24/5/2017 09:35

Novo gerente escreve cartilha para dar identidade à base do Corinthians

Yamada quer padronizar o jeito de jogar das equipes inferiores do Timão. Ex-goleiro diz que escândalos do departamento amador ficaram para trás: "Nossos princípios são inegociáveis"

Novo gerente escreve cartilha para dar identidade à base do Corinthians
Fernando Yamada realizou seu maior desejo profissional quando, há 50 dias, foi anunciado como gerente geral do departamento de formação do Corinthians, acumulando também a função de coordenador técnico.

Ex-goleiro do Timão e com experiência na base do Audax, ele iniciou o seu trabalho fazendo mudanças no organograma, atacou algumas carências diagnosticadas nos primeiros dias e, agora, está perto de divulgar um trabalho que tem consumido boa parte de seu tempo: uma espécie de cartilha com uma metodologia de trabalho única para todas as categorias, do sub-11 ao sub-20.

– O livro tem a ver com a característica de cada posição e com o trabalho de treinamento para cada categoria. E com a identidade do Corinthians. Minha ideia é que quando alguém estiver na arquibancada vendo um jogo da base, reconheça o Corinthians pela forma de jogar, pelos princípios de jogo – disse ele, que já entregou o documento para o técnico Fábio Carille, do profissional, fazer as suas observações.

Em papo com o GloboEsporte.com, o ex-jogador de 38 anos falou sobre as primeiras mudanças implantadas no departamento, como a atuação de um conselho técnico nas tomadas de decisões e a elaboração de relatórios quando atletas transitam por categorias. Sobre as polêmicas vividas pelo departamento em 2016, garantiu que elas não voltarão a existir.

– A política do clube é real, não tem como a gente não reconhecer, o Corinthians tem uma política muito forte. Você tem de saber administrar isso, desde que não você negocie seus princípios. Não quero e não posso. Nossos princípios são inegociáveis.

Confira o papo completo com Yamada:
Neste início de trabalho, qual foi o principal ponto a ser atacado?
O nosso departamento de captação era o ponto mais crítico, eram poucos profissionais. O primeiro passo foi aumentá-lo. Nossa marca é muito forte. Precisávamos colocar mais profissionais e adotar estratégias de dentro para fora. Buscar atletas no futsal, na Grande São Paulo, no interior. Um bom jogador paulista tem que pisar aqui. E criar pontos estratégicos em outros estados, por isso contratamos Adil, um ex-jogador do Corinthians em Minas Gerais.

Temos o Alysson Marins como coordenador. E os técnicos do sub-9, sub-11 e sub-13 e os auxiliares do sub-11, sub-13 e sub-15. Além do Márcio Bittencourt, que é o nosso observador técnico. Ele vai transitar nesse departamento para validar o jogador. E acabamos de fechar com o Gilmar Fubá, que ficará em São Paulo, mas poderá viajar quando for preciso.

Como são tomadas as decisões no Corinthians?
Criamos um conselho técnico. Vamos aprovar ou reprovar tal jogador? O conselho que decide, não vai ser só o treinador da categoria. Seremos eu, o treinador, o auxiliar, o Alysson e o Márcio. Vamos fazer contrato profissional para tal jogador aos 16 anos? Vamos contratar outros atletas para a categoria? Vamos liberar um jogador que não performou? O conselho decide tudo isso.

O que esse tipo de decisão em conjunto evita?
Você não corre risco de ter uma decisão tomada com interesse pessoal. Não falo no sentido de maldade. Mas às vezes um jogador tem maturação precoce, lá no sub-15 ele vai atender a demanda e resolver o problema do treinador, só que ele tem não tem perspectiva de pisar na categoria de cima e muito menos no profissional.

É aquele cara que já maturou, já chegou no limite. Então o conselho toma a decisão e não só o treinador. Por que você vai ficar postergando uma decisão que pode tomar hoje? O jogador que entra aos 14 e fica até o sub-20 tem um custo.

A ordem da presidência é cortar gastos na base?
Um dos nosso desafios é enxugar. Só que já detectei que não é no quadro de funcionários que se enxuga. Tem várias equipes do país com comissões técnicas no ano ruim: sub-14, sub-16, sub-18.

O quadro de funcionários é até maior que o nosso. O problema aqui são atletas com contrato profissional que você já detectou que não têm projeção no clube, o que gera custo.




O que fazer com esses jogadores sem perspectiva, principalmente no sub-20, que não possuem qualidade suficiente para chegar ao profissional?
Não temos condições de chama-los e rescindir pagando 100% do contrato. A alternativa é emprestar. Tem bastante clubes parceiros, Márcio Bittencourt tem cuidado disso. Às vezes, só de tirar o cara do ambiente já te dá um ganho pelas despesas variáveis. O jogador do time B também machuca, usa transporte, precisa de alimentação, desgasta o campo. Tem que blindar o time A. O sub-20 está a um passo do profissional, você não pode dividir a qualidade do trabalho e da estrutura. E tem a questão financeira. Se um time paga 50% do salário, já te desonera a folha.

Quantos jogadores acredita ser o ideal para uma equipe sub-20, por exemplo?
O cenário ideal para o time A é de 26 a 28 atletas, sendo quatro goleiros. Porque tem o processo de estar sempre transitando jogador na base. Nos times A estamos fazendo esse trabalho até para qualificar o treino, senão jogador fica ocioso, desmotivado, atrapalha o treino. Tem que enxugar. Nos times sub-15 e sub-17 temos os times B. Porque tem jogador que se cadastra no site para fazer teste, passa pelo primeiro funil e fica uma semana. Se performar, vai para o time B, onde tem mais uma semana. Se continuar bem, aí tem a chance de chegar ao time A.

Como qualificar a formação dos atletas?
O sub-20 eu estou encarando como profissional. Do sub-17 para baixo é formação. Os treinadores vão ser cobrados para isso. Uma coisa nova é que quando um jogador do sub-15 for treinar um período no sub-17, por exemplo, no momento que retorna para a categoria de origem virá com um relatório. E depois de alguns meses, quando voltar para aquela categoria, será analisado se ele evoluiu ou não nos pontos negativos. A partir disso vou cobrar o treinador. Ele tem que atacar as deficiências que a categoria de cima diagnosticou. Vamos supor: o Marcelo tem deficiência na tomada de decisão e a finalização dele é ruim, o gesto do corpo é equivocado. Três meses depois, o mesmo relatório será feito. Se o jogador persistir nas falhas, vamos sentar com o treinador e ver: onde está o erro? Na captação ou ele não está evoluindo na sua mão? Você tem ferramentas para cobrar.

Frequentemente, alguns jogadores do sub-20 sobem para treinar no profissional. Vai ter esse relatório também do departamento profissional?
Não tenha dúvida, já falei com o Fábio Carille e ele concordou. Jogamos juntos no Corinthians em 1996. O mesmo processo feito na categoria sub-13 quando um atleta vai para o sub-15 também vai acontecer quando o sub-20 pisar no profissional.

Que outro tipo de inovação vocês estão implantando?
Uma das ideias foi eleger um coordenador para cada função técnica. Trouxe o Leandro Idalino, que era do Audax, para ser o treinador de goleiros do sub-20 e também o coordenador da preparação dos goleiros. É preciso ter processos. Na preparação física, o Flávio Furlan, do profissional, será o coordenador de todas as categorias. Além disso, hoje nossos funcionários ficam full time no clube. O sub-13, por exemplo, só treina de manhã. Então o Célio Silva (auxiliar) essa semana está trabalhando com os zagueiros do sub-17 no período da tarde, por exemplo. Há intercâmbio.

Existe um carinho especial com a parte técnica dos jogadores?
O brasileiro sempre foi muito bom tecnicamente. Quando começamos a copiar o que se faz na Europa, perdemos um pouco da nossa identidade. O que estamos defasados é na forma de jogar, na intensidade do jogo. Mas no critério técnico sempre fomos acima da média. Perdemos isso. Nas categorias menores, deixamos de trabalhar os critérios técnicos. Estamos colocando no nosso livro de metodologia do trabalho que nos sub-9 e sub-11 o garoto será obrigado a trabalhar a perna ruim. Não consigo ver um jogador chegar no profissional e não ser ambidestro. Até os 15 anos, queremos trabalhar muito os aspectos técnicos, dar muita ênfase no treino analítico e no treino integrado.
Nisso que entra o ex-jogador, que dá o exemplo praticando.

Vi recentemente o Célio Silva fazendo isso com um garoto do sub-13 e achei fantástico. Ele antecipou o menino no treino para fazer o movimento de cabeceio. Célio tem estatura média, mas tinha uma bola aérea fantástica, um tempo de bola e um gesto perfeito. Queremos mostrar isso. Estou buscando um ex-jogador no mercado que possa fazer o mesmo com jogadores do meio para frente.

Como será esse livro metodológico da base?
Tem a ver com característica de cada posição e com o trabalho de treinamento para cada categoria. E com a identidade do Corinthians. Minha ideia é que quando alguém estiver na arquibancada vendo um jogo da base, reconheça o Corinthians pela forma de jogar, pelos princípios de jogo. O Corinthians sempre vai propor o jogo, não dá para jogar na retranca, não vamos abrir mão. Outro exemplo: saída no chão. O time nunca vai rifar a bola desde o tiro de meta, vamos usar os zagueiros para construir. Jogo vertical, jogo apoiado e ultrapassagens são alguns princípios que estão neste documento. Ele já está nas mãos das comissões técnicas e Fábio Carille também vai avaliar. Devemos oficializá-lo em breve.

Recentemente, o sub-20 contou com uma rápida passagem do técnico Pepinho, que foi substituído por Coelho, que era o seu auxiliar. Como foi esse processo?
Quando cheguei, Pepinho já havia sido contratado. Existia muita diferença no trabalho que vinha sendo executado em relação ao trabalho de sucesso do Osmar Loss. Pegamos alguns dados de fisiologia e preparação física e a intensidade havia caído muito também. Os atletas estavam acostumados com uma liderança, e o Pepinho tem um perfil diferente. Achamos melhor tomar essa decisão, não podíamos ficar reféns apenas do resultado. E a efetivação do Coelho era um processo natural, é um prata da casa, estava há mais de dois anos como auxiliar e se sentia preparado. Vimos no dia a dia que os jogadores respeitam muito ele. Coelho tem um perfil de treinador. Foi um processo de continuidade do trabalho do Osmar Loss.



Como mudar a imagem da base depois de tantos problemas políticos e escândalos?
Quando mudarmos para o CT do Parque Ecológico, muitos dos problemas serão resolvidos ao automático, pois lá só vai entrar quem fizer parte do processo. A política do clube é real, não tem como a gente não reconhecer, o Corinthians tem uma política muito forte. Você tem de saber administrar isso, desde que não você negocie seus princípios. Não quero e não posso. Nossos princípios são inegociáveis. O jogador com potencial terá condição de performar. O que não tiver e vier por indicação, vai ter oportunidade de tentar, até para não poder dizer que não teve. A porta sempre vai estar aberta para avaliações. Na hora que for passar para outro degrau, o conselho avalia. Só pisa no time A quem tem condição de estar no Corinthians. Quando me chamaram, o Nei Nujud, o Jassa (Jacinto Antonio Ribeiro, diretor-adjunto) e o Nenê (Carlos Roberto Auricchio, assessor) foram claros, disseram que estão aqui porque gostam do Corinthians. Só aceitaram o desafio porque a categoria de base chegou numa fase que precisa ser resgatada. Todo mundo hoje se acha no direito de falar mal da base, virou motivo de chacota. Eles falaram que estão aqui para resgatar a identidade do Corinthians.

Isso também é o seu objetivo?
Queremos resgatar essa credibilidade. Esse documento metodológico que estamos fazendo o clube nunca teve. Os jogadores chegaram ao profissional porque tinham muito potencial, porque existia carência na posição, mas estendemos que pela grandeza o Corinthians podia ter muito mais jogadores da casa. Quando o processo tiver começo, meio, fim e estiver em sintonia com o profissional, não tenho dúvida que vamos revelar muito mais. Tudo isso deve ser feito sem abrir mão dos nossos princípios. Quando isso acontece, você perde o comando. Jogador não é bobo, as comissões muito menos. Isso é nosso alicerce. O processo é sério. Sou muito grato ao Corinthians, tudo o que tenho devo ao meu período no clube. Nessa gestão, não vai ter isso.


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15210 visitas - Fonte: Globo Esporte

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Boa sorte garoto...Vai CORINTHIANS

nao gosto desse negocio de cartilha, ja nao tem o tecnico

esses vagabundos safados tem e q parar de tercerisa a base do timao. e o time com a melhor base do pais mais os jogadores e tudo dos empresarios. quando sao vendidos o timao fica quase sem nada.

vamos aguqt aguardar na prática se tudo isso vai funcionar. falar e ótimo mad melhor ainda é fazer.

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