigável", disse o volante.
LEMBRANÇA RUIM
A alegria não é a mesma quando Marcos Senna recorda a temporada de 2010. Aquele ano foi difícil para o volante, que chegou até a ficar afastado por lesão, mas ele esperava defender a Espanha na Copa do Mundo, torneio que a equipe sagraria-se campeã.
"Ficou uma tristeza por eu não ter ido para a Copa do Mundo de 2010. Eu me machuquei, mas voltei antes do Mundial e cheguei a ser convocado entre os sete reservas, mas não fiquei entre os 23. Fiquei chateado. Achava que tinha condições, mas o Vicente del Bosque [técnico] não viu dessa forma. A Espanha foi campeã e isso foi bom para o país, para o futebol espanhol", afirma sobre o tema.
Na época, Marcos Senna lamentou ter perdido a vaga no time para Javi Martínez, que ainda era inexperiente na seleção. Hoje, diz que tudo isso ficou no passado.
"Não tenho mágoas. Outro dia estava pensando: Mundial, Brasileiro, Libertadores, Champions League, Eurocopa, Copa do Mundo... disputei todos os torneios que qualquer jogador almeja. Ganhei alguns. Nenhum jogador conseguiu ganhar todos. Ronaldinho foi quem chegou mais perto. Me sinto realizado na minha carreira. Quando era mais jovem eu tinha o sonho de jogar em um campeonato de ponta. Na época, o torneio mais badalado era o Italiano. Quando eu fui para a Europa o Espanhol estava com esse status".
ASCENSÃO
Campeão da Euro pela Espanha, a carreira de Marcos Senna começou no Rio Branco, time da cidade de Americana, e que disputava o Campeonato Paulista no final dos anos 1990.
O volante era titular na equipe e conseguiu chamar a atenção do Corinthians, sendo contratado em 1999. Nunca chegou a ser titular na equipe alvinegra, que na época contava com craques como Vampeta e Rincón na posição, mas era um reserva importante.
Marcos Senna empilhou três títulos pelo Corinthians. Foi campeão do Mundial de Clubes da Fifa, em 2000, do Campeonato Brasileiro, em 1999, e dos Paulistas, em 2001.
Marcos Senna no New York Cosmos
Depois do Corinthians, Marcos Senna teve uma rápida passagem pelo Juventude e na sequência foi para o São Caetano. Na equipe do ABC paulista conseguiu um feito surpreendente. Levou o time à final da Copa Libertadores em 2002. O título sul-americano escapou no Pacaembu, numa derrota nos pênaltis para o Olimpia, do Paraguai.
O Villarreal se interessou pelo volante e o contratou em 2002. Foram 11 anos na equipe espanhola, onde Marcos Senna admite ter vivido o melhor momento da carreira.
Em 2013, iniciou a trajetória pelo New York Cosmos, onde já foi campeão nacional uma vez. Pode comemorar outro título neste ano antes de se aposentar.
"A decisão de se aposentar foi tomada no início da temporada. É uma decisão consciente. O corpo já sente o desgaste de vários anos. Algumas lesões que tive. É hora de parar e é bom porque vou parar em um bom nível. Minha família é muito tranquila. Eles até me falaram: ‘Você está bem. Por que vai parar?'. Mas só eu sei o quanto é difícil depois dos jogos. Quando o jogador é mais novo em um dia ele se recupera. Eu demoro três, às vezes, quatro dias. Sinto muita dor. Chegou a hora de descansar".