24/7/2021 08:35

Índio sonha com time profissional só de indígenas e quer despedida oficial do Corinthians

Vinte anos depois de sair, ex-lateral quer reencontrar timaço de 2000 e planeja rede de olheiros pelo Brasil para descobrir e reunir talentos escondidos em aldeias

Índio sonha com time profissional só de indígenas e quer despedida oficial do Corinthians
Em março deste ano, estávamos à procura de Índio, ex-lateral-direito do Corinthians, campeão mundial em 2000 e que se despediu do clube há 20 anos. A reportagem tratava da diversidade no Campeonato Brasileiro. Ninguém podia representar mais as raízes indígenas no futebol brasileiro do que José Sátiro do Nascimento, o Índio Irakinã, da Aldeia Xucuru-Kariri, de Palmeira dos Índios, em Alagoas, hoje estabelecida em Caldas, no interior de Minas.



Por causa da pandemia, a entrevista teria de ser por vídeoconferência, mesmo que Índio se dispusesse a receber a equipe de reportagem, já que todos integrantes das 140 famílias que moram na aldeia haviam sido vacinados. A simplicidade e a atenção dele no início mostraram o que poderia ser aquele encontro presencial que não aconteceu.


Para começar, pedimos que ele apoiasse o celular na horizontal, em cima de uma mesa.


"As salas estão fechadas agora, não tenho mesa aqui. Assim está bom?", disse, deitando-se no chão e apoiando o celular em uma das paredes da escola da aldeia.


Por diversas vezes na entrevista de quase 30 minutos, Índio agradeceu ao Corinthians. Primeiro por ter mudado sua vida e de ter lhe dado oportunidade de conhecer o mundo. Depois, por ele ter condições financeiras para ajudar a aldeia e a cuidar dos sete filhos – três ainda moram em Caldas.


"Para mim, tem uma importância muito grande sair da selva para o mundo, para São Paulo, então foi um orgulho muito grande ter jogado no Corinthians. Graças a Deus, eu me sinto muito bem de ser índio da Aldeia Xucuru-Kariri aqui de Caldas. Até o cacique aqui é meu irmão Jau, a gente se dá muito bem com todos da cidade, e o futebol do Corinthians foi tudo na minha vida. Tudo que eu tenho agradeço ao manto sagrado que é preto e branco, o Corinthians", diz, emocionado.


A despedida que não aconteceu

Mas Índio ainda tem uma lacuna a ser preenchida na vida profissional que ficou pra trás: o jogo de despedida. Há mais de dez anos fala disso, já pensou em várias possibilidades. No Pacaembu, com os veteranos do timaço de 2000 enfrentando o Corinthians atual. Na Fazendinha, onde ele fez vários testes até ser aprovado depois de alguns cruzamentos certeiros para Fernando Baiano, seu contemporâneo da base corintiana. Pensa em uma grande festa com amigos da aldeia versus amigos de Vampeta, para quem liga frequentemente para conversar e fazer planos.


"Aí vou levar os caciques das aldeias para jogar com os amigos de Vampeta. Nós vamos fazer o jogo com a aldeia, vão as aldeias quase todas do Brasil", imagina.


E aí sorri, como dez em cada dez corintianos, só de pensar em ver de novo Dida, Adilson, Fábio Luciano, Kléber, Rincón, Vampeta, Marcelinho, Ricardinho, Edílson e Luizão, Oswaldo de Oliveira sentado no banco ao lado de Fernando Baiano, Edu, Marcos Senna... Só faltaria o amigo Gilmar Fubá, que morreu em março, dias antes da entrevista.


Em janeiro de 2020, Índio ainda participou de homenagem do Corinthians aos campeões mundiais de 2000, na Neo Química Arena.



Um time só de indígenas

O sonho de compartilhar ou proporcionar um pouco do que viveu está em outros projetos que ele repete há alguns anos, um deles bem ambicioso: um time profissional só de indígenas, abastecido por uma rede de olheiros espalhados pelo Brasil para dar espaço e visibilidade para os talentos perdidos nas aldeias do país


"Eu tenho na minha cabeça uma ideia de montar um time indígena para jogar uma Copa São Paulo, um Campeonato Paulista. Já está tudo engatilhado comigo, com o prefeito da cidade (de Caldas), com meu irmão Jau, e assim que fizer os campos aqui na aldeia, quero fazer isso. Pra gente disputar campeonato no Brasil, no exterior, é tudo o que eu quero", afirma.


"E vai ser um orgulho muito grande colocar os índios do Brasil para fazer um time de futebol. Com fé em Deus e Jesus, vai dar tudo certo".



Salário de R$ 40 e busão

A história de sacrifícios de Índio é um retrato do que passa a maioria dos jogadores de países pobres – com algumas hipérboles. Nasceu em aldeia carente no interior de Alagoas; com apenas 12 anos foi pai do primeiro dos sete filhos; ajudou na roça da aldeia da qual o pai Zezinho (que morreu em 2015) era cacique; foi destaque nas peladas até que sugeriram que fizesse uma das peneiras do Vitória. Já tinha 17 anos, em 1996, quando foi aprovado. Diz que recebia R$ 40 de ajuda de custo.


De tão acima da média, virou titular e destaque rapidamente. Em torneio de base nos Estados Unidos, chamou a atenção do Corinthians. Nas sua memória, o início no Corinthians também foi uma sequência de cinco peneiras.


"A dificuldade que eu tive foi que passei muita fome até chegar no Corinthians. Saí do Vitória da Bahia, de busão, para fazer uma avaliação e graças a Deus fiz cinco peneiras no Corinthians. Em três peneiras eu fui mal, o treinador (Adaílton) Ladeira queria me mandar embora, mas depois de mais duas peneiras, cruzei três bolas e Fernando Baiano fez três gols. Aí assinei o contrato com a base do Corinthians", diz Índio.


Em 1998, já foi campeão brasileiro pelo time profissional. Era reserva de Rodrigo. O primeiro título como titular foi a Copa São Paulo de Juniores, conquistada em janeiro de 1999 ao lado de Kléber, Edu, Gil, Ewerthon e Fernando Baiano, em cima do Vasco do goleiro Helton, o mesmo da final do Mundial um ano depois.


Ajuda do "pai Vampeta"

Nunca houve tempo disponível para a adaptação ao choque cultural, apoio psicológico ou acompanhamento profissional. Quando é questionado sobre os momentos de maior dificuldade em São Paulo, é de Vampeta que Índio lembra.


"Eu corria muito, gostava de correr, e o Edilson não aguentava, mandava eu parar. E eu dizia "Vocês estão ricos e eu estou pobre, tenho que correr cada vez mais". E pra mim foi um orgulho muito grande jogar com esses grandes jogadores. Carregava a chuteira de Gamarra, de Marcelinho Carioca, de Edílson, de Vampeta..."


Índio diz que recebia R$ 1.500 de salário já no profissional do Corinthians. A vida só mudou por causa de Vampeta.


"Ele foi lá na diretoria e mandou aumentar pra R$ 20 mil, daí comecei a estabilizar minha vida. Era como um pai mesmo", agradece o ex-lateral.



!E eu ficava vendo: como é que pode, eu jogando desse jeito, botei os laterais quase tudo do Corinthians no banco, e os caras ganhando milhões. Por isso que digo: eu comecei lá de baixo, pianinho, com humildade, a gente pra vencer na vida tem que ter muita humildade. Eu, como índio, tenho muita humildade até hoje. E por isso aqui todo mundo me ama, a família toda, cento e poucas famílias. E eu tenho muito orgulho disso".

#corinthians #timao #alvinegro #indio #mundial #despedida


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Esse merece todos meu respeito .querero

Olhem só o time da Copa SP de 1999 que, além dele que era lateral direito, tinha: kléber(lateral esq), Gilmar(primeiro volante), Edu(volante de ligação) e Gil, Ewerthon e Fernando Baiano(atacantes). Que timaço!!!

Os comentários do Kleber sao demais kkkkkk

Kleber Vellenev     

Um time só de índios seria mais emocionante que ver os jogos do Corinthians, vai ter à dança dos ancestrais e à dança de guerra antes do jogo? Kkkkkkkk

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