Em depoimento à Polícia Civil de São Paulo, a funcionária do Corinthians Gabriela Rosa relatou irregularidades no sistema de vendas de ingressos do clube e também disse ter sido vítima de assédio moral por não concordar com ordens contrárias às regras internas. Coordenadora de atendimento do programa Fiel Torcedor, Gabriela Rosa foi uma das pessoas ouvidas na condição de testemunha no inquérito que apura cambismo e outros possíveis crimes relacionados à venda de ingressos do Corinthians. Segundo relatório formulado pelo delegado Marcel Madruga, a funcionária contou que há aproximadamente um ano começou a "perceber e receber recomendações para realizar trabalhos contrários às regras e normas estabelecidas, sendo hostilizada e destratada por não concordar com tais ordens". No documento, ao qual o ge teve acesso, não há detalhes sobre quem teria dado tais sugestões a Gabriela.
Ainda de acordo com o relatório do delegado, Gabriela "explicou detalhadamente o funcionamento do sistema de distribuição de ingressos, indicando diversas irregularidades, como a redução drástica de ingressos disponibilizados para o programa Fiel Torcedor, o aumento de cortesia sem indicação nominal dos beneficiários, e a decisão unilateral da diretoria em destinar ingressos ao setor norte às torcidas organizadas por fora do sistema oficial". No depoimento, a funcionária relatou ter iniciado uma investigação a respeito de cambismo no Corinthians e que, após identificar um vendedor irregular de ingressos, levou o caso ao então CEO do clube, Fred Luz. Segundo Gabriela, ele prometeu liberar verba para a apuração dos problemas, mas não tomou providências.
Mesmo sem respaldo, a profissional continuou as buscas e disse ter descoberto que ingressos vendidos por um cambista saíram da conta interna do clube denominada "Arrecadação Vendas". De acordo com Gabriela, os bilhetes eram vendidos por Otávio Arliani, conhecido como Tavão, que seria cunhado de Renata Pereira, funcionária do setor de arrecadação, e genro de Lidia Maria Reis, gerente operacional da Neo Química Arena. Ambas as mulheres também prestaram depoimento à Polícia e negaram ter conhecimento de irregularidades.
O delegado Marcel Madruga sugeriu o arquivamento do inquérito, uma vez que não encontrou indícios de invasão ou violação do sistema Fiel Torcedor. Assim, a apuração de eventual cambismo ligado ao clube não compete à investigação aberta na divisão de Crimes Cibernéticos da 4ª Delegacia de Polícia de São Paulo. Madruga concluiu que os eventuais desvios na venda de ingressos "devem ser resolvidos pelos próprios mecanismos de fiscalização e controle interno do clube, tais como Conselhos e Assembleias". — No caso em questão, apuração revelou que os fatos investigados decorrem preponderantemente de questões internas de gestão, passíveis de correção mediante mecanismos administrativos internos de compliance, auditoria e governança corporativa, afastando-se, portanto, o interesse jurídico penal estatal — diz o delegado em trecho do relatório. Após reportagem do ge , o Corinthians iniciou uma campanha de combate ao cambismo. Na última semana, o clube anunciou acordo com empresa que irá implementar o sistema de reconhecimento facial na Neo Química Arena - a medida é apontada como fundamental para diminuir o problema da venda ilegal de ingressos.