Pedir paciência ao Corinthians de Tite é como ensinar o padre a rezar missa. Provavelmente, trata-se da equipe com maior poder de administrar uma partida no campeonato, o que às vezes a torna até chata. É diferente, por exemplo, da volúpia do Atlético-MG. Raramente, o domínio da situação sai das mãos (e pés) alvinegros.
E como reza o ditado que tudo em excesso faz mal, por vezes o Timão abusa desse controle, recua excessivamente, aposta demais em vantagens insuficientes. Pode estar na descoberta do equilíbrio entre paciência e coragem a chave para deixar o Morumbi vitorioso, domingo.

Enquanto o São Paulo de Osorio está em formação tática e técnica, o Timão está habituado aos dogmas de seu treinador. O adversário, habitualmente, perde o controle e a concentração. O Corinthians, raramente. A formação com Fagner, Felipe, Gil e Uendel; Bruno Henrique; Elias, Renato Augusto, Jadson e Malcom; Vagner Love, está decorada nas mentes. Pode ter uma baixa aqui, outra acolá, como a possibilidade do desfalque de Renato Augusto no Majestoso.

O desafio corintiano no domingo será administrar o ímpeto tricolor para impor seu ritmo. Após um período de péssimo futebol, a equipe tenta voltar a ter a transição rápida do início da temporada. Não há jogadores tão rápidos, mas era notável a velocidade com que a bola saía da defesa, passava pelo meio-campo e terminava no ataque.


Concretizar essa receita, simples na teoria e dificílima na prática, é essencial para aproveitar os espaços que este São Paulo, moldado a ter mais ações do que reações, ou seja, a tentar impor seu jogo, provavelmente vai deixar no meio-campo.

Renato Augusto, com inflamação no nervo ciático e consequentes dores na região do quadril, tem papel fundamental nisso. Se não puder jogar, Rodriguinho, Luciano e Danilo apresentam-se como possíveis substitutos. Ambos têm características diferentes. A engrenagem muda. Não é uma alteração brusca, mas pode prejudicar o plano de ação de Tite.


PLANO TÁTICO

Quando se aproximam, Elias, Jadson e Renato Augusto formam uma das maiores reuniões de talento que se vê em campos brasileiros. Eles trocam de posições, um ocupa o lugar do outro. Marcá-los é uma árdua missão. O problema está à frente... Malcom, o mais incisivo, por formação, da segunda linha de quatro, é um garoto com potencial. Mas um garoto...

E Vagner Love, o mais adiantado, tem se especializado em irritar os torcedores. Ele ainda não se encaixa perfeitamente no quebra-cabeça, parece uma peça solta.

Se o São Paulo jogar com três zagueiros, pelo menos um sobrará no duelo com Love. Se o São Paulo jogar com três zagueiros e seis no meio-campo, poderá levar vantagem numérica em dois setores fundamentais. O Corinthians precisará que Bruno Henrique seja atuante na condução da bola, não se limite a marcar. O volante sabe fazer isso.


Apoio dos laterais será essencial para reverter possível vantagem numérica do São Paulo: 1x3 no ataque, 5x6 no meio


O 4-1-4-1 nada mais é do que uma adaptação do 4-3-3. Muda, sutilmente, o posicionamento dos homens abertos. Se Tite conseguir ter velocidade por ali, poderá matar a sobra são-paulina na zaga e predominar ofensivamente.
Outra alternativa para tentar posicionar seu time em vantagem no campo é usar bastante o apoio dos laterais Fágner e Uendel, ambos em ótima fase. Mas, alerta, há um ônus: deixar as costas a serem exploradas por Bruno e, principalmente, Carlinhos, bom no apoio e nos cruzamentos, inclusive quando corta para o meio e usa o pé direito.

JOGADOR-CHAVE

Elias costuma jogar bem contra o São Paulo. Além desse fator abstrato e de difícil explicação, meio cósmico, dessas coisas do futebol, o volante reencontrou o melhor rendimento depois da Copa América. Voltou a conseguir preencher espaços que o adversário só percebe quando ele já está inteiro na jogada, pronto para concluir ou construir a jogada final.

A formação do meio-campo tricolor é um mistério, o que pode representar certo desentrosamento. Lembram-se do Majestoso da Arena Corinthians, pela Libertadores? Até hoje, os são-paulinos parecem não ter entendido quem deveria ter acompanhado o camisa 7 do Timão. Toloi? Maicon? Enfim, ninguém viu e a bola entrou. As triangulações e a facilidade de enxergar o vazio podem levar Elias ao gol.

Mas será preciso, também, marcar. Michel Bastos e Ganso tornam o São Paulo forte no meio. Elias não pode apenas assistir ao esforço de Bruno Henrique. Aliás, sem "cães-de-guarda" no meio, a compactação defensiva será, novamente, aliada para frear os donos da casa.

FIQUE DE OLHO



Danilo é uma das opções caso Renato Augusto seja vetado pelos médicos. O jogador, talvez, viva seu pior momento técnico no futebol brasileiro. Também parece deslocado da velocidade de movimentos do restante do time. Mas é clássico... E Danilo em clássico costuma ser gol. Seus três marcados neste ano foram sobre os principais rivais – dois no Palmeiras e um no São Paulo. Portanto, impossível ignorar sua presença em campo, ou mesmo no banco. Se o meia, absurdamente vitorioso, for titular, o Timão perde coletivamente, mas ganha uma arma que, além de tudo, vai amedrontar o Morumbi inteiro a cada ameaça de finalização.