16/1/2015 13:41
Para Citadini, 'carteirada' explica grupo de Andrés no poder
Citadini foi o nome escolhido para tentar tirar o grupo de Andrés Sanchez do poder
Antonio Roque Citadini, 64 anos, ex-presidente e conselheiro do Tribunal de Contas de São Paulo. Figura histórica no Sport Club Corinthians Paulista, onde é conselheiro vitalício. Nesta quinta-feira, o jurista anunciou união com a chapa de Paulo Garcia para que seja o candidato da oposição na briga pelo poder da agremiação alvinegra. A missão? Tirar o grupo de Andrés Sanchez do poder após sete anos. E combater a "máquina de diretores e assessores com carteirinhas" imposta pela situação.
"Quando eu digo a máquina, quero dizer um número enorme de diretores que têm ali. É diretor de peteca, é diretor de não sei o que lá. E os assessores, que é um número grande que tem uma carteirinha de diretor ou assessor. Há uma disputa grande por essa carteirinha, que permite entrar no jogo sem pagar, essas coisas. Então quem é assessor ou diretor lá tem essas vantagens, são 400 ou 500 pessoas que são dessa área. Essa talvez seja a maior força do candidato da situação", analisa o próprio Citadini.
Em entrevista exclusiva ao ESPN.com.br concedida nesta semana em sua casa, o ex-vice presidente da gestão de Alberto Dualib falou sobre a eleição do próximo dia 7 de fevereiro, que promete ser uma das mais disputadas da história corintiana. Favorecido pelo apoio de Paulo Garcia, Citadini tem a missão de vencer nas urnas dois candidatos oriundos da situação: o ex-dirigente Ilmar Schiavenato e o ex-diretor de futebol Roberto de Andrade, que tem o apoio de Andrés Sanchez e Mário Gobbi, antes aliados e hoje quase desafetos não declarados.
"A eleição se dá em um parâmetro diferente das outras. A situação está claramente dividida. Não é que nem nas eleições passadas, que você tinha uma situação, uma oposição, e quase sem muitas surpresas. Agora se tem uma situação onde o atual presidente tem divergências claras, divergências diárias, onde tem um grande número de pessoas está questionando. A minha campanha mesmo tem recebido presença grande de gente que votou no Mário Gobbi, no Andrés. Não é segredo para ninguém que uma das pessoas que me apoia é o Luiz Paulo Rosemberg", afirmou Antônio Roque Citadini, que prefere ser chamado pelo segundo nome.
Confira, a seguir, a entrevista de Roque Citadini ao ESPN.com.br
ESPN - Como fica a oposição do Corinthians com essa união?
Roque Citadini - Olha, é evidente que a oposição fica mais forte, porque hoje nós tínhamos dois candidatos que disputavam área muito próxima, e acho que isso fortalece a oposição. Vejo que haverá grande empenho do nosso pessoal, o empenho será maior e acho que ficou bem mais forte.
A minha campanha é uma campanha de 40 dias e tem uma vantagem que sou uma pessoa conhecida, o que facilita muito a campanha. O sócio do Corinthians, quando eu me apresento ou alguém me apresenta, a pessoa imediatamente reconhece.
Boa parte sabe do que eu penso. Tem a facilidade de que eu acabo sendo um nome com uma identidade clara entre os corintianos e isso facilita, obviamente. Tem a desvantagem que faço a campanha há menos de 30 dias, então terei uma campanha de 45 dias, o que é pouco comparado aos demais, mas será o ideal.
ESPN - O fato de ser já bem conhecido do público te ajuda?
Roque Citadini - Na verdade é o que eu falei. As pessoas, os sócios do clube, me identificam com o Corinthians.
Sabem o que eu penso, o que eu falo, o que eu farei, pois sou uma pessoa muito previsível. Não sou uma pessoa que muda de opinião ali na frente. Sou de certa forma previsível e isso é uma vantagem. Você fala com qualquer corintiano no meu nome e ele já sabe quem eu sou.
ESPN - Como se sobressair sobre um candidato apoiado pelo Andrés Sanchez, que ganhou força nos últimos anos?
Roque Citadini - A questão básica do candidato da situação é a máquina, que é importante. Quando eu digo a máquina, quero dizer um número enorme de diretores que têm ali.
É diretor de peteca, é diretor de não sei o que lá, e os assessores, que é um número grande que tem uma carteirinha de diretor ou assessor. Há uma disputa grande por essa carteirinha, que permite entrar no jogo sem pagar, essas coisas.
Então quem é assessor ou diretor lá tem essas vantagens. Então a máquina da situação parte com esse número que cada um fala, 400 ou 500 pessoas que são dessa área. Essa talvez seja a maior força do candidato da situação, que é a máquina da situação. A eleição se dá em um parâmetro diferente das outras. A situação está claramente dividida.
Não é que nem nas eleições passadas, que você tinha uma situação, uma oposição, e quase sem muitas surpresas. Agora se tem uma situação onde o atual presidente tem divergências claras, divergências diárias, onde tem um grande número de pessoas questionando, a minha campanha mesmo tem recebido presença grande de gente que votou no Mário Gobbi, no Andrés.
Não é segredo para ninguém que uma das pessoas que me apoia é o Luiz Paulo Rosemberg, que foi diretor, vice, e eu diria que foi um dos primeiros. O Andrés e ele, em matéria de importância. Então esse é um fato novo.
Uma parte significativa da situação deixou a situação. Mas a oposição também está diferente, pois o fato de ter dois candidatos de origem de oposição já é uma coisa diferente.
O Ilmar também era diretor da situação, que deixou há pouco. É uma eleição que se dá em um quadro bem diferente. Tanto é que na eleição passada o Mário Gobbi tinha que continuar essa gestão do Andrés.
O Mario Gobbi era a continuidade da obra do Andrés, que estava começando a fazer o estádio e que acabava atraindo bastante apoio. Hoje, por exemplo, nem o candidato da situação sai com o Mario Gobbi. O Mario não sai andando para lá e para cá com o Roberto de Andrade, diferentemente do que fazia o Andrés com o Mario. Já é uma situação diferente.
ESPN - A situação está enfraquecida com esse racha?
Roque Citadini - Que enfraque, enfraquece, não há a menor dúvida. E nós já estamos vendo claramente que enfraquece. Aquele conjunto de pessoas que apoiava o Andrés e depois o Mario, que organizava os encontros e debates, hoje você vê que a situação pouco faz isso. Tem feito reuniões pequenas, boa parte do pessoal está desanimado. Então não há dúvida que essa briga afetou.
ESPN - Como lidar com a influência do Andrés no clube?
Roque Citadini - Acho que isso é exagero. O Andrés é hoje deputado e tem um mandato a cumprir. É deputado do partido do governo e terá obrigações a cumprir a partir de 1º de fevereiro lá em Brasília. Ele nem tempo terá para tudo isso que estão falando.
ESPN - O que achou do Roberto estar negociando?
Roque Citadini - Eu não sei. Mas a minha impressão é que o Roberto negociou muito pouco. Foi divulgado à mídia que era o Roberto que estava negociando, mas eu não acho que era o Roberto. Todas as negociações que você vê diz que o Roberto negociou, mas aí vê e o Roberto nem estava.
Isso é tudo uma questão eleitoral. Pois com o desgaste da situação, uma das coisas que eles imaginavam é que se anunciava várias contratações e isso ganharia apoio. 'Ah, o Roberto vai contratar o Dudu, o Roberto está negociando fulano'. Parecia que ele estava em uma intensa negociação por todos os lados. Mas como sabemos não estava, só que acabou sendo usado isso para efeitos eleitorais.
ESPN - E o fato de essas contratações terem naufragadas a maioria?
Roque Citadini - Acho que algumas dessas naufragaram pois havia uma enorme precipitação em anunciar algo como se o Roberto tivesse feito, embora não tivesse terminado o negócio do Jonas, o do goleiro de Santa Catarina. Então houve precipitação.
ESPN - Você sempre diz que sua gestão tem como prioridade equilíbrio entre receitas e despesas. Pode explicar?
Roque Citadini - Como regra, o time que não está com as finanças bem não ganha títulos. O pressuposto para ganhar título é estar com as financas em dia. Contratar serviços, pagar salários em dia, então o clube não pode ficar carimbado na praça como um clube que faz contrato e depois não tem dinheiro. Esse é o caminho para não ganhar nada. Por isso digo que a primeira coisa que temos que fazer é acertar as finanças, e aí o time dispara.
ESPN - Como acertar as finanças de um clube com endividamento de R$ 270 milhões?
Roque Citadini - É uma situação financeira difícil, tanto é difícil que os candidatos da situação não querem nem discutir a situação do clube. Então é difícil. Eu não sou daqueles que diz que o Corinthians está falido, quebrado.
Essa situação quando estava em campanha fazia essa campanha monstruosa. O Corinthians tem uma situação difícil, principalmente situação difícil de caixa. Mas com juízo consegue botar tudo isso em dia. Chegou a esse ponto porque o departamento de futebol perdeu a mão.
Começou a fazer contratações caríssimas, renovações de contrato caríssimas, pagou comissão para compra, venda e até empréstimo de jogador. Quando começa com essa generosidade de gastar e não pensar lá para a frente é comum dar no que está dando. Na hora que as pessoas sentiram que o Corinthians estava com dinheiro, o clube acabou perdendo a mão. Empresário quer ganhar dinheiro. Cabe ao clube tomar cuidado e não se submeter.
ESPN - Você sempre diz que os jogadores da base têm que ser 100% do Corinthians. Como fazer isso?
Roque Citadini - Agora temos uma situação boa. A Fifa proibiu a participação de empresários nos direitos dos jogadores. Quem quiser jogador ou o clube contrata ou monta um clube. Essas pessoas não estão impedidas de ter jogador. O Bertolucci por exemplo pode montar um time, colocar os jogadores dele, não há problema. O que o Corinthians já devia ter feito é assumir a regra da Fifa. Os empresários dizem que não ligaram, mas ligaram muito para essa norma da Fifa. Se o sujeito tem um clube em que a única receita é compra e venda de jogador ele será impedido de participar.
ESPN - O Fernando Garcia, conselheiro vitalício e irmão do Paulo Garcia, tem porcentagens do Malcom e de outros jogadores e, segundo o estatuto, é proibido. Como vai agir nesse caso em específico?
Roque Citadini - Não entro muito nessa questão por um motivo muito simples: conselheiro ou não conselheiro o clube não deve partilhar com empresário. Está lá o Carlos Leite, presença constante nos últimos anos. O Giuliano Bertolucci. Mas o culpado é o clube que aceita fazer esse tipo de coisa. O time da Copa São Paulo é praticamente inteiro. Não tenho dúvida de que dá para fazer esse tipo de trabalho. A próxima gestão vai sofrer com isso, mas vai colher lá para a frente. O clube não tem que pensar em termos de três anos, tem que pensar na sua história
ESPN - O contrato do Guerrero vai acabar e ele já pode assinar qualquer pré-contrato. Como vai tratar essa questão?
Ainda mais com o fato de os empresários dele serem os mesmos do Dudu, que criticaram o Corinthians e pedem altas comissões?
Roque Citadini - Quem tem que pagar a comissão do contrato é o jogador, não o clube. O empresário pode pedir quanto quiser, o Corinthians tem que pagar o que tem condição de pagar. Não sei se dá para pagar o que o Guerrero pede, precisa ver como está o dinheiro lá. O clube pode pagar pouco ou muito, desde que possa.
ESPN - Alexandre Mattos chegou causando uma revolução no Palmeiras. Pensa em ter um diretor parecido?
Roque Citadini - Não sei. Que nós devemos fazer uma gestão profissional eu não tenho dúvidas. Agora esse negócio de chegar diretor e contratar duzentos jogadores tenho minhas dúvidas se é o caminho. Esse negócio do Palmeiras vamos ver no pós. Agora todo mundo é craque, aplaudido, depois você resolve os problemas. Não há dúvida de que precisa ser profissional. Eu conheço bem o futebol.
A condição desse cargo é uma só: que seja um gerente do clube. Não pode ser amigo de empresário. Não tem que fazer negócio para agradar amigo. É um cargo de sujeito briguento. Tem que brigar com a camisa do Corinthians.
É fundamental isso, pois é um lugar muito complicado. Quando o sujeito não tem isso na cabeça começa a dizer que 'não, tenho aí um parceiro'. Não tem essa de parceiro.
Empresário tem interesses conflitantes com o seu. Então a condição fundamental é ele ser alguém que incorpore o clube. Hoje em dia os empresários criam muito barulho, valorizam muito.
Você vê aí 'estamos comprando fulano de tal', como se fosse um grande jogador. A seleção, tirando o Neymar, se for convocado ou não acho que não tem injustiça nenhuma. Zero.
Jogador que foi para lá com 15, 16 anos geralmente é um horror. Se é beque dá chutão para frente, se é atacante não faz o que os que jogam aqui fazem. Incrível dificuldade.
Então esse barulho todo de que está contratando fulano de tal, em geral voltando da Europa, você vai ver e o que é isso?
Vejo times brigando por jogador, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, estão brigando por quase nada. Se estivessem brigando por um Rivelino, um Romário, um Ronaldo, tudo bem. Mas não tem porque brigar com São Paulo, Palmeiras ou Santos pelos jogadores que estão aí hoje. É tudo igual.
ESPN - O Corinthians tem que pagar o estádio e, segundo noticiado, a primeira parcela seria de R$ 100 milhões. Está preparado?
Roque Citadini - Não sei se a primeira parcela é R$ 100 milhões. Há divergências. Não quero entrar no valor, mas é simples. O estádio foi uma grande coisa para o Corinthians. É um belíssimo estádio, uma arena maravilhosa, para qualquer um assistir jogos naquela arena é uma beleza.
Lá você vê tudo. Tem cadeiras, banheiros, estacionamentos, duas estações de metrô que desembocam dentro do estádio. É maravilhoso. O clube fez muito bem, aproveitou a Copa do Mundo, construiu bem o estádio, vai pagar. Não construímos o estádio pensando em não pagar. Essa coisa de que o Corinthians foi ajudado é tudo lorota. Problema terá, em algum momento terá dificuldades e um certo aperto, mas é um aperto que vale. Virou uma arena que é um alçapão, duro de ganhar do Corinthians. Queriam fazer estádio de graça, tem que pagar e vamos pagar.
ESPN - Como deve ser a administração da arena?
Roque Citadini - Tem que ser moderna, que explore bem o estádio, acho que temos que vender ingressos só pela internet, exclusivamente pela internet, priorizando o programa do Fiel Torcedor, tendo ingressos baratos e caros, pois precisa de ingresso caro, de VIP, então o estádio bem explorado será uma beleza. Sobre a faixa de preços seria uma temeridade falar disso nesse momento. Essa fase inicial é de percalços e dificuldades. O estádio precisa terminar uma parte ou outra, mas isso supera, é uma coisa importante.
ESPN - E quanto aos naming rights?
Roque Citadini - Como houve a Copa do Mundo, talvez tivesse sido melhor fazer antes da Copa. Mas não foi possível, vai se fazer e se receber o tanto que o mercado puder pagar. Não dá para falar que quer um valor e mercado nenhum quer. Então o que não pode é ficar fazendo isso como se fosse campanha eleitoral. Isso é muito ruim.
ESPN - Como será sua relação com os presidentes rivais? Relação de 'coirmãos'?
Roque Citadini - Não conheço Aidar e Nobre. Aidar se troquei duas palavras é muito. Mas será uma relação normal, cordial e distante, pois não somos do mesmo time, somos de times diferentes. Pode ser uma relação cordial, mas distante. Isso de coirmão não existe. Ninguém é irmão, nós somos adversários. Tem que tratar como adversário.
ESPN - E sua relação com as organizadas, como é?
Roque Citadini - Fui quatro anos diretor de futebol e não tenho nenhum problema. Acho que a torcida organizada não deve ser nem perseguida e nem privilegiada. Não tem nada de achar que eles devem botar para fora, isso é tudo bobagem, como não deve achar que eles devem ter tratamento diferente dos outros torcedores. Tem que ter um tratamento cordial igual aos outros torcedores, nada mais. Se for conversar com a diretoria não tem problema. O que não concordo é organizada ir conversar com jogador. O torcedor acha que tem solução para tudo. É natural então essa coisa de falar em raça e tal, é coisa do torcedor, tem que entender. As pessoas vivem o Corinthians. No mais, é ter uma relação cordial.
ESPN - Para finalizar, por quais razões o Roque Citadini tem que ser o presidente do Corinthians?
Roque Citadini - Uma candidatura tem que ter, na minha opinião, duas coisas. Primeiro um conjunto de ideias, um conjunto de propostas para o clube. Segundo, tem que ter um apoio bom para levar isso aí. Eu tenho essas duas coisas hoje. Sou a pessoa com opiniões mais claras sobre tudo. Categoria de base, sobre acabar com o chapão.
As pessoas sabem minhas opiniões, até os que não concordam, e tenho um bom apoio. E no meu caso tenho uma história muito ligada ao Corinthians. Em qualquer lugar que eu vou as pessoas me identificam com o Corinthians.
Eu fui quatro anos diretor e estou há 10 anos fora, teoricamente as pessoas poderiam esquecer. Eu fui diretor em épocas boas, más, com e sem título, mas normalmente diretor de futebol no Corinthians não aguenta tanto tempo. Foi uma coisa pouco comum.
VEJA TAMBÉM
- OLHO NA TABELA! Situação dos times atualizada após empate do líder Timão
- Estreia na Libertadores: desafio diferente para o Corinthians após empate com Portuguesa.
- BRILHO DO ARTILHEIRO! Talles Magno se destaca em clássico entre Portuguesa e Corinthians; compra o atleta?
6048 visitas - Fonte: ESPN
Mais notícias do Corinthians
Notícias de contratações do Timão
Notícias mais lidas